Resenhas

Quando o Vento Sumiu, de Graciela Mayrink | Resenha

‘Quando o Vento Sumiu’: as escolhas que podem mudar a nossa vida

Quando o Vento sumiu 3Sabe aquela conversa com o(a) seu(sua) melhor amigo(a)? Aquela que começa despretensiosamente e acaba como uma terapia e reflexão sobre a vida? Pois é isso o que a autora nacional Graciela Mayrink nos proporciona em Quando O Vento Sumiu, seu primeiro livro lançado pela L&PM Editores. Mais do que um livro juvenil, a obra nos permite uma viagem ao tempo à adolescência e à juventude de maneira bastante leve, nos faz reviver momentos delicados e surpreendentes e repensar atitudes passadas e, inclusive, as consequências para o futuro.

A trama acompanha três jovens amigos, Susan, Mateus e Renato, que, apesar das notórias diferenças, compartilham uma verdadeira e sincera amizade. O trio, que se conheceu na escola, agora estuda na mesma universidade. Susan faz Turismo, enquanto Mateus e Renato estudam Engenharia Civil. Como toda rotina de um jovem, entre aulas, festas e coração apaixonados e arrasados, eles têm os seus problemas, medos e  inseguranças. Mateus, por sua vez, foi profundamente afetado por um incidente ocorrido com o seu pai, que está preso, Susan vive há anos um amor totalmente platônico por Renato que, por sua vez, só quer saber de praia e vida boa, a despeito das inúmeras tentativas de seu pai de fazê-lo tomar um jeito na vida e assumir os negócios da família. Ao longo do tempo, essa amizade é testada e os três passarão por experiências que mudarão seu futuro.

Não, essa não é mais uma obra sobre um triângulo amoroso cheio de desencontros e reviravoltas. Pelo contrário, e esse é o trunfo do livro. Mais do que o amor, Quando o Vento Sumiu é uma representação da amizade, em todas as suas formas, dificuldades e aprendizado.  De como as nossas escolhas não afetam apenas nós mesmos, mas também e, às vezes, principalmente aqueles que estão à nossa volta. A linguagem de Graciela é descolada e ágil, dando fluidez à trama e facilitando a identificação. Sim, porque Susan, Mateus, Renato, Rebeca e tantos outros personagens também poderiam ser a gente. Desafio algum leitor a não se reconhecer em PELO MENOS uma situação ou personagem (a não ser que você já tenha nascido com mais de 25 anos e, em caso positivo, seja um objeto de estudo científico). E justamente por isso o livro é capaz causar as mais variadas emoções, desde o repúdio (alguém consegue suportar a mãe da Susan?), passando pela incredulidade, pelo ressentimento (ainda não sei lidar com o pai do Mateus), até aquele sorriso no rosto causado por cenas mais doces e, sim, românticas, mas também de muita união, coragem e superação. Porque a vida é assim. Temos os nossos altos e baixos, nossos defeitos e qualidades, mas o que importa é sabermos quem está do nosso lado para enfrentar todas as situações e nos amar e nos respeitar do nosso próprio jeito. Isso é ser um verdadeiro amigo.

Quando o Vento Sumiu 1

A própria Graciela disse uma vez, em um dos encontros com os leitores, que seus personagens masculinos são melhores que os femininos. Depois de ler Quando o Vento Sumiu, eu até concordo, porém, em partes. Porque duas personagens femininas me marcaram durante a leitura: Susan e Dona Eulália, a mãe do Mateus. Apesar de o livro ser em terceira pessoa, é Susan quem se sobressai na narrativa e, talvez, por isso gere maiores discussões. No entanto, por mais indecisa e insegura que seja, ela soube agarrar uma oportunidade que a vida lhe ofereceu de mudar. De buscar uma nova chance. É impossível julgá-la a respeito de suas atitudes, pois ela é uma personagem extremamente verossímil e natural. Ela pode ser eu, você, qualquer um de nós. Quem nunca teve um amor platônico? Quem nunca resolve nutrir um amor em segredo pelo medo de arriscar e de ser rejeitado(a) ou estragar uma amizade? Isso acontece o tempo TODO e com TODO mundo. E Dona Eulália é o exemplo de mãe que acredita no amor e na família acima de tudo. É a mulher batalhadora que, apesar das pancadas e rasteiras que recebe da vida e daquele que ama, ainda consegue achar um motivo para sorrir e tentar seguir em frente: seu filho Mateus. O problema é que o amor acaba sendo o seu ponto fraco. Mais uma vez, impossível julgá-la, afinal, “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Precisamos aceitar? Não. Mas eu tentei entendê-la, ao longo do livro. É muito difícil.

Em relação aos personagens masculinos, Mateus foi tão bem construído que a impressão que eu tive foi de conhecê-lo na “vida real”. De verdade. Obviamente, ele é o tipo de cara que você gostaria de ter por perto e, quem sabe, ter a sorte de Susan. Diferentemente de Renato. Por mais amigo que ele seja e por mais que se importe com Mateus e Susan, nosso santo não bateu. Pois, na hora em que ele deveria se mostrar amigo de verdade, ele se preocupou apenas com os seus sentimentos. Não irei me estender muito para não tirar o prazer dos futuros leitores. Mas é importante para a história ter esse misto de personalidades, já que a trama é um retrato da realidade. Graciela parece saber expor exatamente aquelas questões que, muitas vezes, guardamos para nós mesmos ou pensamos não ter solução.

QUANDO O VENTO SUMIU 2

Outra coisa que achei bastante interessante foi o fato de o livro começar no que seria o “presente” e, a partir de uma conversa, sermos transportados para o passado dos protagonistas, para, enfim, acompanharmos o desenrolar de suas vidas até chegarem ao ponto em que eles nos foram apresentados. Isso não apenas difere um pouco a narrativa, mas também estimula e muito a nossa curiosidade. Eu queria entender o porquê daquilo tudo. E, olha, fui surpreendida. De verdade. Graciela soube como, em poucas páginas finais, me levar do desespero ao alívio, do choro contido ao sorriso. Mas isso também deixo para vocês descobrirem – quem ainda não sabe do que se trata – porque dá total sentido à premissa do livro.

É muito gratificante, mais uma vez, ter em mãos uma obra nacional objetiva e verdadeira. Uma história pode ser simples e tocar o coração, mostrando simplesmente o ser humano da maneira mais natural possível. E acho que, por se tratar de um livro com referências da nossa própria realidade e ambiente, isso torna tudo ainda mais simbólico e emocionante. As escolhas sempre farão parte das nossas vidas. Por mais difíceis que elas possam ser e por mais que tenhamos medo de encarar as consequências. Quando o Vento Sumiu não se omite de mostrar essas reações e o resultado de atitudes impulsivas (não MESMO), mas o mais importante é sabermos que temos essas escolhas. Que não é tudo preto no branco. O final da nossa história somos nós que escrevemos. Literalmente.

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Quando o Vento sumiu Ficha Técnica

 

 

 

 

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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