Bienal do Livro 2015: a mágica de Jeff Kinney
Jeff Kinney, autor da série ‘Diário de um Banana’, encantou crianças e pais durante o bate papo com leitores na Bienal do Livro 2015
“Eu gosto dos problemas das crianças, não sou bom escrevendo sobre adolescentes”, assim resumiu (muito bem) Jeff Kinney, o simpático autor da série Diário de Um Banana, publicada aqui no Brasil pela V&R Editoras, durante o bate papo com os leitores no último domingo (6), na Bienal do Livro 2015. Encontro, aliás, que emocionou todo o público, composto majoritariamente por crianças e adolescentes acompanhados por seus pais. Com muita naturalidade e sempre atencioso com seus pequenos fãs, Jeff conquistou o auditório lotado ao fazer uma apresentação bastante interativa e divertida contando um pouco sobre as suas história e carreira, após já ter passado horas autografando exemplares (inclusive, os nossos!). O escritor, no entanto, mostrava-se sempre com um sorriso no rosto, consciente da importância de sua obra para aqueles olhinhos vidrados que o encaravam com muita expectativa e admiração.
Kinney contou que foi apresentado aos quadrinhos por seu pai e, mais velho, mesmo tendo se formado em direito criminal, resolveu se aventurar no desenho, ainda na faculdade. Seu primeiro quadrinho, Igdoof, consistia em um personagem um pouco “esquisito”, segundo o próprio cartunista, e com pouco cabelo para se destacar. Porém, logo em seguida, ele explicou, descobriu que a falta de cabelo não era uma exclusividade sua, tendo como exemplo o inesquecível Charlie Brown. E engana-se quem pensa que o talento do criador de Greg Heffley foi reconhecido já no início de sua carreira. Com o desejo de fazer tirinhas para jornais, Kinney enfrentou muita rejeição, até descobrir no que realmente era bom.
“Os desenhos dos jornais eram muito profissionais”, afirmou. “Eu desenhava como uma criança. E, após anos de rejeição, me veio a ideia de que eu tinha, sim, nascido para ser cartunista, mas não de jornal. Talvez, eu devesse abraçar o fato de que desenhava como criança e tentar ser como uma criança. Assim surgiu o Greg. Comecei a escrever tudo de engraçado que acontecia comigo quando era criança num diário. Só que eu fui escrevendo cada vez mais e fiquei sem espaço nesse diário”.
Sempre com muito bom humor, Kinney declarou que levou longos oito anos trabalhando no primeiro volume de Diário de um Banana, antes de mostrar para todo mundo. Ao final do processo, o autor decidiu imprimir 20 exemplares e levar a uma convenção de quadrinhos em Nova York. Mesmo sem ser conhecido, com muito esforço e determinação, ele finalmente chamou a atenção de uma pessoa na feira e viu a sua vida mudar radicalmente: “minha vida tem sido maluca desde o momento em que um cara disse que o meu trabalho era exatamente o que ele precisava”. Metódico, ele divertiu a criançada (e os marmanjos que, de cara, já haviam ficado completamente hipnotizados por sua simplicidade e pelo carisma) ao também explicar o seu processo de escrita e desenho, que dura, mais ou menos, nove meses. Porém, Kinney ressaltou, para trabalhar em um novo livro ele precisa reunir cerca de 350 piadas. A inspiração, ele contou, tem que vir naturalmente, o que o obriga a sair de casa e caminhar por horas a fio, apenas para ter novas ideias.
Em sua segunda visita ao Brasil, ele não deixou de elogiar os jovens brasileiros, seu entusiasmo pela leitura e principalmente o carinho demonstrado pelo seu trabalho. Quando perguntado se faria um livro com Greg no Brasil, ele prontamente respondeu que “seria divertido fazer o personagem sair do país”. Ao ouvir de uma menina na plateia que Diário de um Banana a ajudou a superar os problemas na escola e a fez não se sentir mais “tão banana” e sozinha, o autor se emocionou (assim como todos no auditório) e destacou que essa é a mágica do livro, quando ele consegue trazer algo de bom e tocar as pessoas. Até porque, como ele mesmo admitiu, algumas situações ocorridas com Greg – o protagonista de sua série literária – foram inspiradas em sua própria infância.
