Entrevista: Sensacionalista
O Vai Lendo conversou com os divertidos criadores do ‘Sensacionalista’, o portal de humor que publica falsas notícias diárias e que, agora, sairá em livro pela editora Belas-Letras
As notícias são basicamente surreais. Repletas de humor e ironia, mas, lá no fundo, poderiam muito bem trazer um pouco de verdade. Até porque, elas vêm de quatro mentes extremamente criativas, que não perdem tempo em transformar situações do nosso cotidiano em sacadas simplesmente sensacionais. Ou Sensacionalistas. Criado em 2009, o maior portal de humor do país que reúne falsas notícias diárias para a diversão de seus mais de dois milhões de visitantes sai das telas do computador para as mãos dos leitores. No dia 1º de abril – acredite se quiser -, chega às livrarias nacionais o livro do Sensacionalista – Pagar Por Um Livro Que Está Na Internet É Sinal de Genialidade, Dizem Especialistas, pela editora Belas-Letras, com as melhores manchetes do portal e ainda conteúdo inédito. O Vai Lendo bateu um papo muito engraçado com Nelito Fernandes, Martha Mendonça, Marcelo Zorzanelli e Leo Lanna, os idealizadores do site, sobre a nova empreitada, as dificuldades de se trabalhar com o humor na internet e o sucesso do portal, que, apesar de ser totalmente “isento da verdade”, consegue representar a opinião de muita gente, de maneira crítica, porém leve e divertida. Por falar nisso, confira e divirta-se com as respostas abaixo:
Vai Lendo – Pegando o próprio gancho de vocês, por que pagar por um livro que está na internet?
Martha: Primeiro de tudo, para nos fazer felizes. Depois, para quem é fã poder ter em casa uma coletânea de nossas melhores notícias. De alguma forma, esse livro conta um pouco da História recente do Brasil e do mundo.
Nelito: Porque o site não serve para matar mosquito – e isso, hoje em dia, é muito útil.
Leo Lanna: Para ter o que fazer na hora que o wi-fi cair. Sensacionalista também é prestação de serviço.
Marcelo: Para testar nossa popularidade.
Vai Lendo – Como foi a transição do conteúdo do ‘Sensacionalista’ da internet para um livro físico? Qual foi o critério para decidir o que entraria no livro?
Martha: Nossos editores foram os curadores do livro. Eles dividiram em assuntos e escolheram as melhores – e aprovamos depois. Melhor assim, porque, para nós, seria muito difícil fazer essa seleção. Fizemos ainda alguns textos inéditos em cada editoria, também, para o leitor não achar que foi 100% enganado. 🙂
Nelito: A gente imprimiu todas as páginas do site, jogou para o alto e pegou alguns textos que estavam voando.
Leo Lanna: Colocamos os textos impressos formando um círculo em uma mesa e um copo no meio. O copo foi nos orientando.
Marcelo: Voto com a relatora Martha Mendonça.
Vai Lendo – Quando vocês perceberam a necessidade de entrar no mercado literário?
Martha: Na verdade, essa necessidade não existe, mas o papel ainda tem seus encantos. Ter um livro dá a ideia de perpetuação do nosso trabalho.
Nelito: Porque, em alguns anos, poderemos dizer aos nossos netos: “olha, já existiu livro, aqui”
Leo Lanna: Logo após o lançamento de O Doce Veneno do Escorpião. Nos inspirou a lançar nosso primeiro livro A História Sensacionalista do Brasil.
Marcelo: Acho que pelo fato de sermos três jornalistas e um historiador. Amamos livros, devemos tudo a eles.
Vai Lendo – Qual a expectativa de vocês em relação ao livro?
Martha: Que venda mais do que Nicholas Sparks e J.K Rowling.
Nelito: Que ele sirva como algo a ser guardado para sempre pelos leitores como uma lembrança do tempo em que existia jornal.
Marcelo: Que não nos envergonhe.
Vai Lendo – Qual o maior desafio de se trabalhar o humor na internet, hoje em dia, com a questão do politicamente correto?
Martha: O mesmo de outras mídias: identificar os limites do humor, equilibrar o que vale a pena brincar e o que não vale. Costumamos dizer que preferimos bater no opressor do que no oprimido – isso já funciona como um norte para nós.
Nelito: Hoje, a sociedade já não aceita mais certos tipos de piadas que já foram feitas no passado. Dizem que o politicamente correto vai matar o humor. Talvez, mate o humor fácil. É mais difícil fazer humor sem as mesmas piadas preconceituosas de sempre. Mas acho que, às vezes, a reação é exagerada. Ainda não temos um equilíbrio. Se você elege determinado grupo como “intocável”, então, já está segregando.
Leo Lanna: O maior desafio é ficar o tempo inteiro vigiando se estamos “batendo” do lado certo e que continuamos engraçados.
Marcelo: O desafio é o mesmo que todo mundo tem no dia a dia: exercitar a tolerância e buscar se informar melhor antes de se manifestar. Damos certo porque fazemos as duas coisas, acredito.
Vai Lendo – A data do lançamento do livro foi premeditada? Lançar um livro isento de verdade no dia 1º de abril é, no mínimo, irônico.
Martha: Foi mais ou menos premeditado. Abril já era mesmo a previsão de lançamento. Então, achamos que o dia 1º seria bastante simbólico. Mas, apesar da brincadeira, a gente sempre reforça: não somos um “site de mentiras”. Somos um site de humor feito em forma de linguagem jornalística.
Nelito: Tomara que acreditem.
Leo Lanna: Na verdade, é uma homenagem ao aniversário da Ana Maria Braga. Somos muito fãs.
Vai Lendo – Vocês acreditam que o sucesso do ‘Sensacionalista’ se deve à frustração ou ao cansaço das pessoas com as ditas verdades publicadas atualmente? Acham que a forma como vocês publicam os fatos da realidade representa o que as pessoas realmente pensam?
Martha: Acho que, em primeiro lugar, o sucesso se deve ao fato de nossas manchetes serem engraças e críticas. Depois, pela identificação que as pessoas sentem, como se disséssemos aquilo que elas já pensavam e gostariam de dizer ou ver dito. Na verdade, funciona da mesma forma que qualquer texto de humor, de qualquer mídia: graça/crítica + identificação.
Nelito: Acho que dá certo porque, na maioria das vezes, é engraçado. Os mecanismos que fazem alguém rir são muito individuais. Não acho que exista uma fórmula ou explicação. Muita gente ri de anedotas, outros preferem humor mais “inteligente”. Eu não saberia explicar o sucesso, até porque, se soubesse, a gente acertaria 100% das manchetes, o que não é o caso.
Marcelo: Acho que o jornalismo brasileiro eticamente está na UTI. Ninguém aguenta mais as cartas marcadas sendo jogadas todos os dias, a mesma gasolina sendo jogada na fogueira do Fla x Flu ideológico… É um insulto à inteligência do leitor/espectador. Apontando o absurdo com a ironia, penso que estamos fazendo um serviço.