Fúria Vermelha, de Pierce Brown | Resenha
Fúria Vermelha’: uma surpresa realmente fantástica e já na lista de melhores ficções científicas recentes
O livro de hoje é o Fúria Vermelha, da trilogia Red Rising, do autor Pierce Brown, lançado pela Globo Livros.
E eu tenho que falar logo no início: gente, essa foi simplesmente a melhor ficção científica que eu li esse ano! É sensacional! Virei fã!
Mas vamos com calma e por partes. Primeiro um resumo da história para você não ficar perdido. Vamos lá!
A história se passa em um futuro distante, pelo que tudo indica – na verdade, em nenhum momento o autor expõe o ano em que se passa a trama, mas fica óbvio logo de cara que é no futuro – e a sociedade está completamente mudada, com recursos quase ilimitados e tecnologias além da imaginação. Já houve a colonização de praticamente todos os planetas do sistema solar, incluindo suas luas e Plutão, e a raça humana já não mais habita a Terra unicamente – na verdade, tudo indica que a Terra passou por alguns problemas realmente graves e acabou sendo substituída pela sua Lua, que é onde a capital política está situada. A raça humana como a conhecemos foi substituída por uma versão “mais evoluída” de si mesma. E essa sociedade se divide em cores, sendo a classe mais baixa a dos Vermelhos – que, de certa forma, parecem se assemelhar fisicamente conosco, mas mesmo assim só um pouco – e a mais alta é a dos Ouros – que são seres humanos fisicamente superiores em praticamente tudo. Entre essas duas cores – classes sociais – há várias outras, como: amarelos, azuis, verdes, rosas, violetas, cinzas e ainda há classes à parte, que não são identificados por cores propriamente ditas.
É um planejamento social muito interessante e inovador que o autor fez. Brown bebeu muito das fontes clássicas – as mais antigas mesmo! -, como a cultura grega antiga e a greco-latina. Inclusive, temos algumas frases em latim e nomes de deuses e locais gregos, sem falar que a própria sociedade de Fúria Vermelha parece se basear um pouco nessas culturas clássicas de uma modo geral.
A trama de Fúria Vermelha se passa em Marte e é narrada em primeira pessoa, pelo protagonista Darrow, um Vermelho de Marte, ou seja, ele está lá embaixo na escala social. E, como todo baixoVermelho, ele é um mineiro, que é o trabalho mais pesado e mais mal pago. Na verdade, os baixoVermelhos são uma classe injustiçada, uma vez que eles não têm ideia de que há mesmo uma sociedade vivendo naquele planeta, porque o que dizem para eles é que a colonização depende do sucesso deles na mineração – que seria uma forma de fazê-los trabalhar calados, colocando-os sob um falso pedestal, onde eles seriam grandes heróis.
A verdade é que eles são escravos, tratados brutalmente e vistos como tal.
Nos primeiros capítulos, parece que o objetivo é justamente mostrar a vida dos baixoVermelhos. Vemos um Darrow muito jovem, mineiro, apaixonado e que quer muito dar uma vida melhor para o seu povo através da vitória da Láurea, que é um tipo de prêmio pelo melhor desempenho profissional – que nada mais é do que uma quantidade maior de suprimentos, porque eles normalmente sobrevivem com o básico do básico.
E é já a partir daí que a treta começa. Eu vou pular essa parte, porque senão o spoiler vai rolar solto por aqui. Melhor não. Então, se vocês quiserem saber de qual treta estou falando, leiam o livro. Acreditem, vale muito a pena. Muito mesmo.
O que importa é que o Darrow acaba descobrindo que ele e o seu povo estavam sendo enganados durante toda a vida. E o que ele decide fazer?
Tenham em mente o fato de que a trama se desenrolou em uma trilogia que eu francamente estou achando o máximo. Então, meus amigos, vocês acham que o Darrow vai deixar isso para lá e voltar para a vidinha de mineiro, à mercê dos carrascos da sua escravidão?
Claro que não, né.
Ele vai lutar. Ele vai tentar mudar a sociedade. E como ele vai fazer isso?
Eu não vou falar. Vocês vão ter que ler o livro se quiserem saber. Tudo o que eu posso dizer é que muito maneiro e eu fiquei bem impressionada. Gostei mesmo.
Percebi que Pierce Brown parece trabalhar muito com os sentimentos do leitor, e sempre com extremos. Eu ora ficava muito feliz ou aliviada, ora ficava desolada ou com raiva – mas sempre surpresa e muito curiosa. E isso funcionou muito bem para a interpretação da mentalidade do protagonista, uma vez que estamos na cabeça dele o tempo inteiro e ele mesmo é um sujeito cheio de perguntas sobre aquele mundo que havia ficado escondido dele, ele é muito triste também por causa de todo o sofrimento que teve que enfrentar. Mas, ao mesmo tempo, Darrow é um rapaz – ele tem dezesseis anos, se não me engano – muito vivido, com muitas responsabilidades, o que o torna maduro, além de muito inteligente e sagaz. E é justamente esse caráter trágico da vida dele como mineiro baixoVermelho que vai acabar dando vantagens para ele, porque ele enxerga o mundo de maneira completamente diferente do que os seus adversários – os Ouros. Sem falar que ele tem seus momentos hilários. Então, o Darrow é um protagonista pelo qual você torce o tempo inteiro e vive a história com ele – se ele sofre, o leitor sofre e quando ele vence, o leitor comemora.
E, para mim, essa foi a prova do brilhantismo do autor. Ele conseguiu conduzir uma história complexa pra caramba, usando de um meio que não facilita em nada – porque a narração em primeira pessoa tem que ser muito bem feita para não deixar o leitor no escuro em determinados momentos. Então, eu posso dizer que Pierce Brown, além de ser uma gracinha – ele está lindo na foto da contra-capa do livro -, ele sabe o que está fazendo. E eu não poderia respeitá-lo mais por isso.
A história em si é uma ficção científica de cabo a rabo, é recheada com estratégias de batalha, intrigas, traições – muitas traições e reviravoltas mesmo, gente! -, muitas surpresas, soluções inteligentes para problemas enormes, a dose certa de humor e, o que me deixou impressionada, tem amor. Tem muito amor ao longo da trama – mas não chega a ser romântico, de maneira nenhuma, o que eu achei ótimo. Mas o que me chamou muito a atenção para esse livro foi o fato de que, mesmo sendo uma típica ficção científica em um tempo futuro e muito tecnológico, o autor conseguiu dar um ar medieval à história – quem ler o livro, com toda a certeza, vai entender o que eu estou falando. Então, o livro se transformou em uma ficção científica medieval. Mas eu acho que é só nesse primeiro volume.
Quanto ao trabalho da editora, eu só posso dizer que me surpreendi. Muito. Na verdade, eu admito que nem sabia que essa editora publicava livros assim e nunca dei atenção para ela. Bom… eu vou passar a dar a partir de agora! O volume físico está excelente, em todos os aspectos. Eu gostei da capa – apesar de não poder dizer por que exatamente, simplesmente gostei -, a diagramação está boa e a qualidade do material usado também. Enfim, dou meus parabéns à editora. E acho que também lhe devo desculpas.
No todo, eu diria que Fúria Vermelha é um livro muito completo e extraordinariamente bem escrito. Pierce Brown, além de bonito, provou que sabe o que está fazendo e já entrou na minha listinha de autores favoritos. Eu adorei a história e recomendo fervorosamente.