Projeto leva livros aos leitores de bicicleta
Os livros sempre serviram de inspiração para aqueles que sabem como mergulhar em suas páginas e absorver suas histórias. Melhor ainda é quando, dessas páginas, sai uma ideia disposta a ajudar a promover a leitura e a formar novos leitores e principalmente mostrar que a imaginação (com um pouco de boa vontade) pode te levar trocar experiências com alguns de seus autores preferidos. Que o diga o estudante Lucas Garcia Nunes, mestrando em Cultura e Territorialidades da UFF, que encontrou nas pesquisas do poeta Mário de Andrade a inspiração para iniciar o seu próprio caminho, a partir do projeto “Ciclista Aprendiz”, baseado na obra do autor O Turista Aprendiz. Com a iniciativa, ele ajuda a difundir um de seus hábitos preferidos, a leitura, para milhares de pessoas que ainda não têm acesso a grandes clássicos da literatura.
Em seu projeto final de graduação, Lucas recebeu do seu orientador a sugestão que seria o pontapé inicial do “Ciclista Aprendiz”. Ao ter que incluir O Turista Aprendiz para a bibliografia de seu trabalho, ele teve a ideia de redesenhar os caminhos de Andrade – que documentou os patrimônios culturais do Brasil – com sua bicicleta, começando pelo interior de São Paulo, onde cresceu. Para este caminho, o livro escolhido foi Mário de Andrade, cartas de trabalho. Agora, ao lado de Leandro Vello e Stefano Moloni, os Diretores de Criação que abraçaram o projeto ao conhecer o seu idealizador, no início do ano, Lucas foi além e a iniciativa é dividida em três ações: “Os Contos de Bicicleta”, “Os Caminhos de Mário de Andrade” e o carro-chefe do Ciclista Aprendiz, a “Cicloteca”, que roda por toda a cidade de Niterói. Todas elas buscam levar os livros e suas histórias às mais diversas pessoas.
“Os ‘Contos de Bicicleta’ são histórias contadas pelas pessoas que usam ou que tem a bicicleta no imaginário”, explicou Lucas ao Vai Lendo. “A ideia nasceu de um conto de Mário de Andrade, no qual ele observa um ciclista na cidade do Rio de Janeiro. A ‘Cicloteca’, por sua vez, é o carro-chefe do projeto atualmente, inspirada também no Mário. Em 1935, ele era coordenador do Departamento de Cultura e incentivava a prática da leitura através de uma biblioteca itinerante (caminhão) que rodava as praças de São Paulo emprestando livros (recém comprados pela Divisão de Bibliotecas). Gostamos sempre de lembrar que São Paulo, em 1930, não contava com uma política pública de educação, e muitas pessoas não tinham hábitos de leitura e cultural. E, por último, temos os ‘Caminhos de Mário de Andrade’, que estão sendo pesquisados e acreditamos que, em breve, serão inaugurados. A princípio, deve ser o do Rio de Janeiro, pois isso exige uma maior produção e remuneração, uma vez que envolve outros profissionais, como atores, músicos, produtores, turismólogo, entre outros”.
Lucas também foi o responsável pelo Edital da UFF intitulado “Produtos Estudantis”, com duração de sete meses, cuja verba é exclusiva para a Cicloteca e contempla as ações nas quais ela está envolvida, como a composição do acervo, a estante, plotagem, folder, marcador de livro e revisão da bicicleta. Mas para seguir com o apoio é preciso divulgar o Edital, bem como os resultados da Cicloteca, numa apresentação que já está marcada na agenda acadêmica, durante a Semana Nacional de Ciências e Tecnologia. O projeto, ressaltou o mestrando, é realizado apenas como uma forma de realização pessoal de poder tornar a leitura acessível ao maior número de pessoas.
“Os livros são universos paralelos, ao mesmo tempo em que também atuam como os ‘terapeutas’ de nossas vidas”, ressaltou. “Eles trazem soluções, questionamentos e provocações para refletirmos nossos acertos, erros e os próximos passos. É só escolher um livro. Essa pergunta é sempre discutida quando saímos com a Cicloteca. O livro faz pensar. Ele vai com você (se você quiser), a partir de uma escolha sua! É uma forma diferente das outras artes. Você carrega o livro e o livro te carrega. Nos faz pensar no outro e em várias perspectivas para diferentes situações. A ideia não é expor simplesmente uma placa com os dizeres ‘livros GRÁTIS!’, mas fazer com que as pessoas quebrem as barreiras que existem e cheguem até os livros. Quando alguém se interessa e abre um livro, avisamos que são gratuitos, mas as pessoas desacreditam! Nossa última saída, por exemplo, foi um sucesso. Uma cafeteria de Niterói até sugeriu servir café na Cicloteca”.
Até o momento, já foram doados cerca de 250 livros, a maioria clássicos de Kafka, Hess, Orwell, Mário de Andrade, Cecilia Meireles, Suassuna e Jorge Amado, mas o trio pretende ampliar esses números em pouco tempo. Todos podem participar da iniciativa doando seus títulos. Lucas disse ainda que, devido à logística, ainda é complicado levar a Cicloteca para outros lugares (fora de Niterói), apesar de eles terem sido muito bem recebidos em Paquetá, no mês passado, no samba que acontece na ilha. Nesta quinta-feira (21), completa-se um ano da primeira viagem realizada pelo Ciclista Aprendiz, e os meninos não poderiam querer presente melhor do que a adesão de cada vez mais pessoas para ajudar a levar os livros a leitores sedentos por histórias fascinantes e personagens inspiradores.
Saiba mais sobre o projeto:
Site: http://www.ociclistaaprendiz.uff.br/
Facebook: www.facebook.com/ciclistaaprendiz
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