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Confissões do Crematório, de Caitlin Doughty | Resenha

‘Confissões do Crematório’: a morte é a estrela do show. E que show…

O livro Confissões do Crematório, de Caitlin Doughty, publicado no Brasil pela Darkside Books, foi o tipo de livro que, quando eu vi a sinopse, fiquei eufórica e pulando de animação de um lado para o outro como a louca que sou. Porque, é sério, gente, esse livro era exatamente o tipo que venho esperando desde o dia em que descobri o meu estilo de leitura preferido – há uns bons anos.

O livro é uma narração em primeira pessoa, na voz da própria autora Caitlin Doughty, que traz para os leitores a sua vida como funcionária funerária.

Obs: acho que esse foi o resumo mais breve que já fiz na vida. Mas, de verdade, não tem mais o que falar que não possa ser considerado spoiler. E eu realmente acho que o que eu falei acima basta para dar uma ideia geral do que trata o livro.

O tema principal do Confissões do Crematório é a morte. Agora é a parte que você, cheio de ironia, diz: Nossa, Carol! Que grande novidade! (E me olha com evidente desdém).

Eu sei que a morte está presente em vários e vários livros, alguns com mais destaque e outros com menos. Mas, calma, a morte, nesse livro, não é retratada como geralmente é na maioria dos livros – como uma agente malvada, cujo objetivo é simplesmente finalizar algo grandioso e amado como a vida dos nossos personagens favoritos ou como um tipo de consequência. A morte, em Confissões do Crematório, está presente o tempo inteiro, é a grande estrela do show e, mais do que isso, a narradora – que é a própria autora – filosofa sobre ela, enquanto narra os seus dias de trabalho como profissional funerária. Mas o mais interessante, ao meu ver, é que a própria Caitlin vai, ao longo da história, mudando seu ponto de vista sobre ela e, principalmente, sobre como a sociedade ocidental a encara e sobre como ela mesma a encara.

Pessoalmente, acho que Confissões do Crematório foi um dos livros mais ricos que já tive o prazer de ler – e foi mesmo um genuíno prazer lê-lo. Não apenas pela temática que eu acho muito, muito interessante, mas pela imensa carga de pesquisa que a autora traz para o leitor. É o tipo de livro que você, ao terminar de ler – e gostar, é claro –, vai colocar na sua estante e olhá-lo com o carinho com que se olha para uma enciclopédia indispensável, cheia de informações que não se encontra facilmente em um único livro.

Enfim, acho que é um livro que vale a pena ser lido.

Ah, quase me esqueci de dizer outra coisa que eu achei bem legal. Na maioria das vezes – pelo menos para mim, que gosto de pesquisar sobre os autores dos livros que leio –, nós, leitores, temos a impressão de que os escritores são criaturas diáfanas e distantes, como se eles escrevessem em outro plano e enviassem seus livros para a terra – pelo menos, é essa a impressão fantasiosa que eu tenho muitas vezes. Mas não é assim com a Caitlin. Ela está literalmente no meio de nós – sem trocadilho, ok? E você poderá ver isso se olhar no final do livro, onde tem o endereço do site dela – o qual eu já visitei, achei interessantíssimo, e vi alguns vídeos, nos quais ela fala sobre a morte, curiosidades sobre a morte e algumas culturas bem diferentes das nossas sobre o assunto também. E eu achei tudo maneiríssimos… Enfim, me julguem.

Quanto ao trabalho da editora, a Darkside Books está de parabéns. Não apenas pela qualidade do material, que sempre é maravilhoso – sabemos que a Darkside nunca apresenta um livro menos do que lindamente construído e desenhado –, mas pelo conteúdo em si. Mas, enfim, a capa está excelente, a diagramação e a arte interna estão fantásticas, a revisão está ok, tem a maravilhosa fitinha marcadora de páginas e, para completar essa belezura de livro, as bordas das páginas são pintadas de vermelho, como todo o miolo do livro fossem como as chamas na capa – eu adoraria saber como se faz isso, como pintam as bordas das páginas, porque eu adoro esse efeito e a Darkside trabalha muito com isso, para a minha felicidade.

Por fim, dou meus sinceros cumprimentos a Caitlin Doughty, por toda a gigantesca pesquisa para trazer a nós, leitores, um livro tão diferente e esclarecedor – afinal, quem nunca ficou curioso a respeito da morte e todo o processo que a envolve? –, pela iniciativa de escrever esse livro interessantíssimo, pela imensa coragem de abrir as portas de sua própria vida para pessoas que ela sequer conhece e, principalmente, por conseguir criar uma viagem tão bacana e francamente bem humorada nessas 251 páginas que acabei de ler.

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Caitlin Doughty / Divulgação DarkSide

Recomendo muito esse livro para todos que se interessarem pelo assunto.

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