Entrevista: Samanta Holtz
Em entrevista ao Vai Lendo, Samanta Holtz fala da expectativa do lançamento de seu novo livro pela Arqueiro, de personagens femininas fortes e do amor de infância pela literatura
Tem gente que nasce para ser escritor. Que já vem ao mundo com o dom das palavras e acompanhado(a) de páginas que, mal sabem, transformarão em obras inesquecíveis com personagens marcantes. E assim foi com a escritora nacional Samanta Holtz, que, desde pequena, mesmo sem compreender as letras que apareciam à sua frente nas histórias que ouvia, já sabia da importância dos textos em sua vida. Não à toa, ela nasceu no dia 23 de abril, o Dia Mundial do Livro. Coincidência? Que nada. Estava escrito! E com a certeza de que iria viver nesse universo literário, Samanta vê, hoje, seu sonho sendo realizado ao se tornar uma renomada autora em seu próprio país e se prepara para lançar o seu novo livro, Quando o Amor Bater à Sua Porta, pela editora Arqueiro – que publica aqui no Brasil escritoras internacionais de renome, como Nora Roberts e Lucinda Riley -, na Bienal de São Paulo, em agosto.
Em entrevista ao Vai Lendo, Samanta contou que desde a infância ela se viu rodeada por livros e ficava totalmente fascinada pelas histórias que seus pais e o avô contavam. E a curiosidade para entender o que estava escrito nos livros foi tanta que ela decidiu aprender sozinha mesmo, aos cinco anos. A partir daí, acompanhada pelos gibis da Turma da Mônica, Samanta descobriu não apenas o amor pela leitura, mas também pela escrita. Adorada pelo público e aclamada pela crítica, a escritora comemorou o lançamento de seu livro pela Arqueiro, o que, para ela, é o reconhecimento do seu trabalho, mas confessou que a ficha ainda está caindo.
“É uma sensação maravilhosa (ser publicada pela Arqueiro)!”, afirmou. “A Sextante / Arqueiro não costuma receber e analisar originais não solicitados. Então, quando manifestaram interesse em ler meus manuscritos, apenas isso já me deixou honrada… Ser aprovada, então, foi um sonho realizado! Sei do rigoroso critério de seleção que eles têm para autores, e estar lá é uma validação pessoal da qualidade e da força do meu trabalho! Uma sensação indescritível. Ser colega de editora dessas divas internacionais, além de grandes renomes nacionais como Paulo Coelho, Thalita Rebouças, Augusto Cury… Só tenho uma palavra para isso: “UAU”! (risos). Não sei se a ficha já caiu. Talvez, comece a cair na Bienal de São Paulo, que será o primeiro evento de lançamento do livro, minha primeira participação efetiva na editora. Estou muito feliz e honrada em ser parte desse time, composto de pessoas cujas histórias e trajetórias são, sim, grandes exemplos que carrego comigo!”.
Em Quando o Amor bater à Sua Porta, Samanta apresenta um romance de tirar o fôlego, através de uma jornada de autoconhecimento, confiança e também de esperança. Para a autora, esses são alguns valores difíceis de serem encontrados atualmente, mas não impossíveis. Criadora de personagens femininas fortes, com histórias de vida marcantes e de superação, Samanta disse acreditar ainda que os livros podem ajudar as pessoas a tirarem lições para as suas próprias vidas e ressaltou que esse é um dos seus principais objetivos ao escrever e a sua maior recompensa, ao receber o carinho e o retorno dos leitores.
