Entrevista: Leila Rego
A escritora Leila Rego conversou com o Vai Lendo sobre o lançamento do seu novo livro, #PartiuVidaNova, na Bienal do Livro 2015, e suas perspectivas para o mercado editorial brasileiro
Do interior para a cidade grande. Dos sonhos para as páginas e mãos de milhares de leitores pelo Brasil. A trajetória de Leila Rego é tão inspiradora quanto suas histórias. Ao publicar, de maneira independente, o seu primeiro livro, mal sabia a escritora que iria se tornar um sucesso literário nacional e tocaria o coração de tanta gente com personagens cativantes. Em entrevista ao Vai Lendo, a autora de Amigas Imperfeitas e A Segunda Vez que Te Amei, publicados pela Gutenberg, fala sobre a expectativa do lançamento de seu novo livro, #PartiuVidaNova, pela mesma editora, na Bienal do Livro 2015, no próximo sábado, dia 12, suas inspirações e perspectivas em relação ao mercado editorial brasileiro.
Aos quatro anos, Leila, nascida em Cafelândia, no Paraná, mudou-se com a família para Alta Floresta, no Mato Grosso, para um lugar onde sequer havia energia. Porém, mesmo sem recursos tecnológicos, as histórias sempre estiveram presentes em sua vida e fizeram com que ela cultivasse em sua imaginação as tramas que, anos mais tarde, se tornariam realidade em livros. A escritora ressaltou que, apesar da infância simples, a educação sempre esteve presente e os valores passados por seus pais ajudaram em sua formação não apenas profissional, mas principalmente pessoal.
“Cresci em um lugar ermo, sem recursos tecnológicos”, contou. “Entretanto, os valores mais importantes, que são os morais, na minha opinião, foram bem consolidados pela educação que tive de meus pais, a quem sou eternamente grata. Aprendi a dar valor ao caráter do ser humano, às coisas simples que temos, às pessoas como elas são e aos momentos aparentemente mais banais, mas que valem ouro. E é isso que eu tento passar para meus personagens e para meus filhos. Confesso que para os personagens é bem mais fácil! (risos)”.
Em #PartiuVidaNova, a trama se passa em uma cidadezinha do interior, cuja realidade, Leila explicou, é baseada em algumas pesquisas e lembranças de um dos lugares em que morou. Porém, ela afirmou ainda que leva apenas algumas experiências e percepções de sua vida para os livros, pois gosta mesmo de “criar situações e tramas do zero e deixar a imaginação viajar”. Mesmo assim, a escritora consegue captar de maneira única os anseios e conflitos de seus leitores, que constantemente se impressionam com as semelhanças da narrativa com suas próprias vidas. Não à toa, Leila é também bastante ativa nas redes sociais, onde troca experiências e mantém contato direto com o público, que ajuda, inclusive, no processo de seus próximos trabalhos. Daí também o título da nova obra, que tem relação direta com esse lado interativo.
“A Mariana, protagonista de #PartiuVidaNova, tem um blog e, em uma de suas postagens, ela escreve #PartiuVidaNova; daí veio o título”, explicou Leila. “Esse contato pela internet é maravilhoso, pois realmente aproxima os leitores e nos permite uma troca constante de ideias, opiniões e tendências. Eu fiz uma enquete no Facebook e no Instagram pedindo ajuda para escolher o nome da minha nova personagem, e foi lindo de ver a participação dos leitores! Somando as duas redes sociais, foram quase 500 respostas! Fiquei muito feliz com essa interação. E é comum também receber e-mails de pessoas que se identificaram com meus personagens ou com as histórias e me contam suas impressões. Estou até pensando em colocar um aviso inicial dizendo que ‘esta é uma obra de ficção e qualquer semelhança é mera coincidência (risos)’. Fico imaginando que, um dia, Mariana Louveira aparecerá à minha porta, tal qual eu a imaginei (criei), querendo me processar (risos)! E tudo isso me inspira. As pessoas e suas histórias, o que já vivi, notícias que leio nos jornais, música, filmes… Sou como uma parabólica, antenada em tudo”.
Contando os dias para a sua participação na Bienal do Livro 2015, Leila disse estar ansiosa para apresentar o novo livro e sentir o clima da feira literária. Mesmo com a crise, ela garantiu não estar preocupada com as vendas e quer mesmo é ter o contato com o público e sentir o “clima maravilhoso de cultura e cheiro de livros novos”. “É a nossa Copa do Mundo e temos que comemorar!”. Após ela mesma ter recorrido à autopublicação para o seu primeiro livro, Pobre Não Tem Sorte, a escritora resolveu profissionalizar a escrita, depois de a obra ter sido bem recebida pelo público, e confirmou que esta foi a sua melhor decisão. Para aqueles que desejam iniciar a carreira de escritores, Leila aconselhou a não desistir de seus sonhos e lutar até o fim, principalmente porque, para ela, o mercado editorial nacional vem se profissionalizando e buscando, cada vez mais, novos talentos.
“Eu acho que o mercado editorial para os escritores brasileiros está em um momento muito positivo”, declarou. “Com um número de leitores cada vez maior e mais sedento por novas histórias, vejo o mercado tornando-se mais profissional e abrindo as suas portas para novos talentos. Nunca se publicou tanto no Brasil, e já temos escritores publicando seus livros, que já são sucesso aqui, em outros países. É um momento para se comemorar. Espero que, em breve, o Brasil saia da crise em que se encontra, porque isso irá alavancar ainda mais o processo cultural, incluindo o da literatura”.