A Fúria e a Aurora, de Renée Ahdieh | Resenha
‘A Fúria e a Aurora’: uma releitura de um clássico capaz de despertar mil e uma emoções
Uma história clássica, sedutora e envolvente contada por gerações. Uma releitura igualmente apaixonante, cativante, agora, um pouco mais contemporânea, ágil e sexy. É esse o turbilhão de emoções causado pela leitura de A Fúria e a Aurora, de Renée Ahdieh, inspirado na atemporal e mágica trama de As Mil e Uma Noites, publicado pelo Globo Alt, o selo jovem da Globo Livros.
Renée traz uma nova perspectiva para a conhecida história de Sherazade. Ela se oferece para desposar Khalid, o jovem rei de Khorasan, conhecido como um homem frio, cruel e assassino, responsável pela morte de centenas de moças que foram obrigadas a se casar com ele e, na manhã seguinte apareceram mortas. Quando sua melhor amiga é uma das vítimas do califa, Sherazade resolve colocar um fim ao triste destino das mulheres do reino e se vingar daquele que lhe tirou a alegria. Então, noite após noite, a jovem seduz Khalid com suas histórias que lhe garantem mais um dia, uma nova aurora.
Guardadas as devidas proporções e comparações, A Fúria e a Aurora segue a premissa do clássico, contudo, a autora imprime um ritmo mais dinâmico à trama, com uma narrativa tão sublime que chega a ser quase poética. Que diálogos incríveis. As cenas são tão bem construídas por Renée que somos transportados para o seu universo da mesma forma que Sherazade faz com Khalid. Porque foi essa a sensação que eu tive ao longo do livro. A capacidade descritiva da autora é impressionante e me envolveu logo nas primeiras páginas. Fui catapultada para aquele universo cheio de curiosidades sobre uma nova cultura. Confesso que não costumo gostar muito de glossários por achar que, em boa parte das vezes, eles prejudicam um pouco a leitura por ter que voltar e conferir as informações. No entanto, nesse caso, o glossário não só se fez muito necessário, como tornou tudo ainda mais interessante. Fora que, nas vezes em que eu dava continuidade por já entender o termo em questão, me senti ainda mais inserida em todo o contexto, no livro em si. Praticamente uma local. Foi uma verdadeira imersão. Sim, eu sou dessas. Gosto de entrar nas histórias, quase literalmente.
E o que falar das personagens? A dualidade, as características fortes, as personalidades eletrizantes, a essência… Impossível não se identificar, não amar, não odiar, e não amar odiar ou, até mesmo, não odiar por amar. Deu para entender? Sherazade é a fúria indomável. Destemida, obstinada, corajosa, língua afiada e, ao mesmo tempo, romântica e vulnerável. Vulnerável quando perde o controle da situação e se vê no meio de um conflito interno capaz de afetar significativamente o mundo externo. Mas o interessante é ver que até uma pessoa tão leal, tão determinada e convicta de seus ideias também tem as suas dúvidas e inseguranças e pode ser surpreendida por suas próprias emoções, que colocarão à prova os seus valores e tudo em que acreditava. Ao mesmo tempo, para mim, Khalid poderia ser representado pela aurora que juntamente com a certeza irrefutável de um novo dia traz ainda os receios e instabilidade das mudanças e do desconhecido. Para Khalid, é cômodo ser reconhecido apenas pelo julgamento de seu povo, principalmente para ele não ter que lidar com a sua dura realidade e sina. Todavia, seu coração é capaz de transformar o monstro no príncipe.
E é aí que, mais uma vez, Renée acerta em cheio. Pois essa ambiguidade dos protagonistas também os faz trocar de lado em determinadas partes da história. A fúria de um pode ser a aurora de outro. Para mim, tudo depende do ponto de vista. Pois Sherazade também representou para Khalid uma aurora cheia de esperança e a expectativa de um novo futuro. Enquanto Khalid, para Sherazade, era a fúria que, a princípio, despertava os seus sentimentos mais primitivos, cegando-a e reprimindo-a. Gente, eu sei. Olha a viagem, mas impossível não filosofar com essa leitura. É de uma leveza e sensibilidade tão grandes que você acaba sendo influenciado. A minha impressão era de estar acompanhando duas histórias igualmente emocionantes, através de Renée e de Sherazade. Me senti extremamente sortuda como leitora.
Renée foi capaz de trazer uma nova perspectiva para uma história clássica, o que não é pouca coisa. E mais: deu vida ao seu próprio mundo mágico e nos levou junto. Subimos no tapete mágico de suas palavras e viajamos por entre as páginas de um romance encantado e apaixonante. Sofremos e torcemos. Questionamos e refletimos. Resumindo, passamos pela mesma experiência de Khalid ao sermos apresentados a uma história totalmente hipnotizante, que nos faz querer sempre mais. E, assim como ele, também precisamos esperar até a próxima aurora para sabermos o final. Só espero que ela chegue logo!
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Um comentário
Elizabeth
Adorei