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O Estreito do Lobo, de Olivier Truc | Resenha

‘O Estreito do Lobo’: investigação com altas doses de cultura lapônica

Um das grandes vantagens da literatura é poder explorar novos mundos sem sair do aconchego do seu quarto (ou outro lugar de sua preferência). É conhecer diferentes culturas. É aprendizado. Já imaginou um lugar que, em certas épocas, vive na absoluta escuridão e em outros, com o sol da meia noite? Então, carimbe o seu passaporte e viaje para o extremo norte do globo, mais especificamente na Lapônia, cenário do intrigante O Estreito do Lobo, escrito pelo francês Olivier Truc e descubra os mistérios deste universo gelado.

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‘O Estreito do Lobo’, de Olivier Truc / Divulgação

A trama, publicada pela Tordesilhas Livros, inicia com a morte por afogamento de Erik Steggo, um pastor sami*, durante a travessia das renas no estreito do Lobo – braço de mar que separa a cidade do continente. Ao investigar as causas da tragédia, Klemet Nango e Nina Nansen, que fazem parte da polícia das renas, começam a desconfiar de que o acidente fatal envolvendo Erik talvez não tenha sido acidental. Em paralelo a esta investigação, outras mortes misteriosas acontecem e, conforme os policiais tentam desvendar esse quebra-cabeça, uma rede de intrigas é construída, abordando disputas territoriais, expansão da indústria petrolífera, corrupção, questões trabalhistas (mergulhadores), preservação da cultura nativa e brigas políticas.

Antes de qualquer coisa, quero deixar claro que não li Quarenta Dias Sem Sombra, obra que apresenta os policias Klemet e Nina. Só fui me dar conta da existência da publicação após ler os primeiros capítulos e, depois de uma pesquisada na internet, descobri que os personagens já haviam aparecido antes. Confesso que fiquei apreensivo. “Será que teria problemas de entendimento?”. Mesmo assim continuei, pois já estava completamente envolvido com a estranha morte de Erik Steggo e quis arriscar. Valeu a pena!  Não tive grandes problemas na leitura (pelo menos, não me dei conta). Quem já leu o livro anterior do autor possivelmente vai desfrutar de uma leitura mais apurada, intensa, principalmente nas tramas dos protagonistas, mas os calouros não ficarão perdidos. Truc fornece informações suficientes para que os novatos tenham controle sobre a obra.

Se você, no entanto, é daqueles que gostam de conhecer um universo nos mínimos detalhes, aconselho, então, a começar pela obra Quarenta Dias Sem Sombra

Estreito do Lobo 2

A apropriação da tundra e da cultura da Lapônia, num texto que prende o leitor, fazendo-o querer descobrir o que cerca os fatídicos acontecimentos em torno da cidade de Hammerfest, é, sem dúvida, o que há de melhor em O Estreito do Lobo. O autor consegue, de forma rica e objetiva, mostrar detalhes dos costumes locais, além das visões de diferentes personagens, incluindo aqueles que estão prestes a morrer. Truc não se limita apenas ao ponto de vista dos investigadores, como acontece em alguns romances policiais; ele se preocupa em desenvolver bem cada movimentação dos personagens e explicitar a razão de suas atitudes. No fim, o grande mistério é desvendar por que as mortes aconteceram, mais do que encontrar um culpado.

Outro fator que chama atenção na obra é que no começo de cada capítulo tem a data, a hora que o sol nasce e se põe e o tempo de luz solar. No decorrer da história, conforme chega mais próximo do verão, aumentam as horas de claridade e isso reflete no comportamento dos personagens e na tensão da narrativa. A apropriação da natureza local é fantástica e um ingrediente especial de O Estreito do Lobo.

Estreito do lobo inicio de capítulo

Apesar de desenvolver bem os personagens, Olivier Truc parece esconder o jogo em relação aos protagonistas. Em O Estreito do Lobo, vemos a busca de Nina pelo seu pai, um mergulhador de plataforma, e Klemet lidando com problemas sobre a sua origem. No entanto, a dupla me pareceu pouco trabalhada. Porém,  como acredito que eles ainda aparecerão em outros livros, Truc está perdoado. Assim, fico no aguardo das próximas investigações.

*povo ancestral da região Hammerfest, cidade portuária no extremo norte da Noruega

 

 

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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