Alerta de Risco, Neil Gaiman | Resenha
‘Alerta de Risco’: uma antologia fantástica, misteriosa e perturbadora
A resenha de hoje é de um livro que acabou se tornando bem especial para mim, por ter me feito lembrar de uma coisa crucial e que eu tinha corrido o risco de esquecer. Trata-se de uma antologia, Alerta de Risco, cujo subtítulo é Contos e Perturbações, de Neil Gaiman – todos os contos são unicamente dele –, publicada no Brasil pela editora Intrínseca.
Não posso dizer que amei esse livro – mas, com certeza, leria de novo. Mas, como já disse acima, eu gostei muito – muito mesmo – do que ele me fez lembrar. Permitam-me esclarecer-lhes no decorrer dessa resenha.
Mas, antes, um rápido resumo – rápido mesmo, porque eu não pretendo resumir cada um dos contos, o que, além de impossível, ocuparia muito espaço.
Ao todo são 24 contos, mais a Introdução – que, na minha opinião, é onde está o que eu julguei como o grande tesouro do livro – e os Créditos. Todos os contos, se não me falha a memória, possuem elementos fantásticos – o que faz muito sentido, já que a especialidade de Gaiman é a fantasia – e, como o subtítulo já dá a entender, eles podem ser um pouco perturbadores e muito poucos têm final realmente feliz – ou seja, eu adorei praticamente todos!
O engraçado foi que, como o ser humano tem a mania de tentar dar rótulos a tudo – e eu não sou exceção –, eu inconscientemente procurava por um conto que pudesse chamar de favorito. Mas, à medida que ia lendo e passando de um conto para o outro, eu pensava: nossa, esse agora foi o meu favorito, com certeza! Mas, então, eu terminava o conto seguinte e já tinha mudado de ideia e estava declarando o meu amor eterno a esse novo conto, da mesma forma como havia feito com o anterior – esse sintoma é conhecido como “piriguetagem literária”. O que estou querendo dizer é que achei todos os contos sensacionais e não conseguiria dizer que gostei mais de um do que do outro.
Algo interessante é que, na Introdução, feita pelo próprio Gaiman, ele explica tudo sobre essa antologia – porque decidiu fazê-la, o motivo do nome (que é bem incomum para uma antologia, convenhamos) e, o mais importante, o que o levou a escrever cada um dos contos (ele redigiu um pequeno texto para cada conto, dizendo como surgiu e porquê).
E justamente por causa dessa característica, de repente, eu me peguei lendo os contos ansiosamente, para chegar ao final mais para poder ler a motivação do autor na Introdução do que para ver o desfecho em si. Foi quando percebi uma coisa, que eu já sabia – ou, pelo menos, deveria saber, como escritora. Eu percebi que o motivo da criação é mais importante do que a própria criação. Faz todo o sentido! Tenho vivido isso desde que comecei a escrever.
Esse, eu tenho certeza, foi um dos grandes motivos para eu ter gostado tanto de Alerta de Risco.
O outro motivo foi que eu adoro contos – quando bem feitos, é claro -, porque acho que eles sempre trazem uma mensagem subliminar, que, normalmente, é algo simples, mas que, por ser tão simples, nós acabamos esquecendo. E também acho que entender plenamente um conto é muito mais difícil do que entender um livro, porque o material que nós, leitores, temos para analisar e ler é muito menor, ou seja, há toda uma história e um universo, mas pouca informação nos é dada para explorá-lo.
E eu adoro isso em contos. Adoro esse “óbvio misterioso” escondido neles – normalmente, antologias são os livros que eu mais demoro para ler, justamente por causa desse trabalho de decifrar a mensagem. Quando o conto é muito simples e não me faz pensar muito, eu o considero insuficiente.
Mas, felizmente, não tive esse problema com os contos do grande mestre Neil Gaiman – é por isso e por outras coisas que eu sou fã desse cara.
Quanto ao trabalho da editora, admito que eu não fiquei tão feliz quanto fiquei com o conteúdo. É claro que a editora merece meus cumprimentos apenas por ter trazido essa obra para os leitores brasileiros. Mas, quanto ao material, acho que deixou um pouco a desejar. A começar pela capa, que achei completamente fora de contexto. Realmente não entendi porque não seguiram o padrão de capa das outras publicações, como Lugar Nenhum, Filhos de Anansi e Deuses Americanos. Não sei o que aconteceu, porque, de uma editora como a Intrínseca, admito que eu esperava mais.
Mas, em todo caso, Alerta de Risco – ou deveria dizer que foi o próprio Neil Gaiman? – me conquistou por causa do seu mistério e sutileza, porque é o que é: um livro de contos fantásticos.
Eu recomendo muito a leitura.