“Acredito que a ‘jornada do herói’ (ou, no caso, das heroínas!) pede essa evolução”, concluiu. “Toda boa história, seja ela um filme ou livro, precisa que o protagonista a encerre diferente de como a iniciou – normalmente, para melhor! (risos). Eu gosto de trabalhar essa evolução com base na superação, pois acredito que todo leitor que pega meus livros para ler tem sua própria batalha interna a ser vencida. Todos temos nossos medos, traumas, dilemas, desafios e crenças. E, muitas vezes, através da vivência da personagem, da sua coragem, do seu aprendizado, acabam levando algo que serve também para suas próprias feridas. Recebo tantos depoimentos maravilhosos de pessoas que, após lerem meus livros, sentiram-se transformar em algo, tomaram uma decisão importante, perdoaram ou pediram perdão a alguém… Isso não tem preço! Transformar o mundo, mesmo que um pouquinho, através dos meus livros, isso é o que eu REALMENTE sempre sonhei. É essa a minha grande recompensa! E não é que eu escreva meus livros na intenção de que haja uma ‘autoajuda disfarçada’… Desde que eu retrate com sinceridade as emoções, medos e defeitos das personagens, o leitor vai se conectar e vai aprender com ela. Porque saberá que não é uma figura endeusada nas páginas de um livro; é um ser humano em aprendizado, errando e acertando, assim como ele. E eu adoro escrever histórias carregadas de emoção!”.
Por falar em leitores, o sucesso com o público é a principal fonte de inspiração da escritora, vencedora de vários prêmios literários, boa parte deles pelo voto popular. O que não deixa de ser uma surpresa, visto o total entrosamento que Samanta mostra ter com os seus fãs e a gratidão que a autora demonstra por aqueles que têm o prazer de acompanhar as suas histórias.
“O relacionamento com meus leitores, o contato, o carinho, tudo isso é o que me move e me inspira a escrever histórias cada dia melhores”, declarou. “Fiquei muito emocionada quando, pouco tempo atrás, descobri que eu havia sido uma das autoras mais votadas em uma enquete da qual eu nem tinha ouvido falar. Pensei: ‘poxa, eles votaram em mim sem eu precisar fazer campanha pedindo para que votassem’ (risos). O mais legal é que eu percebo que eles não gostam de mim apenas pelas histórias que escrevo, mas também pela atenção e carinho sinceros que dedico a eles. Sempre fui assim, sempre amei conversar, sempre amei o ser humano! E acredito que isso reflita de forma positiva, sim, pois quem é que não gosta de receber atenção, de ser tratado com carinho? Não que eu faça isso de forma intencional para que comprem meus livros, mas já percebi que reflete… Nas Bienais, por exemplo, já aconteceu várias vezes de alguém parar para conversar comigo e comprar meus livros ‘porque gostou muito de mim’ (risos). E, felizmente, gostaram do livro também, depois! Gentileza só traz o bem! E, quando um leitor me procura, seja qual for o assunto, sou incapaz de ignorar. Não os vejo como ‘clientes’, pessoas que compram meus livros e geram números… São seres humanos que merecem minha atenção e meu respeito. Sou muito grata por perceber que eles sentem e reconhecem isso!’.
Como uma criança leitora, Samanta sempre teve a literatura presente em sua vida. No entanto, ela reconheceu a falta de incentivo à formação de novos leitores e culpou a falta de boa vontade e a mentalidade daqueles que deveriam dar o exemplo às crianças. Para ela, os pais atualmente se preocupam tanto com outras questões que se esquecem de aproveitar os pequenos momentos com os filhos, incluindo a hora da leitura.
“Minha mãe comprava as histórias em quadrinho do Maurício de Sousa para mim e para minhas irmãs, e eu não via a hora de saber ler para poder devorá-los sempre que quisesse, sem depender de alguém”, contou. “Lembro-me bem do dia em que eu percebi que conseguia ler. Estava com um gibi e percebi que entendia as palavras no balãozinho da fala. Então, corri até minha mãe e perguntei se estava escrito aquilo mesmo. E disse, toda orgulhosa: ‘Eu li!’. Eu acho a literatura importantíssima! Primeiro porque fomenta a imaginação, a criatividade e expande horizontes da criança, o que, por si só, já é um grande ganho. Mas nada vai mudar se a mentalidade de muitos pais continuar a mesma, pensando que basta ligar a televisão ou dar o ‘tablet’ na mão da criança para ela sossegar e ficar quieta. O que eu vejo, hoje, é muita gente cansada, frustrada, mal humorada…A partir do momento que somos mais positivos, mais otimistas e mais felizes (pois ser feliz é, antes de tudo, uma DECISÃO), tudo se torna mais fácil. E, hoje em dia, tem muita gente precisando agradecer mais e reclamar menos… Acredito que, assim, sobraria bem mais energia para dividirem momentos com os filhos, entre eles, o momento da leitura!”.
