Rafael Coelho traz um novo olhar sobre a Arábia Saudita em livro inspirador
Em sua primeira obra, carioca conta como foi estudar em universidade de ponta da Arábia Saudita e tenta abrir a mente dos leitores sobre o país
É preciso coragem para largar tudo – principalmente quando isso significa um emprego numa multinacional – e encarar o novo. Novos desafios, uma nova língua, novos costumes, uma nova cultura. Mas o carioca Rafael Coelho, de 31 anos, não apenas fez tudo isso, como também resolveu escrever um livro sobre a experiência de trocar o certo pela oportunidade de estudar numa universidade de ponta na Arábia Saudita. Sua primeira obra, Arábia: A Incrível História de um Brasileiro no Oriente Médio, mostra que o país tem muito mais coisa para mostrar, além do conservadorismo, petróleo e dos sheiks.
Indo na contramão da intolerância religiosa e do preconceito, Rafael espera que seu livro possa ajudar a abrir a mente das pessoas, principalmente dos jovens, em relação à região.
“Uma das mensagens do livro é que não devemos acreditarem tudo o que vemos na TV/Internet”, declarou ele em entrevista ao Vai Lendo pelo projeto Vai Lendo Novos Autores/Independentes. “Por pouco, não perdi uma oportunidade incrível por puro preconceito. Vi que a maioria dos árabes, principalmente os mais jovens, está com a cabeça bem aberta e não tem nada a ver com o estereótipo intolerante que nos é passado pela mídia como sendo algo inerente a todo muçulmano ou a todo árabe. O preconceito acaba gerando um ciclo muito negativo. Na Europa, por exemplo, os árabes sofrem um preconceito enorme, tornando difícil a sua integração à sociedade. Dessa forma, eles acabam se fechando em uma sociedade paralela e ficam muito mais vulneráveis a qualquer tipo de fundamentalismo. Alguns, de fato, cometem atentados o que, consequentemente, aumenta ainda mais o preconceito contra todos os árabes. Deu para perceber este ciclo?”.
Rafael teve uma oportunidade que poucos conseguem e muitos desejam, porém, outros poderiam simplesmente perdê-la por se tratar da Arábia Saudita. Sendo um dos primeiros alunos da universidade – onde fez mestrado em Engenharia Elétrica -, ele encarou os obstáculos das diferenças culturais e pôde desfrutar de uma das melhores infraestruturas. Com tanta história para contar, não à toa, seu livro já inspira os leitores a viverem novas experiências, ainda que o próprio autor não classifique a obra inicialmente como autoajuda.
“O livro conta a minha história inusitada, de como fui parar em um dos países mais fechados e conservadores do mundo, a Arábia Saudita”, explicou. “O objetivo inicial era quebrar alguns paradigmas sobre o Oriente Médio e contar algumas histórias curiosas e divertidas de uma cultura tão diferente da nossa. No texto, no entanto, faço algumas reflexões sobre algumas decisões que tomei e mostro como contribuíram para o meu sucesso pessoal e profissional. Principalmente, abordo a importância de se dedicar aos estudos, sair da zona de conforto e conhecer novas culturas. Somente após a publicação do livro percebi que ele havia se tornado um instrumento motivacional . Recebi dezenas de e-mails de jovens que se inspiraram e se motivaram com a história, dizendo que ela havia contribuído, de certa forma, em algumas de suas decisões. Portanto, se o livro ajudou alguém e, como toda ajuda tem que necessariamente vir de dentro, ele pode ser uma ferramenta de autoajuda”.
Apesar de ter vivido tudo aquilo e ter muito material para compartilhar, Rafael teve a ajuda imprescindível de Raiam Santos, palestrante motivacional, que foi o responsável por lhe dar o estímulo necessário para transformar a experiência em livro e o ajudou em todas as etapas.
“Eu nunca imaginei escrever um livro na vida”, afirmou. “No entanto, um dia, o Raiam me convidou para escrever para o blog dele, contando a minha história na Arábia. Para minha surpresa, o post foi um sucesso. Como o Raiam já é um escritor consolidado na Amazon, com outros seis livros publicados, ele me incentivou a transformar aquele post em um livro. Procurei seguir um pouco do estilo dele, que particularmente gosto bastante, usando uma linguagem informal e parágrafos curtos. Ideal para um público jovem, que não tem o hábito da leitura. O Raiam me ajudou em todo o processo de publicação do livro. E, depois de eu terminar a primeira versão do texto, ele teve um papel crucial, revisando e fazendo algumas alterações para dar mais fluidez à leitura. Como um escritor experiente, também deu toques importantes, como, por exemplo, a importância de um final marcante”.
Mesmo com a boa recepção dos leitores, Rafael – que trabalha com o mercado financeiro – ressaltou que não pretende seguir a carreira, no momento. Contudo, ele exaltou o trabalho dos autores independentes para publicarem as suas obras e confirmou ter aprendido muito durante todo o processo. Mas, fazendo valer o que ele próprio escreveu no livro, está aberto a todas as oportunidades.
“Foi interessante conhecer a fundo o mercado de e-books, cuja dinâmica é totalmente diferente do mercado impresso tradicional”, concluiu. “Para autores independentes, existe a enorme facilidade da publicação. Porém, o trabalho de divulgação é um desafio e tanto. Mesmo o Arábia sendo um dos livros com mais avaliações positivas em 2017, enfrento muitas dificuldades em acessar um número maior de leitores. Procuro conseguir publicações e guest posts em blogs, o que contribui marginalmente na divulgação. Mas aprendi que para vender de verdade um livro digital é necessário criar o seu próprio público, produzindo conteúdo através de um blog, canal ou o que vejo muitos autores independentes de romances fazendo: usando o Wattpad. Esse livro foi bem pontual. Não pretendo seguir a carreira de autor no momento, mas, assim como também nunca havia imaginado ir para a Arábia, aprendi que temos que estar abertos a oportunidades não planejadas”.