Book Truck promove a ‘libertação’ de livros
Ação desenvolvida pelo projeto Livro de Rua acontece neste domingo, dia 28, na Praia de Copacabana
Geralmente, nós, leitores compulsivos e fanáticos, somos muito apegados aos nossos livros. Tanto que deixa-los expostos em nossas estantes é praticamente um prêmio, uma representação da nossa paixão infinita e de anos dedicados à leitura. O problema é que nem sempre isso é tão saudável (alô, poeira!), e esse apego pode tirar a chance de outras pessoas terem acesso às obras. Pensando nisso, o projeto Livro de Rua passou a desenvolver ações de “libertação dos livros” e se preparam para lançar o Book Truck neste domingo, dia 28 de maio, na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, das 9h às 13h, no posto 6.
Criado pelo professor carioca Pedro Gerolimich, o Livro de Rua tem como objetivo “transformar o Brasil em uma grande biblioteca pública”, estimulando a leitura compartilhada. Ou seja, garantindo que os livros possam passar de mãos em mãos. Os livros são “libertados” geralmente em locais públicos, e as ações – que incluem ainda o Sarau da Utopia, Leitura na Praça e Um Mundo Sem Fronteiras, Bibliotecas Sem Paredes – dão preferência a regiões em que há maior carência de leitura. A partir daí, é só pegar os livros (gratuitamente) e desfrutá-los e, depois, entregá-los no mesmo ponto ou passá-los adiante. Só não pode é deixá-los parados!
“O Livro de Rua surgiu de um sonho e de uma grande alergia (risos)”, explicou Pedro ao Vai Lendo. “Sonho porque acredito que através da leitura podemos construir um Brasil melhor e a alergia porque, quando criança, não suportava entrar na biblioteca que meu pai tinha em casa. Eram muitos livros, e livros em estantes geram poeira, que gerava coceira em meu nariz. Eu não entendia porque ter tantos livros em casa, perguntava o óbvio, se livros eram para serem lidos, porque ter tantos livros guardados…”.
O projeto, que faz parte da Rede Carioca de Pontos de Cultura, é mantido por voluntários e atualmente não recebe nenhum financiamento público ou empresarial, de acordo com Pedro. Ele ainda exaltou o diferencial do Book Truck, no que diz respeito à experiência que ele oferece ao público e à formação de novos leitores.
“A primeira diferença é conceitual, nós não emprestamos livros, nós libertamos livros”, explicou. “Outra diferença é com relação ao espaço. Reproduzimos um ambiente de café literário que, além da libertação gratuita de livros, terá mediação de leitura, venda de café, camisetas, souvenires literários. O objetivo é que a venda desses possa ajudar a sustentar que mais pessoas recebam livros e democratize a leitura”.
Com mais de 100 mil livros libertados, Pedro garantiu que qualquer pessoa pode ajudar na ação, basta que o livro a ser libertado não seja didático e esteja em bom estado. Tudo isso para, ele indicou, facilitar o maior acesso às obras e garantir que a leitura possa ser um hábito de todos, independentemente da situação.
“As pessoas tem pouco acesso aos livros”, Pedro ressaltou. “Infelizmente, em nosso país, o Livro ainda é um instrumento das classes médias e altas. Uma vez, estava fazendo uma libertação de livros na Vila Cruzeiro, que tenho o maior carinho, mas a comunidade tem um estigma de violência muito grande. Uma senhora que aparentava uns 65 anos se aproxima e me chama pelo nome. Como não a conhecia, perguntei o seu, dona Maria, que logo se preocupou em dizer que já tinha falado com outra voluntária e que soube que eu era coordenador. Nisso, ela se aproxima mais um pouco e, quase cochichando, pede autorização para levar três livros. Eu disse que sim, contando que ela lesse e depois libertasse novamente. Ela se aproximou um pouco mais e falou que esse era o problema, que queria os livros para ela. Eu perguntei o porquê. ‘Se a senhora já leu, qual vai ser a diferença?’. Ela me respondeu: minha patroa tem na estante da sua sala um monte de livros, eu acho tão chique, gostaria de ter ao lado da minha televisão também. Essa história me mostrou o fetiche que as pessoas ainda têm pelo livro. Livros são objetos das classes altas, temos que popularizar, temos que democratizar”.