Julieta, de Anne Fortier | Resenha
‘Julieta’: uma releitura apaixonante de uma das maiores histórias de amor
Qual é o seu autor favorito? Esta é uma pergunta difícil, certo? Não para mim. Eu sempre tive a resposta na ponta da língua: William Shakespeare. Eu o considero incrível! É formidável e simplesmente maravilhoso a abordagem de temas tão universais em suas peças, que permitem diversas interpretações. Suas histórias podem ser transportadas para os dias atuais sem que a mensagem principal se perca ou pareça datada.
A minha história favorita de todos os tempos é Romeu e Julieta. Claro! Não consigo me lembrar quando eu li a peça pela primeira vez, mas sou apaixonada por todas as suas versões, seja o livro em inglês ou em português, seja a versão cinematográfica moderna do diretor australiano Baz Luhrmann ou a versão tradicional do italiano Franco Zeffirelli. Sempre me interessei por histórias de amor e as histórias de amores impossíveis sempre falaram mais alto ao meu coração.
Quando me indicaram Julieta, da autora dinamarquesa Anne Fortier e publicado pela editora Arqueiro, eu agarrei a sugestão com unhas e dentes! Uma chance de descobrir uma releitura da história clássica que eu amo tanto? Tô dentro! Comecei a ler imediatamente e, em poucas páginas, já havia me apaixonado! Para todo e qualquer canto que eu fosse, carregava o livro na bolsa. Lia no metrô indo para o trabalho, naquele intervalo para beber uma água na empresa, no ônibus voltando para casa e até na rua antes de chegar na minha portaria! Se eu pudesse levar aquelas páginas para dentro do chuveiro comigo, eu levava! Não conseguia largar o livro nem por um minuto que fosse!
Mas vamos ao que interessa! A narrativa começa com a morte de Rose, tia-avó da protagonista, Julie Jacobs. A tia criou Julie e sua irmã gêmea, Janice – que é bem malvada, por sinal! – nos EUA desde que as duas tinham três anos de idade. Elas nasceram em Siena, na Itália, mas se mudaram após o falecimento dos pais em um acidente de carro. No funeral, nossa heroína descobre que Rose deixou toda a herança para Janice, contudo, ela recebe uma carta de sua tia explicando que sua falecida mãe havia descoberto um tesouro de valor inestimável na cidade onde elas nasceram e que Julie precisava descobrir o que era. A carta revela outro segredo surpreendente, seu verdadeiro nome não era Julie Jacobs e, sim, Giulietta Tolomei. A partir de então, acompanhamos a sua aventura na Itália.
Esta história é magia pura! Com cada página lida, eu me sentia mais e mais envolvida naquele mundo e torcendo pelos personagens. É um livro cheio de mistérios, intrigas e reviravoltas que te cativam desde o primeiro momento. Os capítulos se alternam entre a Siena da atualidade e a Siena do século XIV. Ao longo do livro, vamos descobrindo junto com a protagonista os mistérios que a rodeiam. A autora foi muito bem-sucedida nesta estratégia, uma vez que consegue manter o leitor em um estado de curiosidade aguçada e o faz sempre querer mais. O livro é muito bem escrito! A história é desenrolada de uma forma que torna a leitura muito agradável e gostosa. Contagiante!
Eu gostei muito de como Anne Fortier desenvolveu a relação de Julie com sua irmã. Como já mencionei anteriormente, Janice não é uma pessoa muito boa, mas as duas maltratam uma a outra, apesar de a nossa heroína sofrer um pouco mais. Durante sua narrativa, Fortier cria cada vez mais atrito entre elas, até chegar a um ponto de ebulição, em que as duas percebem que ou passam a tentar se entender ou o relacionamento está perdido. Adorei como essa transição aconteceu de forma gradual e sem que nenhuma das duas abrisse mão de algum traço de sua personalidade.
É muito interessante observar os outros personagens e tentar descobrir o que eles podem significar para a personagem principal. Por que Eva Maria é tão generosa com Julie? Julie deve realmente confiar em Alessandro? Por que Umberto não acompanhou Julie nesta viagem? Apesar dessas relações serem um pouco confusas, descobrir ao final do livro quem é quem e o que eles querem com Julie foi um momento de catarse intensa!
Como a própria autora afirma, “embora Julieta seja uma obra de ficção, é baseada em fatos históricos. A versão mais antiga de Romeu e Julieta foi realmente ambientada em Siena.” Eu nunca soube disso! E só me fez gostar ainda mais do livro! Anne e sua mãe Birgit fizeram uma pesquisa extensa não só da história dos dois amantes como da região de Siena. Ao fim da narrativa, Fortier explica como foi o processo deste trabalho. Não deixe de ler esta parte!
Ler e escrever uma resenha sobre este livro foi uma tarefa difícil e muito pessoal para mim. Descobrir esta releitura da peça e a verdadeira história de Romeu e Julieta foi uma delícia! Se você é fã da peça de Shakespeare, um(a) romântico(a) incurável como eu e adora uma caça ao tesouro, você precisa ler Julieta e embarcar nessa viagem apaixonante de Anne Fortier!