Autora de um gênero com forte concorrência no mercado editorial, principalmente de escritores estrangeiros, Samanta, no entanto, exaltou o bom momento da literatura nacional – que vem ganhando mais espaço não apenas nas livrarias, mas nas estantes dos leitores – e ressaltou que é fundamental manter as obras dos escritores brasileiros presentes na rotina do público para que eles ganhem cada vez mais força. Por isso mesmo, ela garantiu, não vê como “perda ou concorrência” quando alguém compra um livro de autoras renomadas de outros países. Pelo contrário, para ela, ter um livro com o selo da mesma editora pode estimular o interesse do leitor para conhecer outras obras, que não desses nomes.
“Eu mesma, antes de publicar meus livros, lia muito mais autores internacionais do que nacionais, e não é por achar que eles eram melhores, mas porque eram os que estavam em evidência, os que eu conhecia e ouvia falar”, explicou. “Hoje, com a literatura nacional ganhando mais espaço tanto entre as boas editoras quanto entre os leitores, isso tende a mudar. Quando ele chegar a uma livraria ou abrir um site de compras, não verá apenas nomes estrangeiros na vitrine ou na primeira página. Verá Samanta Holtz, Maurício Gomyde, Ricardo Valverde, Thalita Rebouças, Adriana Brazil. Quando acessar um blog literário ou conversar sobre livros com um amigo, lerá e ouvirá falar sobre Tammy Luciano, Lu Piras, Ricardo Ragazzo, Vinicius Grossos…”.
E, assim, com a alegria de quem faz o que ama e tem plena consciência do trabalho a ser feito constantemente, Samanta reforçou que é imprescindível continuar correndo atrás dos seus sonhos e não desistir mediante os obstáculos e principalmente as negativas. E sempre acreditar em si mesmo, porém, com bastante humildade.
“Fico muito feliz sempre que um leitor diz que eu sou um dos seus exemplos de vida, seja ele aspirante a escritor ou não”, declarou. “Como muitos deles acompanham minha carreira desde o comecinho, eles sabem quanto cada etapa foi desafiadora – o primeiro ‘sim’ que valia a pena, a alegria por cada livro vendido, a conquista de novas edições e novos contratos, a pirataria, o preconceito que alguns ainda carregam em relação a autores brasileiros… Quando eles veem alguém vencer todas essas barreiras e alcançar um grande sonho, sentem-se inspirados e com aquela sensação de que também podem. É maravilhoso proporcionar essa esperança, esse pensamento otimista, eu fico feliz demais com isso e incentivo muito! Temos muitos outros casos de autores brasileiros que começaram pequenininhos, em suas publicações independentes, e hoje estão estourando não somente no Brasil, mas também no mundo. O que me deixa ainda mais feliz é quando dizem que eu não sou apenas exemplo de superação e conquista profissional, mas também de humildade, de ser humano. E, se eu puder dar um conselho aos que desejam ingressar na carreira, o primeiro deles é: seja humilde. Sempre! Em qualquer etapa da carreira que você alcance, sempre trate os outros com igualdade, pois é o que somos: iguais. Mantenha-se sempre escrevendo, estudando, aprimorando sua escrita, pois não é um mercado em que as respostas costumam ser rápidas ou garantidas. Eu mesma escrevi por 10 anos antes de ter meu primeiro contrato de publicação, depois foram 4 anos até que a Sextante quisesse me contratar. No momento certo, você vai viver somente do seu sonho, mas tenha paciência, persistência, estude… não dê ouvidos aos resmungões de plantão, confie em seu trabalho, ouça opiniões, seja humilde em saber que sempre temos muito a melhorar… E boa sorte!”.
Um comentário
Samanta Holtz
Ju!!! Ameiiiii ser entrevistada por você 🙂 Muito obrigada pelo espaço e pela forma carinhosa como transcreveu a entrevista aqui no site!
Beijo enorme no coração!
Sam