Resenhas

Três Coroas Negras, de Kendare Blake | Resenha

‘Três Coroas Negras’: uma treta familiar empolgante

Família é tudo na vida. Mas, para Arsinoe, Katherine e Mirabella, as protagonistas de Três Coroas Negras, família representa perigo, ameaça, morte. Provavelmente, elas desejariam não terem nascido irmãs. Isso porque, sendo elas trigêmeas, apenas uma poderá sobreviver. Ou seja, haja terapia familiar para a história desse livro intenso escrito por Kendare Blake e publicado pela Globo Alt, o selo jovem da Globo Livros.

Na trama, Arsinoe, Katherine e Mirabella são rainhas trigêmeas nascidas na ilha de Fennbirn, cada uma com um poder mágico. O problema é que, pela tradição local, o fato de terem nascido na família real e serem automaticamente herdeiras da coroa não dá a elas o direito de reinar. Para que isso aconteça, ao completarem 16 anos, elas terão que lutar individualmente por esse posto. O que significa que só poderá restar uma.

A premissa de Três Coroas Negras é incrível. Desde o primeiro momento, o livro chama a atenção, seja pela sinopse quanto pela parte gráfica impecável. A narrativa, por sua vez, é dividida obviamente entre as três irmãs, que, desde os seis anos de idade, foram obrigadas a se separarem e a viverem cada uma com uma família de “tutores”, responsáveis pela sua formação e pela preparação para o dia da batalha. De cara, já conseguimos distinguir algumas nuances e peculiaridades de cada uma das protagonistas. Muito disso se deve também aos seus poderes que, de certa forma, influenciaram o destino e a personalidade das três.

Katherine é a mais jovem delas e criada como uma envenenadora, cujos representantes implacáveis esperam dela a mesma sagacidade e imponência das antigas rainhas; Arsinoe, por sua vez, tenta se mostrar uma naturalista tão forte quanto sua melhor amiga, Jules, mas, para a decepção e o receio de seus tutores, não chega nem perto de ter esse talento; e, por fim, Mirabella, considerada uma das rainhas elementais mais fortes que já apareceram, protegida pelo templo e dada como certa no trono.

É muito interessante acompanharmos três realidades e pontos de vista completamente diferentes, ao longo da leitura. Assim como as características marcantes de cada “clã”, digamos assim, e como eles ajudam a construir as personagens. Cada uma delas tem o seu ponto forte e as suas fraquezas, e confesso que esse meu coração mole aqui demorou a escolher uma favorita. Aliás, nem sei se escolhi. Acho que o trio tem bastante potencial (para os dois lados). No entanto, achei que esse potencial foi pouco explorado.

Justamente por serem três personagens, três realidades e mundos diferentes e consequentemente três perspectivas, tive a impressão de que tudo foi apresentado de maneira um pouco superficial. Tanto as rainhas e os seus poderes quanto a própria história em si. Queria me aprofundar mais nas tradições, entender melhor a questão das trigêmeas e principalmente saber mais sobre elas. Depois, descobri que o livro terá continuação (NÃO BRINQUEM COM O MEU CORAÇÃO DESSE JEITO) e, com isso, até consigo justificar esse tom de “apresentação” apenas e a falta de desenvolvimento de boa parte da narrativa. Mas, como uma leitora extremamente ansiosa, fica aqui o meu registro: Kendare, amiga, você não pode simplesmente jogar uma história dessas pra gente e mexer com as nossas emoções assim! Isso não se faz! Queremos treta, respostas e sangue!

Pronto, falei.

Eu gostei muito da dinâmica entre as protagonistas e suas respectivas “famílias”. Mas (calma, gente, não odiei o livro, pelo contrário! É que o livro me pegou de jeito e, claro, fiquei com várias questões porque eu me apego e me envolvo, o que posso fazer?), em determinado momento, parecia que tinha gente demais. Que a história estava um pouco sobrecarregada pela quantidade de personagens e o número reduzido de páginas. Não que sejam personagens ruins e que o tamanho do livro signifique alguma coisa. O problema é que para tudo isso que nos foi apresentado faltou realmente espaço. Alguns personagens foram melhor construídos do que outros. E uns simplesmente se perderam (né, Joseph???).

No geral, contudo, a escrita de Kendare é extremamente envolvente e descritiva. Sinceramente, fiquei bastante agoniada com certas cenas! O que, olhem que maluquice, também achei ótimo porque ela conseguiu me pegar na história. Aliás, O QUE DIZER DAQUELES CAPÍTULOS FINAIS?? Vai ser assim mesmo, tudo em maiúscula, porque, gente, o que faltou ao longo da narrativa, ela conseguiu compensar no fim. Cada virada de página era um tiro, uma porrada e um gancho alucinante! Tudo pelo o que ansiávamos, estava ali. Mal posso esperar pela continuação.

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Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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