O Golem e o Gênio, de Helene Wecker | Resenha
‘O Golem e o Gênio’: duas criaturas diferentes, mas com uma história fantástica
A obra de Helene Wecker, publicada no Brasil pela editora Darkside, O Golem e o Gênio – uma fábula eterna é o foco desta resenha.
Esse livro me chamou a atenção pela sua história realmente fascinante, a qual devo dizer que achei maravilhosamente peculiar. Este é o tipo de livro cuja história não pode ser tida como comum. E foi um dos fatores que mais me agradou, devo dizer.
A trama se foca em dois personagens: um golem e um gênio, como o próprio título já diz. E esse primeira aspecto já foi o suficiente para chamar a minha atenção, uma vez que eu nunca havia tido a experiência de ler uma obra que se voltasse para esse tipo de personagem e para a cultura que os rodeava. E preciso contar que isso enriqueceu e muito o livro, que é recheado de cultura síria e judaica, com direito a lendas e ficção.
A história se passa, em grande parte, na Nova York do século XIX, o que também criou um quadro bastante interessante. Pois eu nunca havia tido a experiência de ler um livro que apresentasse todos esses aspectos culturais, históricos, mitológicos e geográficos tão pouco explorados na literatura mundial.
Pelo menos, até onde sei.
E, é de maneira muito fluida e fascinante que a autora transita entre as narrações com foco nesses dois personagens, separadamente, até que eles, enfim, se encontram e, assim, o foco narrativo começa a se misturar. Mas, ainda assim, só um pouquinho. Parece que Wecker fez questão de manter uma clara diferença entre o ponto de vista de uma criatura e da outra.
Bom, a história se resume à busca dessas duas criaturas – um golem e um gênio – pela sua liberdade. Ambas acabam em Nova York meio que por acidente; e, por motivos diversos, são obrigadas a viver entre os humanos. A golem – sim, é mulher – vive com no meio do povo judeu de Nova York, enquanto o gênio se mantém com os sírios. E, ironicamente, essas duas criaturas surgem do nada e não fazem ideia de como viver em meio a essa sociedade nova iorquina, mas cheia de regras, condutas e tradições; sem falar da própria época história em si.
“Como assim eles surgem do nada?”, você me perguntaria.
Calma. Eu respondo. A golem, que se chama Chava, é, como requer a regra dos golens, uma mulher feita de barro, ou seja, criada por mãos humanas com um toque de magia antiga e proibida – pelos golens serem tidos como criaturas, por vezes, incontroláveis e perigosas. Por via de regra, ela deveria ter um mestre, a quem obedeceria cegamente. No entanto, com sempre é preciso que haja uma problemática para a história ficar emocionante, o mestre da nossa querida golem morre logo nas primeiras páginas do livro, deixando-a sozinha em um mundo que ela não fazia ideia de como funcionava. Coitada.
Com o gênio – ou djin -, que aceita o nome humano Ahmad, a história é um pouco diferente. Ele tem sua primeira aparição na história depois que um ferreiro acidentalmente o liberta de uma chaleira que consertava.
“Alladin!”, lembrei eu, empolgada, enquanto lia. “Ele vai conceder 3 desejos!”.
Só que não.
Ahmad havia sido escravizado e aprisionado por um antigo mago humano, muito, muito tempo atrás. Ele era um djin poderoso e conceder 3 desejos a alguém que não fosse a si mesmo era a última coisa que pretendia fazer. Ao invés disso, ele passa a conviver com esse homem que o libertou, se aproveitando de suas próprias habilidades com fogo para trabalhar com metais. Mas Ahmad é um djin voluntarioso, que não se aperta para saciar seus desejos, que são muitos e alguns vão contra o pensamento da sociedade na qual ele vive.
O que eu achei realmente interessante nessa história – e o motivo pelo qual me dei ao trabalho de explicar isso tudo, até agora – foi o fato de que tanto a golem quanto o gênio são criaturas extremamente voltadas para a sua própria natureza. Eu diria até que eles são escravos disso.
Eles são o que são. E não poderiam ser diferentes nem mesmo se quisessem. E olha que, às vezes, até querem.
E a trama gira em torno da natureza, muitas vezes opostas, desses dois personagens.
E, apesar de eles serem tão diferentes entre si, conseguem entender um ao outro de maneira tão completa que o afeto se desenvolve entre eles sem que nem o leitor e nem os próprios personagens percebam.
Percebeu a ironia? Essas duas criaturas têm histórias e naturezas completamente diferentes. Mas que, ironicamente, as deixam na mesma situação. Sendo assim, é claro que eles iam acabar se encontrando ao longo da trama.
Devo dizer que essa dualidade e essa ironia poética foram o que me fascinaram na obra.
Algo que me chamou a atenção de maneira positiva foi o subtítulo da obra: uma fábula eterna. Primeiramente, eu pensei que fosse apenas uma descrição muito poética e romântica do conteúdo do livro. Mas não. É uma característica física e temporal mesmo. É uma fábula, porque trata de criaturas que, na verdade, não existem. E é eterna porque esses mesmos personagens são praticamente imortais.
Não sei vocês, mas eu achei isso muito legal!
Mas vamos ao vilão! Ah, o vilão…
Esse livro, sim, tem um vilão! O cara permaneceu oculto a maior parte do tempo. Desde o início, sabe-se que há um vilão, sabe-se o que ele fez para ser escalado para esse papel. Mas não se sabe quando ele aparecerá, nem por quê e nem com que nome.
Sendo assim, devo dizer que o início do livro é marcado por uma narrativa bem calma e fácil de ler.
Mas quando ele resolve aparecer, ele o faz de maneira triunfal. E vai causando estragos até a última página, dando a um livro perfeitamente calmo e controlável um final deliciosamente trágico e tenso.
Mas, acalmem-se, meus amigos, o final não é de arrancar lágrimas. Se eu não chorei, acho que ninguém vai chorar. Ele só é surpreendente.
O livro, no geral, apresenta uma grande riqueza em originalidade, cultura histórica, judaica e árabe, geografia nova iorquina e personagens complexos e apaixonantes.
Quanto ao trabalho da editora, só posso dizer que a Darkside está criando uma reputação entre os seus leitores. E, até o momento, ela não decepcionou. A apresentação do livro está excelente – embora eu tenha notado alguns deslizes na revisão ortográfica do livro, mas nada que possa prejudicar a leitura. Deixo aqui a minha profunda admiração pelo trabalho com a diagramação e com a capa. O mais belo trabalho que já vi. A editora está de parabéns. Bom trabalho!
O livro O Golem e o Gênio – uma fábula eterna tem tudo para ser considerado um ótimo livro, desde o título até a trama em si; o que é muito bom, porque o livro é ótimo mesmo! Eu recomendo a leitura.
Assista ao Book Trailer de ‘O Golem e o Gênio’, de Helene Wecker
Um comentário
Raquel Moritz
arrasou <3 amei muito esse livro :DDD