O Despertar do Príncipe, de Colleen Houck | Resenha
‘O Despertar do Príncipe’: Colleen Houck arrebata novamente com outra mitologia, nos proporcionando uma viagem fantástica e épica ao Egito
Até onde podemos ir pelo amor? Qual é a nossa capacidade de simplesmente jogar tudo para o alto e embarcar numa aventura, que, acima de tudo, poderá levar a uma jornada de autoconhecimento? Porque, na maioria das vezes, é mais fácil, para não dizer cômodo, simplesmente deixarmos as coisas do jeito que estão, especialmente se for uma realidade satisfatória, do que encararmos algo incerto e que nos obriga a lidar com as nossas próprias inseguranças e medos. Novamente, Colleen Houck, autora da Saga do Tigre, nos faz refletir sobre o que, de fato, queremos e o quão dispostos estamos a correr atrás dos nossos próprios sonhos (se você, como eu, também se envolve literalmente com a história e o dilema dos personagens), tudo isso no meio de uma nova cultura, brilhantemente apresentada pela autora. Desta vez, viajamos com Colleen para o Egito em O Despertar do Príncipe, o primeiro volume da série Deuses do Egito, publicado, assim como seus outros livros, pela editora Arqueiro.
Na trama, Lilliana Young é uma jovem de 17 anos e parte de uma família rica e tradicional dos Estados Unidos. Até que, durante as suas férias, em uma visita ao Museu Metropolitano de Arte – um de seus lugares preferidos -, ela é surpreendida pela presença de um príncipe egípcio em carne, osso e algumas ataduras. Sim, porque o rapaz em questão possui poderes divinos, além de ter sido amaldiçoado há muito tempo, o que significa que ele desperta uma vez a cada mil anos de mumificação. Como se isso não fosse o bastante, Lilly acaba se envolvendo numa aventura repleta de mistérios e magia, na qual ela terá que ajudar o príncipe a despertar os seus irmãos para que eles possam realizar uma cerimônia grandiosa para salvar a humanidade.
É humanamente impossível não comparar as duas sagas da autora, visto que ambas compartilham algumas semelhanças em sua estrutura: temos uma protagonista feminina, de personalidade forte, porém, bastante insegura; uma jornada épica ao lado de um protagonista masculino charmoso e exótico; maldições antigas; cultura estrangeira. Não que isso seja ruim, pelo contrário. Essa estrutura me agrada, e muito. Gosto desse tipo de história. E Colleen Houck consegue se desvencilhar de sua primeira série em O Despertar do Príncipe justamente por saber, de maneira singular e bastante leve, trazer uma nova cultura às suas páginas. A narrativa bem detalhista é outro trunfo de seus livros. Tanto na Saga do Tigre quanto em O Despertar do Príncipe, a escritora nos faz viajar a lugares diferentes e ainda pouco explorados. É impressionante como podemos perceber o cuidado e a atenção que ela teve na pesquisa e em cada informação que compartilhou com os leitores sobre o Egito, nesse caso.
Narrado em primeira pessoa, O Despertar do Príncipe nos traz uma personagem bastante parecida com Kelsey – da Saga do Tigre -, mas, em minha humilde opinião, com uma grande vantagem em comparação à antecessora: atitude. Sim, Lilly e Kelsey têm semelhanças – incluindo algumas habilidades, como saber desenhar -, mas Lilly se mostrou infinitamente mais decidida e destemida do que Kelsey. Pelo menos, Lilly não parece ter sido tomada por uma TPM interminável a partir da metade do livro, como Kelsey, em A Maldição do Tigre. Lilliana vem de uma família rica, mora na cobertura de um hotel e sempre teve tudo do bom e do melhor. Mas nunca foi totalmente feliz. Sempre a incomodou o fato de ser, como ela mesma se considerava, uma “marionete” dos pais, ou algo parecido. Porém, ela também nunca havia feito nada para reverter a situação. Até o momento em que uma tarde no museu mudaria a sua vida, e ela mesma. Ao conhecer o belo, charmoso e imponente Amon, Lilliana vira Lilly e assume a personalidade que sempre desejou. Cheia de medos, porém, estimulada pelos impulsos e pela vontade de experimentar o mundo como nunca foi possível, a jovem se joga não apenas numa aventura fantástica e mágica, mas também ao amor que ela jamais pensou ser capaz de sentir ou viver.
É interessante e até divertido acompanhar os receios de Lilly ao se deparar com um mundo novo e completamente absurdo para a nossa realidade. Mas é perfeitamente fácil criar certa afinidade e identificação com a personagem. Quem nunca se questionou e ansiou por uma mudança? Ou sentia que não se encaixava? Agora, por falar em amor, Colleen Houck também parece ser uma especialista em personagens masculinos apaixonantes. E olha que em O Despertar do Príncipe são três! Para todos os gostos. Cada um deles apresenta uma característica única que o torna especial se comparado aos outros dois. E isso é fantástico! Amon, Asten e Ahmose são criaturas incríveis e muito, mas muito cativantes. E o interessante é que, apesar de Amon aparentemente ser o personagem masculino principal, seus dois irmãos possuem funções importantes e sua participação na trama é imprescindível. A química e a dinâmica de todos dá fluidez à leitura, uma vez que é impossível largar o livro até sabermos o que acontecerá com eles. Acredito que Asten e Ahmose terão seus momentos de protagonistas nos outros livros, e isso só me desperta ainda mais curiosidade.
Como qualquer bom livro de Colleen Houck, o romance não pode faltar. Esse, é claro, não foge à regra. Embora eu tenha achado o desenrolar do relacionamento presente na história um pouco forçado em alguns momentos (algo que também me incomodou na Saga do Tigre), eu, como romântica incurável que sou, abstraí e me deixei levar. Nada que prejudique a jornada de Lilly e dos príncipes egípcios, muito menos a nossa, na leitura. E não tem como não falar também do trabalho impecável da editora. Mais uma vez, a Arqueiro nos presenteia com uma capa simplesmente maravilhosa! Daquelas que, mesmo você não sabendo do que se trata o livro, sente que PRECISA tê-lo na sua estante. Com cenas arrebatadoras e um ritmo ágil, O Despertar do Príncipe confirma o que todos nós já sabíamos depois de conhecer Collen Houck e suas obras: a autora é uma exímia contadora de histórias, com uma capacidade única de nos levar a outros mundos e nos apresentar às mais diversas culturas!
Se você quer saber mais sobre O Despertar do Príncipe e as outras obras da autora, confira a matéria que fizemos sobre o bate papo que ela participou na Bienal do Livro aqui!