Revival, de Stephen King | Resenha
‘Revival’: uma obra eletrizante e perturbadora do mestre do terror
Encontros. Um instante em que dois ou mais indivíduos têm seus destinos cruzados. Grande parte deles pode até ser insignificante, mas, às vezes, é capaz de transformar radicalmente uma vida. Coincidências ou obra de um roteiro divinamente pré-determinado? Uma pessoa pode marcar essa trajetória. Modificar o pensamento do outro, resvalando em atitudes. Quem nunca sentiu esta ligação com alguém? Meio tenso, não? Revival, de Stephen King e publicado pela Suma de Letras, percorre a estranheza do elo que une as pessoas, abordando vícios, fé, eletricidade e questionando a existência humana.
Jamie Morton tinha seis anos quando encontrou pela primeira vez o reverendo Charles Jacobs, que acabara de se mudar com sua bela esposa e filho com a missão de reascender a fé em uma cidadezinha da Nova Inglaterra. A empatia entre os dois foi instantânea. Em pouco tempo, os discursos do jovem pastor contagiaram a todos e encheram a igreja. A comunidade vivia em paz, até que uma fatalidade arrasa a família do pastor, culminando na expulsão do mesmo da congregação. Após o incidente, Jamie ficou décadas sem vê-lo, até que, aos 30 e poucos anos, completamente perdido na vida, drogado, reencontra o antigo pastor, que o ajuda e lhe dá uma nova chance. A partir daí, o elo entre eles se fortalece, e o modo como Jamie vê o mundo nunca mais será o mesmo; o sentido da vida poder se bem mais aterrorizante/”eletrizante” do que ele imagina.
Em Revival, as passagens temporais acontecem próximas aos reencontros de Jamie com Charles Jacobs – ou a algo sombrio relacionado ao antigo pastor -, e conduzem a narrativa. É interessante observar o envelhecimento do protagonista (nos capítulos finais), assim como a evolução do elo entre os dois, que cada vez fica mais intenso e sinistro. Esses são pontos muito bem tralhados no livro. A escrita de Stephen King, como não poderia ser diferente, é absurdamente envolvente. É impressionante a facilidade do autor de prender o público nas páginas (O.K., eu ainda me surpreendo com este talento).
Apesar de não ser profundo conhecedor da obra de King, ainda, já consumi diversos filmes baseados nos seus romances e notei que alguns detalhes presentes em Revival aparecem em outros trabalhos do autor. O mais descarado é a citação do parque Joyland, que dá título a outra publicação lançada em 2015, também pela Suma de Letras. Além disso, algumas situações, como lidar com a perda ou a reclusão em construções isoladas, são “revividas” no livro. Pesquisando na internet, é possível identificar inúmeras outras. Certamente, os fãs fervorosos vão se deliciar ainda mais com a leitura.
Revival aborda muito a fé, a religião.O que acontece depois da morte? Um assunto que desperta grande curiosidade e tensão, o condutor do medo na obra de Stephen King. O livro também contempla elementos do grotesco, destacando a ousadia e a criatividade do autor, que se misturam a uma reflexão pouco usual sobre a temática. Isto é o mais desconfortável de toda a experiência de leitura. Um prato cheio para o gênero, no qual é crucial trazer o desconforto. Tirar o leitor da quietude de ler um livro para embarcar em pensamentos aterrorizantes.
Como se não bastasse toda a tensão do clímax da história (o momento da grande revelação), o capítulo final traz algumas cenas chocantes. Pois é, quando o leitor pensa que acabou, King brinda o público com uma série de eventos de cair o queixo. Plausível, porém, exagerada. Mas é uma questão pessoal. Analisando puramente pelo lado do terror – de, quanto mais atrocidades, melhor – digamos que seja, de fato, um final esplendoroso. Aliás, a obra como um todo. Revival é uma ótima oportunidade para quem deseja se envolver em uma trama aterrorizante, escrita pelo mestre.
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