Quando Saturno Voltar, de Laura Conrado|Resenha
‘Quando Saturno Voltar’: uma maneira leve, divertida e romântica de pensar a vida
Por que mudar é tão difícil? Por que não aceitamos que, às vezes, as coisas não saem exatamente do jeito que esperamos, mas que isso não necessariamente é uma coisa ruim? Esse medo é resultado, em boa parte, da nossa própria insegurança. De não acreditarmos em nós mesmos e em nossa capacidade de superação. Principalmente em relação aos sentimentos, ao amor. Ficar sozinho, nem pensar! Mas como iniciar ou manter uma relação, antes mesmos de nos conhecermos melhor e nos aceitarmos? Pois é isso que Laura Conrado nos mostra em seu novo livro, Quando Saturno Voltar, publicado pela editora Globo Livros. A autora de Freud, me tira dessa!, mais uma vez, consegue falar diretamente com o leitor sobre os seus próprios receios, questionamentos e conflitos internos, numa trama recheada de humor, leveza e com uma ajudinha dos astros.
Na história, Déborah é uma jornalista prestes a completar 29 anos que, aparentemente, não tem do que reclamar da vida: namora há quatro o estudante de Medicina Sérgio, com quem já faz planos para se casar e formar uma família. Além disso, trabalha desde a sua formatura na faculdade, como assessora de um time de futebol da segunda divisão de Belo Horizonte. Não é o emprego dos seus sonhos, mas é algo estável. Aliás, estabilidade parece ser a palavra preferida de Déborah. Porém, tudo muda durante uma viagem para o Chile a trabalho, onde o seu caminho cruza com o da cigana Saphira, que alerta Déborah para o “retorno de Saturno”, fenômeno astrológico que acontece às véspera de a pessoa completar 30 anos, trazendo grandes transformações. Quando ela começa a perceber alguns sinais “das estrelas” em sua viagem de volta, entre eles Henrique, um homem fascinante que conhece ainda no avião, Déborah se vê obrigada a repensar toda a sua trajetória e confrontar todos os mesmos dos quais escolheu fugir a vida inteira.
Impossível não se identificar de cara com a história de Déborah. A começar pela parte dos astros, é claro. Pode confessar que você já teve a sua fase do horóscopo. Eu mesma já tive e, admito, volta e meia resolvo conferir o que as estrelas “falam” para mim. Sou aquariana, é inevitável. Essa mistura da vida real com o esotérico deu todo um charme à obra de Laura, que conseguiu equilibrar muito bem os momentos mais leves com as horas de seriedade de sua história. Com uma narrativa extremamente natural e despretensiosa, a leitura flui de maneira imperceptível. Acompanhar os desdobramentos da vida de Déborah é um prazer e uma diversão. E, mais do que isso, um aprendizado.
Quem nunca parou para repensar as suas próprias escolhas? Às vezes, simplesmente temos aquela fase de reflexão, de autoavaliação. É muito difícil reconhecermos os nossos próprios erros e/ou inseguranças. Talvez, o simples fato de pensar em mudar pode significar um fracasso, já que teoricamente não conseguirmos atingir algum objetivo pensado inicialmente. Em Quando Saturno Voltar, Laura mostra justamente o contrário. Ela traz outro ponto de vista e nos enche de perspectiva. Através de Déborah – uma mulher que pode ser uma amiga, conhecida, alguém da família e, por que não, você mesma -, a escritora consegue fazer o leitor embarcar nessa jornada de autoconhecimento, porém, sem esconder que grandes mudanças também pedem alguns sacrifícios e escolhas difíceis, com as quais precisamos aprender a lidar com as consequências.
“Não tem lógica isso, mas é o amor que damos que nos cura, não o que recebemos. Passei a vida inteira querendo recebê-lo com garantias e, somente quando o dei sem pensar nas consequências, pude perceber cerejeiras no caminho. Antes eu conhecia o poeta, agora vivo sua poesia”
O livro é praticamente uma terapia. Você ri, chora, se solidariza com Déborah e com a situação, se irrita, em alguns momentos, mas principalmente o leva para a vida. Mais do que uma comédia romântica, um romance açucarado, Quando Saturno Voltar é um presente. É a sua chance de repensar as suas próprias decisões ou, até mesmo, aceitar as suas escolhas, pois elas levaram aos caminhos que você está trilhando hoje. Laura dá aos leitores a oportunidade de refletir e de apontar os seus erros e acertos e, acima de tudo, se conhecer e se aceitar. Com Déborah aprendemos que, antes de mudar de emprego, de ambiente e de relação, é preciso mudar o que não está funcionando ou o que incomoda em nós mesmos. Sem medo, sem receios. Apenas a vontade de nos sentirmos bem. Temos que acreditar em nosso potencial, na nossa capacidade de transformação. Esse é o primeiro passo para que, enfim, possamos nos conhecer e nos amar profundamente, pois essa é a primeira e mais duradoura história de amor que devemos ter.
“Eu me comprometo a me fazer feliz em vez de esperar felicidade de outras pessoas. Prometo cuidar dos meus sonhos com o mesmo zelo com que cuidarei dos meus filhos. Eu me perdoo por fugir de mim mesma e dos meus sonhos por medo e por comodismo. De Déborah para Déborah, eu prometo estar aqui para viver inúmeros momentos históricos por todos os dias da minha vida.”
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