Mauricio – A História Que Não Está no Gibi, de Mauricio de Sousa (em depoimento a Luiz Colombini) | Resenha
‘Mauricio – A História Que Não Está no Gibi’: a história do super-herói de todas as idades
A emoção de entender as primeiras palavras. De desbravar as páginas de um livro e conhecer um mundo novo de histórias, possibilidades e personagens. Aprender a ler é, sem dúvida, a primeira das grandes experiências vivenciadas pelo ser humano. É libertador. É o momento em que as crianças passam ver a vida com outros olhos. É quando elas começam até mesmo a se descobrir. E esse momento se torna ainda mais marcante com a ajuda de uma turminha muito especial, que já ajudou milhares de crianças de diferentes gerações a ler pela primeira vez e a adquirir o hábito da leitura. E essa turminha não existiria se não fosse pela força, coragem e determinação de um ser humano único, um verdadeiro herói: Mauricio de Sousa. E, anos depois de viver a emoção de aprender a ler com a Turma da Mônica, vivi algo tão forte quanto ao conhecer a história de quem tornou tudo isso possível em Mauricio – A História Que Não Está no Gibi, autobiografia publicada pelo selo Primeiro Pessoa, da editora Sextante.
Eu sou fã incondicional do Mauricio. E, assim como milhares de outras crianças, jovens e adultos, o tenho como um dos meus heróis da vida. Ele é uma daquelas pessoas que me emocionam só de falar, só de olhar para ele, mesmo que seja na TV. O dia em que eu finalmente o conheci, na Bienal de São Paulo de 2014, fiquei tão nervosa e tão emocionada que precisei fazer um esforço absurdo para conseguir, pelo menos, agradecê-lo por ter me ensinado a ler. Mas eu consegui. Falei com o meu ídolo. E, nossa, como eu sempre quis conhecê-lo melhor, saber da sua história! Quando a Sextante anunciou o lançamento de sua autobiografia, cheguei a ficar com o olho cheio d’água (minha idolatria é nesse nível). Confesso que nunca havia lido uma biografia, simplesmente porque nenhuma ainda tinha me despertado o interesse, apesar de muita gente que eu gosto e admiro já ter uma biografia. Mas nenhuma dessas pessoas era o Mauricio. A do Mauricio eu fiz questão. E não poderia ter começado a ler biografias com alguém melhor.
Abrangendo toda a vida do pai da Turma da Mônica, desde o seu nascimento até os dias atuais, Mauricio – A História Que Não Está no Gibi traz literalmente a essência do Mauricio. E claro que ninguém melhor para contar a própria vida, cheia de lutas, dores, perdas e amores, do que ele mesmo (em depoimento a Luis Colombini). Mauricio tem personalidade. Desde o início, mesmo com todas os desafios e obstáculos, nunca se entregou. Pelo contrário, foi em frente, perseguindo o seu sonho de infância de ser desenhista. E como a gente consegue fazer essa viagem no tempo com ele através da sua narrativa. Mauricio não é apenas um mestre dos desenhos. Ele, como todos nós já sabemos, possui o dom de contar histórias. E que história surpreendente, emocionante e verdadeira. Relato profundamente inspirador.
É difícil avaliar alguém falando sobre si mesmo, ainda mais quando esse alguém é um dos seus ídolos. Mas acho que, justamente por essa ligação, por essa idolatria que tenho pelo Mauricio de Sousa, posso falar como fã, como leitora que, mais uma vez por sua causa, viveu uma nova experiência literária. Para mim, foi muito importante ter a oportunidade de conhecer a vida de uma pessoa que representa tanto para mim. Longe de romantizar uma história que muitos acreditam que foi apenas de sucesso, Mauricio não se omite ao relatar os erros, o sofrimento e suas falhas. Pois, mesmo que para boa parte de nós ele seja um super-herói, Mauricio de Sousa é um ser humano como todos. Ainda que seja um ser humano diferenciado.
O melhor, a meu ver, em Mauricio – A História Que Não Está no Gibi é como a gente consegue identificar plenamente o próprio na linguagem. A calma, a classe e a serenidade de quem já viveu 81 anos e realizou tantas coisas são passadas de maneira genuína para suas palavras, o que torna tudo mais pessoal e prazeroso. É quase como se estivéssemos conversando com ele mesmo. Profundamente emocionante! Choramos com suas perdas, com as dificuldades, e sorrimos e nos emocionamos com as suas conquistas e lembranças. Na verdade, o que eu senti foi um orgulho danado, sabe? Orgulho de admirar uma pessoa tão incrível. Orgulho dele.
E que edição! Que livro incrível, à altura de seu protagonista. As imagens nos transportam para sua história tão rica, tão cheia de experiências inesquecíveis que, agora, nós também sentimos que acompanhamos, de alguma forma. Como é incrível ver o quanto Mauricio lutou pela turminha, pelo seu sonho que, mal sabia ele, seria o sonho de milhares de pessoas, independente da faixa etária. Ele, inclusive, diz no livro que “não mudou o mundo nenhuma vez”, que, à sua maneira, “ajudou a melhorá-lo um pouquinho”. Bem, me perdoe por discordar de você, Mauricio, mas mudou, sim. Mudou o meu mundo e de todas essas crianças que, com os seus traços, seus personagens, aprenderam a ler e, com isso, descobriram o mundo. Eu só posso realmente agradecer por ter tido a oportunidade de ler a sua história e de voltar a ser aquela criança que mal podia esperar pelo telefone do jornaleiro para sair e comprar a nova revistinha. E, agora, mal posso esperar pelas próximas!
Um comentário
Dieison Engroff
Juliana, Juliana!
Que alegria ler esta resenha, fiquei fascinado pelo livro, quero logo lê-lo.
A turma da Mônica fez parte da minha infância, foi nos gibis que comecei a navegar nesse mundo da leitura.
Parabéns pela resenha. E pelo blog Vai lendo.
Acho que este blog faz um trabalho muito bacana, incentivando a literatura, com resenhas muito bem feitas, uma melhor que a outra. Gosto muito de tudo o que leio aqui, e leio tudo com frequência. Toda semana estou acessando o blog pra conferir as novidades.
Forte abraço, Dieison, do RS.