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Dia da Mulher: especial Intrínseca

No dia da mulher, o Vai Lendo participa da ação especial promovida pela editora Intrínseca e destaca autoras que representam a força das mulheres na literatura

Mães, filhas, irmãs, amigas. Mocinhas, vilãs. Protagonistas, coadjuvantes. Não importa. O papel das mulheres na literatura, tanto dentro quanto fora das páginas, é arrebatador. Desde clássicos, passando por dramas, comédias, aventuras, fantasias…Essas personagens, muitas vezes, dão o tom das narrativas. Ainda que haja muito pré-julgamento em algumas dessas representações do feminino e, sobretudo, clichês, podemos, sim, encontrar aquelas que nos representam, que honram o significado do que é ser mulher. E claro que ninguém melhor do que nós mesmas para nos retratarmos. Por isso, em homenagem ao Dia da Mulher, o Vai Lendo participa de uma ação especial promovida pela editora Intrínseca para falarmos sobre as autoras que não se omitem ao falar das mulheres e do papel que representamos na sociedade.

E eu não poderia deixar de começar por aquela que tem a árdua missão de nos fazer encarar a realidade dura e crua. Que consegue ser bem fria e muito verdadeira. Tanto que, às vezes, sequer estamos preparadas para as suas palavras, suas histórias. E que, acima de tudo, desmistifica todo o “glamour” e nunca romantiza aquele que é o nosso melhor e mais bonito papel, mas também o mais desafiador e difícil: ser mãe. Logicamente, estou falando de Elena Ferrante.

Quando me deparei pela primeira vez com a sua obra, fui completamente pega de surpresa. Definitivamente, não era aquilo que eu estava esperando. E foi assim novamente com A Filha Perdida, originalmente lançado em 2006 e publicado recentemente aqui no Brasil pela Intrínseca. Elena – pseudônimo de uma escritora italiana que prefere se manter no anônimato – não faz nenhuma questão de ser leve ou lúdica. Pelo contrário, parece que sente um certo prazer em nos deixar incomodadas, em apontar o dedo e cutucar aquelas feridas internas que tentamos ignorar. Suas personagens não são alegres ou bem resolvidas. Elas são, pelo que já pude identificar, amarguradas, frustradas e cheias de complexos devido a arrependimentos e traumas do passado. Sobretudo, em A Filha Perdida, Elena toca num assunto bastante delicado e sensível: a maternidade. Confesso que tive bastante dificuldade de me conectar com a protagonista e isso me fez refletir bastante. Na trama, a autora nos apresenta uma mulher que, talvez, não nasceu para ser mãe. E isso deveria ser normal. Não temos que ser as mães perfeitas, isso se quisermos ser. E acredito que o que Elena frisa neste livro é justamente as consequências que essa pressão podem trazer para uma mulher.

No livro, a protagonista simplesmente não consegue se relacionar com as filhas – na verdade, não sabe nem se chega a amá-las – e isso a perturba profundamente. Tanto que a deixa praticamente obcecada por uma família cuja relação de mãe e filha parece ser o que ela esperaria para a sua própria vida e não conseguiu. Ainda não sou mãe e, portanto, não sinto que tenho propriedade para debater amplamente o assunto, muito menos me colocar no lugar da personagem. Mas posso falar pelo meu coração e pelos exemplos que tenho em casa. Aliás, acho que esse foi o principal motivo de ter “rejeitado” tanto essa protagonista e não ter conseguido me conectar, de fato, com a história. Tenho tanto orgulho e admiração por minha mãe e avó, pela nossa história, nossa relação que foi muito difícil acompanhar uma mulher que, por muitas vezes, cheguei a considerar mesquinha, egoísta e superficial tamanha autopiedade por não ter levado a vida que, agora ela tinha consciência, queria. Senti que ela culpava as filhas por todas as suas mazelas. Porém, depois de pensar bastante (esse livro mexeu muito comigo), agora consigo enxergar que o mais difícil para ela seja justamente assumir que não estava pronta para a maternidade. Algo que praticamente todas as mulheres, com certeza, um dia devem pensar. É interessante que Elena Ferrante levante este ponto e mostre, mesmo que isso nos machuque ao longo da leitura, que podemos mesmo não estar prontas. E que isso não deveria ser um fardo. Admito que essa leitura, em especial, me assustou um pouco e me fez recear ler as demais obras da autora. Mas é inegável a força transmitida por ela e por sua narrativa detalhista e corajosa. De se admirar. Sinto que nós duas ainda travaremos algumas DRs literárias, ao longo do caminho.

