A Rosa e a Adaga, de Renée Ahdieh | Resenha
‘A Rosa e a Adaga’: mais uma vez, fomos encantados pela narrativa mágica de Renée
O amor acima de tudo. Incondicional e indestrutível. Capaz de derrotar inimigos e quebrar maldições. Um amor que salva vidas. Que transcende as histórias. Arrebatador, contagiante. Mais uma vez, Renée Ahdieh nos encanta, hipnotiza e sufoca com o amor verdadeiro, intenso e visceral de Sherazade e Khalid, em A Rosa e a Adaga, continuação do incrível A Fúria e a Aurora, publicado pelo Globo Alt. E, que fique claro, uma conclusão à altura da obra-prima criada pela autora.
A trama de A Rosa e a Adaga começa onde o primeiro livro parou, o que eu, particularmente, acho ótimo. Gosto de continuações que vão direto ao ponto, sem enrolações ou manobras que atrasam o desenrolar da história e geralmente conseguem nos confundir mais do que relembrar o que já aconteceu. Após descobrir o segredo de Khalid e se apaixonar perdidamente pelo califa, Sherazade precisa lutar com todas as suas forças contra a maldição que pode mantê-la separada do seu grande amor, enquanto deve também lealdade à sua família e aos amigos. No entanto, ela também aprende a dominar a sua própria magia e contará com uma ajuda um tanto quanto especial e inusitada para quebrar a maldição e finalmente ser feliz ao lado daquele que ama.
Assim como em A Fúria e a Aurora, Renée nos presenteia com uma narrativa brilhante e extremamente descritiva e uma linguagem que beira a poesia, tamanha a capacidade de nos transportar para a sua história. Rapidamente, somos envolvidos de novo por uma trama alucinante e surpreendente, ainda que o início não tenha tanta ação. Nos reencontramos com aqueles personagens que aprendemos a amar (e até a odiar, quem nunca?) e somos apresentamos a outros que, logo, conquistam os nossos corações. E ainda conseguimos conhecer mais sobre alguns que, no primeiro livro, tiveram apenas uma pequena participação.
Aliás, acho que um dos maiores trunfos de A Rosa e a Adaga é justamente essa variedade de personalidades, de características tão marcantes que nos causam um misto de emoções. É nítido o amadurecimento de todos os personagens (quer dizer, quase todos) e isso refletiu muito em toda a trama. Mesmo que a participação de alguns nesse segundo livro tenha sido reduzida para que outros pudessem surgir, há um equilíbrio de relevância, e isso é muito interessante. Sabemos que Sherazade e Khalid são os nossos protagonistas, mas confesso que, muitas vezes, a história de Irsa, a irmã caçula de Shazi, por exemplo, me prendeu mais. Assim como sua irmã mais velha, Irsa é destemida, carismática, corajosa e leal. Mas, ao contrário de Shazi, ainda tem aquela inocência, uma certa doçura e insegurança. Irsa é simplesmente encantadora e fiquei feliz de ter conquistado o seu espaço neste livro. Merecidamente. Assim como Rahim e Tariq. Este último, inclusive, mostrou um crescimento absurdo e dividiu com Khalid um dos momentos mais bonitos e simbólicos da história. E ainda temos Artan, um personagem forte, tão teimoso e com língua tão afiada quanto Shazi. Ou seja, tão interessante quanto. Adorei logo de cara.
E, claro, Shazi e Khalid. Nossos protagonistas queridos e intensos. Se Khalid, a princípio, se fecha ainda mais somatizando tudo o que aconteceu e se responsabilizando frequentemente pela situação de seu reino, Shazi é uma explosão. Inconformada com a sua própria realidade, decide correr atrás de seu grande amor e resolver tudo, como só ela poderia fazer. O problema, a meu ver, é que esse amor chega a cegá-la. Ao ponto de ela dar, sim, as costas à sua família e amigos. Desculpem, mas eu não consigo aceitar a maneira como ela trata Tariq. Como se a culpa fosse dele por amá-la e ambos estarem em “lados opostos”. Ela se esqueceu, contudo, que também amava Tariq. E que se apaixonou por Khalid, apesar de tudo. Não podemos escolher quem amamos, mas, nem por isso, precisamos rejeitar ou descontar as frustrações nos outros. E quem escolheu o seu próprio lado, o seu destino, foi ela. Em A Rosa e a Adaga, por muitas vezes, me peguei questionando as atitudes de Shazi, inclusive, achando-a até mesmo um pouco egoísta. Como se apenas o seu sofrimento importasse. Tariq, Rahim, Irsa, seu pai, todos também sofreram e continuam sofrendo. Ninguém é obrigado a saber da maldição de Khalid e, mesmo sabendo, ninguém é obrigado a entender. Não depois de tantas meninas terem morrido, de famílias perderem aquelas que amavam. Tariq perdeu a prima e viu a única mulher que amou trocá-lo pelo responsável por esse sofrimento. Todos perderam. Todos sentem rancor, raiva, o luto, a dor. Não apenas Shazi. Isso me irritou um pouco, até porque, suas atitudes constantemente feriam aqueles que sempre estiveram do seu lado. Cada palavra, cada resposta dela era como a ponta de uma adaga afundando nos corações daqueles que não mereciam esses golpes.
Khalid, por sua vez, precisou entender que tinha que parar de ter pena de si mesmo. De aceitar sofrer sozinho, como se apenas ele tivesse que lidar com tudo. Como se não precisasse, ou pudesse, pedir ajuda. Teve que assumir, de vez, o seu posto para reerguer não apenas o reino, mas tomar as rédeas, pela primeira vez, do seu destino. Enfrentou o seu maior medo pelo amor que salvaria a sua vida. Acima de tudo, Khalid amadureceu com a necessidade de controlar os seus nervos, se abrir e aceitar os outros. Khalid, para mim, literalmente desabrochou como uma rosa.
Foram muitas emoções e reviravoltas ao longo dessa jornada incrível e mágica que Renée nos proporcionou, e a conclusão foi nada menos do que toda a história que ela brilhantemente nos contou: delicada, sensível e surpreendente. Como nos conto das Mil e Uma Noites, fomos encantados por sua narrativa e nos permitimos levar a mundos distantes. Rimos, choramos (muito, diga-se de passagem, principalmente no segundo livro) e nos apaixonamos. E temos a certeza de que a história de Shazi e Khalid foi muito bem contada e ficará para sempre em nossos corações.
PS: além de ser uma lindeza, em todos os sentidos (olha essa capa!), o livro ainda trás um quote do Vai Lendo (dá uma olhada na foto acima!) na contracapa de A Fúria e a Aurora. É muito amor, gente!
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