O Filho do Terrorista, de Zak Ebrahim | Resenha
‘O Filho do Terrorista’: uma história que precisa ser passada adiante
Primeiro volume da série TED Books, O Filho do Terrorista, começa com o pé direito a coleção trazida para o Brasil pela editora Alaúde. O TED, para quem não conhece, é uma série de apresentações, que duram em torno de 18 minutos e falam de diversos temas (como matemática, arquitetura, filosofia, educação, o poder de acreditar em si, entre outros), que ficou famosa principalmente pelos vídeos disponibilizados na Internet.
A proposta principal dos TED Books é aprofundar os assuntos abordados em uma dada apresentação e, no caso de O Filho do Terrorista, ela cumpre bem a sua missão. Além disso, o formato pequeno e a extensão curta trazem para o mundo literário a essência do TED de fazer o público refletir através de depoimentos reduzidos. Em poucas horas (sim, é uma leitura muito rápida), o leitor consegue ter contato com uma experiência fantástica e engrandecedora.
O Filho do Terrorista – A História de uma Escolha, de Zak Ebrahim com Jeff Giles, narra a história verídica de Ebrahim que, quando tinha sete anos, viu sua vida mudar radicalmente após o pai, o terrorista El Sayyid Nosair, matar a tiros o rabino Meir Kahane, fundador da Liga de Defesa Judaica. Nosair foi o primeiro jihadista islâmico a tirar a vida de uma pessoa em solo americano, além de posteriormente, em 1993, planejar o primeiro ataque a bomba ao World Trade Center. A partir do assassinato do rabino, a vida de Zak basicamente foi resumida a se esconder das perseguições em consequências do ato produzido pelo pai, inclusive, mudar de nome. O livro mostra que, muitas vezes, somos penalizados por atos que não fizemos e também que não somos fadados a ser algo que nos impõem a ser.
A estrutura do livro proporciona o envolvimento do leitor. Logo no primeiro capítulo, ela escancara o fatídico dia do atentado e toda a tensão vivida pela família, arrebatando o público e fazendo-o mergulhar na história. Depois, relembra como os pais se conheceram e como o pai virou um extremista (pois é, no começo, ele era um pai amoroso, acreditem). E, por fim, segue uma cronologia dos fatos até o presente e mostra como foi a vida de Zak, da infância conturbada à fase adulta, como ele construiu o pensamento de que todo mundo tem um escolha.
A linguagem de O Filho do Terrorista é simples e direta, facilitando a compreensão da ácida contextualização histórica referente às guerras no Oriente Médio e à questão da Palestina. O livro não aprofunda detalhes sobre estes conflitos, mas explica o suficiente para o leitor se situar, afinal, não é o objetivo da publicação dar uma aula de história e, sim, passar uma mensagem de que a intolerância e a raiva só intensificam o ódio. Além disso, a obra traz outro importante ensinamento: de que não podemos generalizar a religião islâmica com terroristas e de que nem todos os muçulmanos compactuam com os atos de violência praticados por grupos extremistas. O principal a ser pregado é o respeito à crença do outro.
Por sorte, Zak teve a chance de ver um outro lado do mundo e transformar os dramas vividos em importantes lições. No entanto, acredito que, se ele tivesse um maior convívio com o pai, provavelmente seguiria os seus ensinamentos. Assim, concordo em partes com o depoimento do autor/palestrante que todo mundo tem uma escolha, uma vez que é difícil enxergar diferentes caminhos, quando se está aprisionado em uma cultura fechada (ou se está em um meio sem acesso ao conhecimento, que não mostre outras oportunidades). Defendo que as pessoas tenham livre arbítrio para pensar e realizar as suas ações, mas, antes, elas precisam conhecer as diferentes possibilidades. O preocupante é que muitos ainda não têm a chance de ver que a vida não é feita de imposições e que não existe apenas uma verdade.
Mesmo com algumas ressalvas, o depoimento de Zak Ebrahim é um ótimo exemplo de que mensagens incentivadoras de mudança podem trazer a esperança de um futuro diferente e devem ser passadas adiante. Algo que infelizmente é pouco valorizado no mundo atual, onde pregar o ódio, a violência e a intolerância parece ser mais interessante. O grande desafio – e uma das maiores reflexões que tive ao ler O Filho do Terrorista –, no entanto, é fazer com que este depoimento chegue àqueles que mais precisam ouvi-lo. Ninguém nasce fadado a um futuro. Mesmo com todas as adversidades é possível mudar, escolher.
Para conhecer um pouco mais da história de Zak Ebrahim, sugiro ver a palestra apresentada por ele no TED.
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