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A Bela Helena, de Miriam Mambrini | Resenha

‘A Bela Helena’: várias mulheres em uma

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“A Bela Helena”, de Miriam Mambrini / Divulgação

Chegar aos 60 anos pode ser bem assustador para muitas mulheres. Apesar de toda a experiência, existe uma série de inseguranças que permeiam a mente feminina: o envelhecimento, a juventude roubada, frustrações diversas e aquele sentimento de se encaminhar para o fim: “Será que ainda temos muito a fazer?”. A Bela Helena, de Miriam Mambrini, publicado pela 7 Letras, retrata as lembranças de Talita, uma mulher prestes a completar 60 anos, na virada para o ano 2000, em uma vida marcada pelo abandono do pai, o descaso da mãe (e a figura da mesma como amante), a rejeição do filho e, o principal, os encontros e desencontros com Laerte, um homem cercado de mistérios que desperta paixão nela. Talita é aquela típica mulher comum, que desabrocha ao longo das páginas e prende o leitor.

A Bela Helena apresenta estrutura não linear, alternando entre lembranças da infância/juventude com as mais recentes da protagonista. Um estilo de narrativa que dá todo um toque especial ao livro, envolvendo o leitor com uma história de vida instigante e suspense em aberto. Apesar da utilização deste modelo, a leitura é de fácil compreensão. Em nenhum momento perde-se o controle da obra.

Narrado em primeira pessoa, o livro é um grande desabafo de Talita, uma terapia, uma forma da personagem se auto-descobrir. A linguagem utilizada por Mambrini é simples e sem firulas, que contribui para dar agilidade à leitura, além de ser verossímil para uma mulher beirando os 60 anos.

O livro também reflete a complexidade do ser humano, mais especificamente da mulher, mostrando que não somos definidos apenas por uma característica e, sim, por diferentes facetas. Como apresentado na orelha da obra, os personagens são tão críveis que realmente o leitor tem a sensação de que eles existem. Algo fundamental para a proposta e uma das características mais marcantes do livro. Outro ponto a destacar é a objetividade da autora.  Mambrini consegue ser bem concisa nos seus relatos, passando a emoção necessária, sem deixar a leitura ficar cansativa. Com exceção de uma passagem, no capítulo 35, a trama é muito bem amarrada.

Esse capítulo em questão justifica a razão pela qual a personagem toma a coragem e decide escrever. “Se hoje escrevo, é porque a convivência me mostrou que nenhum deles (autores) recebia uma inspiração especial, nenhum deles era possuidor de uma força uma força misteriosa que lhe ditava as palavras. Eu, que nunca fui gênio, nem especialmente inspirada, também posso escrever”. O trecho é um dos melhores e mais importantes do livro, mas ficou solto no contexto. Inclusive, também foi inserido um personagem, Jorge Lavale, pouco explorado. Na verdade, acreditava que ele seria melhor trabalhado. Enfim, nada que comprometa a obra.

A Bela Helena é uma ótima companhia de leitura, que irá agradar, em sua maioria, mulheres, principalmente as que estão na transição para os 60. A empatia por Talita é inevitável. Muitas, certamente, irão se identificar com os dilemas femininos, a repressão e a violência sofridas na metade do século XX, a busca pelo auto-descobrimento e a realização profissional/pessoal. Ver a transição de pensamentos da personagem, assim como acompanhar a sua trajetória, é uma forma de ver como uma vida aparentemente comum pode ser instigante e motivadora. Digna de um livro.

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Foto: Vai Lendo

 

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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