A Lança do Deserto, de Peter V. Brett | Resenha
‘A Lança do Deserto’: as areias também têm demônios (vários)
Depois de ver muita gente falando incrivelmente bem dos dois livros lançados pela Darkside Books do Ciclo das Trevas, de Peter V. Brett, eu me rendi aos comentários e resolvi ler.
Terminei o primeiro volume, O Protegido, e achei muito bom, principalmente para os leitores que curtem histórias com terras infestadas de criaturas malignas e lutas de espadas, lanças e flechas. Então, decidi engatar logo no segundo volume, A Lança do Deserto.
E novamente não me decepcionei. Que ótimo.
A trama começa de maneira um pouco diferente do que se espera ao terminar o primeiro volume – eu, pelo menos, esperava que continuasse de onde parou, ou seja, do meio da treta da história. Mas as primeiras 200 páginas são destinadas a um propósito um pouco diferente e, na verdade, eu achei isso bem bacana.
O primeiro volume termina com uma cena bastante enigmática do Jardir, que é o líder dos guerreiros do povo krasiano e que, para quem não se lembra, são os sinistrões lá do deserto, que gostam de matar demônios. Nessa cena final, dá-se a entender que ele vai fazer o circo pegar fogo na Terras Verdes no norte, onde vivem os nossos queridos personagens, que acompanhamos durante todas as várias páginas do primeiro volume.
Como eu sou uma leitora bem sanguinária, fiquei pensando: “legal! Vamos fazer o sangue espirrar nessa coisa!”
E, bem, A Lança do Deserto conseguiu superar as minhas expectativas quanto a isso, porque o foco dessas primeiras 200 páginas está justamente na vida do Jardir, ou seja, nos costumes do povo krasiano. E eu vou contar para vocês: eita, povinho sanguinolento.
Enfim, foi um momento enriquecedor, porque os costumes do povo krasiano são bem diferentes e estranhos. Então, essa imersão na vida de Jardir serviu para esclarecer muita coisa. E serviu também para me fazer encontrar a minha personagem favorita, que é a mais nojenta, manipuladora, má e insuportável de todas: a Inevera, aqueles que leram podem me julgar.
Quanto ao restante dos personagens, a insuportavelmente nojenta e digna de uma morte muito lenta e dolorosa Leesha, o Rojer e o Arlen, tudo continua da onde parou. E até surgem novos personagens, que, ao que parece, terão papéis importantes na trama.
O livro em si é uma continuação bem bacana, devo dizer. Não me decepcionei, o que já é ótimo.
Mas tampouco me impressionei. Sinceramente, não sei o motivo, porque o livro é bom. A narração está boa, a ordem dos acontecimentos faz sentido, as leis naturais que regem esse universo criado pelo autor são seguidas e, acreditem, isso acaba se tornando um grande problema que muitos autores não conseguem superar; tem uma gama vasta de personagens, que são bem trabalhados, tem surpresas ao longo do livro, problemas a serem resolvidos, emoções, suspense, drama, romance… Enfim, é um livro bem feito e eu dou os meus parabéns ao autor.
Talvez um problema seja a espessura. São 714 páginas. Para mim, foi tudo bem, nunca me assustei com grandes números de páginas. Mas não são todos os leitores que gostam disso e, de fato, se a história não for muito bem trabalhada, pode tornar a leitura cansativa.
Felizmente, não é o caso de A Lança do Deserto, na minha opinião.
Quanto ao trabalho da editora, está tão bom quanto normalmente. A capa está bem coerente com o foco da história, a diagramação está bem no estilo da Darkside, o que é um elogio, e a apresentação do material está impecável, exceto pelo problema que eu já citei em outras resenhas: a revisão. Infelizmente, muitos erros de revisão – cheguei a contá-los, na verdade. Para um livro desse porte, não deveria haver tantos erros.
Enfim, gostei do livro. A história é muito boa, bem formulada e escrita. Acho que é o tipo de história que vai agradar bastante os leitores do primeiro volume. Se você leu O Protegido e está em dúvida quanto ao segundo livro, por favor, vá em frente e sem medo de ser um leitor feliz.