Divulgação

Também nesse estilo meio “curto e grosso”, porém arrebatador, temos Gillian Flynn e suas protagonistas ARRASADORAS. Só eu que cheguei a ficar arrepiada lendo Garota Exemplar? Não, né, gente? Gillian é cortante, surpreendente e traz toda a perspicácia e determinação femininas em suas tramas viscerais. A autora tem literalmente o poder de nos embasbacar nas mãos e nas páginas. Além de trazer uma ambiguidade interessante em relação à essência do ser humano. Suas personagens são sagazes, sexys e transitam numa linha bastante tênue de obstinação e loucura. Contudo, é impressionante a força que elas transmitem. Gillian Flynn levanta a bandeira do GIRL POWER e nos clama para irmos à luta!

Agora, vamos dar uma aliviada nesse clima, porque eu sou do time das românticas e sonhadoras incuráveis. Nesse quesito, posso atestar que Jojo Moyes é das minhas! Ô mulher para nos fazer desidratar. Ler Jojo Moyes é a certeza de ser envolvida por sua sensibilidade e leveza cativantes. É vivenciar o amor da maneira mais profunda e verdadeira, tendo a consciência de que nem sempre o final é feliz. E isso não é o mais importante. Jojo parece querer nos mostrar que o amor é simplesmente para ser vivido da maneira mais plena, ainda que precisemos enfrentar as adversidades. Sua narrativa é clara e suas personagens podem inicialmente deixar transparecer uma certa ingenuidade ou, até mesmo fraqueza, mas isso fica apenas na impressão daqueles que não conseguem captar suas verdadeiras intenções, sua relevância (vide Lou, de Como Eu Era Antes de Você, e as passageiras do Navio das Noivas). As personagens de Jojo, na verdade, são fortalezas. Daquelas pelas quais torcemos, com as quais sofremos e as quais admiramos. Elas não se deixam abater, mesmo que os golpes as façam se desequilibrar, e conseguem se reerguer para correr atrás dos seus sonhos, da sua felicidade. Jojo, ME DÁ UM ABRAÇO AQUI, AMIGA!

Para fechar essa singela homenagem, não tenho nem palavras para começar a descrever o meu carinho, meu respeito, admiração e orgulho por R.J. Palacio, autora de um dos livros da minha vida (e do meu marido): Extraordinário. Por favor, se vocês ainda não conhecem a história do Auggie, nem terminem de ler o texto e tratem de correr para corrigir essa afronta. Considero R.J. Palacio uma autora fundamental. Em todos os sentidos. Não apenas de escrita, mas para o ser humano. Sim, nesse nível. Quem leu Extraordinário e os livros derivados dele sabe do que estou falando. Palacio é tão cuidadosa em suas palavras que chega a emocionar. Muito. Mesmo. Aliás, preparem-se para soluçar. Ela conseguiu tratar de uma situação tão delicada, tão ainda pouco abordada e trazendo vários pontos de vista. Palacio inclui e torna tudo mais acessível. Ela não fala apenas para um público. Fala com todos. Fala com a família. Sua narrativa aquece o coração.

Auggie e sua turma não são apenas personagens. São lições. São sorrisos no rosto daqueles que se viram representados. São as lágrimas da ignorância e da intolerância, mas também da amizade, do respeito e do perdão. Palacio é de uma delicadeza, de uma simplicidade e de uma capacidade de explicar o que, muitas vezes, é incompreensível. Uma autora que tem uma voz importantíssima e que deve ser ouvida por todos. Uma autora que, para mim, é a representação do que deve ser a literatura: inclusiva e apaixonante. Te dedico – MUITO -, Palacio!

Essa foi a minha singela tentativa de homenagear não só essa, mas TODAS as autoras que executam um trabalho impecável e fundamental na vida de seus leitores. Que merecem ser reconhecidas e celebradas todos os dias, pois diariamente nos presenteiam com suas mentes e talentos brilhantes e inspiradores. Feliz Dia da Mulher a todas nós!

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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