“Eu achava estranho quando diziam que a comédia é frustração, mas muitas coisas que aconteceram com Greg também aconteceram comigo”, confessou. “Na época, não era engraçado, mas, vendo agora, é. É realmente muito difícil encarar essa fase. Se os livros conseguem trazer esse alívio, essa alegria, é algo bom. Eu fico feliz de poder tocar as pessoas com eles. Há algo mágico num livro de verdade. Por isso que eu gosto de feiras como essa (a Bienal), porque aqui são pessoas que amam livros. Esse é o melhor momento para mim porque tudo em que trabalhei finalmente está nas páginas que são seguradas pelas crianças. O Brasil foi a primeira parada da turnê mundial de divulgação do 10º livro, e eu quis começar aqui porque acho que particularmente todas as pessoas são muito apaixonadas, entusiasmadas. Isso é muito especial para mim. Eu adoro os fãs brasileiros. Tive a chance de passar perto das grades onde estavam alguns meninos, e eles gritavam o meu nome. Me senti uma celebridade. Tem sido muito divertido”.
Fã declarado da Xuxa (para delírio e muitas risadas da plateia), Kinney ainda contou algumas novidades exclusivas sobre o novo livro, que será lançado mundialmente em novembro, como o título traduzido para o português: Diário de um Banana – Bons Tempos. A nova história, ele contou, traz o avô de Greg e fala sobre as diferenças de gerações. Adorado também por muitos pais, que não apenas o admiram, mas passaram a se interessar pelas histórias por causa dos filhos, o cartunista admitiu que Diário de um Banana foi criado inicialmente para os adultos, devido à sensação de “volta à infância”. Por isso, dessa vez, ele decidiu fazer uma trama que pudesse falar sobre pais e filhos e uni-los na leitura.
“Eu escrevi Diário de um Banana para os adultos”, confessou. “Escrevi como se estivesse olhando novamente para a infância. E a razão disso era que meu pai lia quadrinhos para mim e os apresentou como algo para adultos. Eu pensava nisso enquanto escrevia. Quando meu editor falou que eu estava escrevendo uma série para crianças, foi um choque para mim. Não era a minha intenção. Agora, eu decidi falar sobre essas diferenças de gerações. É um prazer ler os livros com os meus filhos. Sei que isso não vai durar para sempre, então eu vou aproveitar esse tempo com eles. É legal fazer pais e filhos lerem juntos”.
Muito perguntado sobre um novo filme baseado na série – já foram lançadas três adaptações -, Kinney confirmou que uma nova produção cinematográfica está nos planos, inspirada no 9º volume da coleção (Diário de um Banana – Caindo na Estrada). Porém, dessa vez, será como um “recomeço nos cinemas”, com novos atores e uma nova história, visto que os atores dos primeiros filmes já cresceram e ele quer que as crianças de hoje que ainda não conhecem as histórias, ou estão começando a ler agora, também possam acompanhar as aventuras de Greg, sua família e seus amigos. A escolha desse livro específico para a retomada nas telonas se deu por o cartunista achar que, nessa obra, houve uma “melhora na escrita”. Sempre pensando em seus leitores, Kinney disse ainda que o motivo de a maioria dos livros ser dedicado a crianças que estão doentes é que quer ter a “certeza de levar uma mensagem a essas crianças e manter suas memórias vivas”. Além disso, os próprios títulos da série foram criados, de acordo com ele, com frases que tenham algum significado para que as crianças entendam e sejam estimuladas na leitura. No final, após responder às inúmeras (e bem elaboradas) perguntas dos pequenos, Kinney defendeu a infância e aconselhou as crianças a nunca desistirem de seus sonhos e terem paciência. Nunca terem pressa de crescer e de fazer as coisas, mas, sim, buscar sempre melhorar. Tanto que, ele garantiu – para alegria de todos – ainda tem muita história para contar.
“Quem tem um sonho tem que realmente tomar o seu tempo com isso”, disse. “Você precisa se preparar, se aprimorar, ter paciência. Eu levei oito anos para ser lido. Então, encorajo todos aqui que possuam uma ideia para sempre tentarem torná-la melhor. Mas façam tudo no seu tempo e façam sempre o melhor. Eu posso não ser o melhor escritor, mas sou persistente. Se você tem um sonho, persiga ele. Por isso mesmo, eu não sei se quero terminar a série. O legal é que são quadrinhos. No quinto livro, eu notei que o Greg não pode crescer porque ele é um personagem de quadrinhos. Bart Simpson e Charlie Brown, por exemplo, nunca cresceram. Rowley é o meu personagem preferido justamente por não ter pressa de crescer. Ele gosta de ser criança. E ser criança é ótimo. Acho que vou continuar a escrever enquanto tiver energia e as crianças continuarem lendo. Acho que o importante no aprendizado das crianças é fazer elas entenderem que ler é divertido, um prazer. É importante fazer elas sentirem que essa é a mágica do livro, fazer eles ser divertirem”.