Sempre Haverá Você, de Heather Butler | Resenha
‘Sempre Haverá Você’: um tema difícil que precisa ser debatido com as crianças
Alguns temas são difíceis de conversar com as crianças. O luto é um deles. Talvez, seja porque nem mesmo os adultos conseguem lidar bem com ele. No entanto, por mais que se tenda a proteger os pequenos do lado triste da vida, às vezes, não conseguimos evitar certas situações, e ter uma conversa franca, aberta, pode ser o ideal. E o que é melhor para intermediar este diálogo do que um livro? Esta é a proposta de Sempre Haverá Você, de Heather Butler, publicado pela editora Novo Conceito.
Na trama, acompanhamos a rotina de George, um garoto que adora ir para a escola, brincar com o seu amigo Dermo e ficar com a sua família. George vive com os pais – que ama muito -, o irmão mais novo Theo – grandes companheiros, mas que, de vez em quando, se estranham (normal) – e Goffo, um cachorro fedorento e nem um pouco educado. A vida de George era feliz, até que sua mãe descobre que está com câncer e, por isso, o menino perde um pouco do encanto pelas coisas.
Sempre Haverá Você é um livro que destaca os sentimentos da criança diante de uma situação difícil: ter que lidar com o câncer da mãe, a pessoa que ela mais ama nesta vida. Uma abordagem um tanto quanto interessante, visto que boa parte das publicações com esta temática geralmente foca no doente e não muito naqueles que estão ao redor. No caso da obra de Heather Butler, isso se torna ainda mais especial por se tratar de alguém com pouca idade.
Como mostra a autora, mesmo complicado, é importante falar sobre o assunto, afinal, por mais que as crianças não entendam toda a dimensão do problema, elas conseguem perceber que algo está errado. E, quando elas sentem que estão sendo enganadas, inevitavelmente correm atrás da verdade e acabam descobrindo certos fatos da pior maneira possível. Ainda que Sempre Haverá Você seja relevante aos pais, por mostrar que os filhos não são totalmente ingênuos e que não devem ficar completamente alheios aos problemas familiares, é um livro essencialmente infantil. Tanto na forma quanto na abordagem. O ideal, ao meu ver, é a realização de uma leitura coletiva que, além de possibilitar uma discussão sobre o tema, aproxime pais e filhos.
Um detalhe que chama a atenção no livro é como George brinca com as palavras. Ao narrar a sua história, o garoto destaca as favoritas, colocando-as em negrito, e as que não gosta com fonte menor. E o mais divertido neste jogo é quando a opinião do protagonista muda em relação a algumas pessoas num momento de raiva. Falando em brincadeiras, George adora descobrir palavras novas em um jogo com a mãe. Uma atividade inspiradora, apresentada em Sempre Haverá Você, que aguça a curiosidade das crianças e desenvolve o conhecimento. O que reforça a minha opinião de uma leitura conjunta.
Ainda não tenho filhos, mas fico pensando em como deve ser realmente difícil conversar sobre certos assuntos. Afinal, cada criança lida com uma situação extrema de um jeito diferente. Porém, também acredito no poder que a ficção tem para provocar a discussão, a troca de ideias. A leitura pode abrir horizontes, ser um norte, ampliar diálogos e conhecimento. Sempre Haverá Você é um livro que pode quebrar a barreira para estes “assuntos que não devem ser mencionados”. É emocionante. Inspirador.
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