1973, o ano glorioso da MPB
“O ano de 1973 foi um caldeirão; todo mundo tinha o que falar e muita coisa sobreviveu nesses 40 anos devido à qualidade”. É assim que o jornalista Célio Albuquerque resume a importância da escolha do período para o livro 1973 – O Ano que Reinventou a MPB, lançado nesta quinta-feira (23), na Livraria da Travessa do Shopping Leblon, na Zona Sul do Rio. A obra, publicada pela Sonora Editora, reúne resenhas de shows, críticas, análises e textos sobre álbuns da época, tudo organizado por Albuquerque, que traz a paixão pela música brasileira desde a adolescência.
“O ano de 1973 é importante por ter lançado tantos títulos singulares da história da MPB, como o primeiro disco do Secos & Molhados, de Gonzaguinha, de Luiz Melodia, Fágner, entre outros. O cenário, nesse ano, era muito rico e surgia depois da era dos festivais, quando as pessoas diziam que a MPB não existiria sem eles. Muito pelo contrário. Esse ano tinha uma força que nenhum dos outros anos depois dos festivais teve. As pessoas não se preocupavam em fazer música para vender, ou para ganhar festivais, mas em fazer apenas (boas) músicas”, declarou o jornalista ao Vai Lendo.
Do total de 50 discos resenhados na obra, pelo menos, a metade compõe o acervo pessoal de Albuquerque. Ele, que também é produtor musical, contou ainda que a ideia para reunir esse material para um livro surgiu em 2012, ao perceber que vários discos importantes na história da MPB faziam aniversário. Juntando o próprio conhecimento e a paixão pela música com a bagagem de outros amigos jornalistas que atuam nessa área, Albuquerque ressaltou que o objetivo era apresentar justamente uma “resenha jornalística e pessoal, de pessoas que gostassem, de fato, do disco que estavam analisando”. Com isso, ele e os demais autores de 1973 – O Ano que Reinventou a MPB esperam que as pessoas possam viajar e se informar nesse período da música brasileira. E engana-se quem pensa que o jornalista prega o saudosismo por achar que, hoje em dia, “não se faz mais música como antigamente”. Para ele, muitos músicos de gerações mais “atuais” apresentam trabalhos igualmente significativos para a história da MPB.
“Queremos que as pessoas comecem a pensar que a história da música brasileira é construída de passado, presente e futuro. Não cabe dizer que a música de 1973 é melhor do que a de hoje. Cada tempo é um tempo. Hoje, também são feitas muitas coisas legais, temos trabalhos muito bem construídos, como os do Lenine, do Paulinho Moska, que vieram depois desse período e são consistentes. Eles, inclusive, ultrapassam o limite da elite e do popular. O ano de 1973 foi diferente porque todo mundo se libertou da ideia de um único movimento e foi para frente. Cada um percebeu que tinha que fazer o melhor de si, portanto, eles foram lá e fizeram”, concluiu.
O também jornalista e crítico musical, Ricardo Schott, um dos colaboradores do livro e autor da resenha sobre o segundo disco de Guilherme Lamounier, revelou ao Vai Lendo um fato curioso sobre o seu objeto de análise e disse também que esse projeto exalta um novo momento interessante da música popular brasileira, naquele período.
“Esse, talvez, seja um dos discos menos conhecidos e, até mesmo, celebrados do livro, até porque nunca foi lançado em CD. É um dos meus preferidos e tem uma história muito interessante, e eu até diria esperando para ser revelada. Lá fora, o Guilherme é muito cultuado e, se você for procurar pelo disco na internet, ele chega a custar até 200 dólares, mas ele só é dado, compartilhado, em MP3, e o Guilherme não ganha nada com isso. É coisa de fã mesmo. Gostei muito de participar desse projeto, até porque estou para lançar outro livro, em parceria com um amigo meu da área, em março, sobre os Heróis da Guitarra Brasileira, por mostrar um pedaço da história da nossa música. Esse foi um ano importante, se pararmos para pensar, porque, talvez, tenha surgido a segunda leva mais interessante de artistas da MPB, com muitas novidades. Antes, nós tínhamos Gil e Caetano, por exemplo, que são mais associados a 1968″, explicou Schott.