Mauricio de Sousa causa comoção em público de várias gerações na Bienal do Livro Rio 2017
Junto com Pam Gonçalves, Babi Dewet, Melina Souza e Carol Christo, o pai da Turma da Mônica lança ‘Uma Viagem Inesperada’ e diz que quer vender mais livros do que gibis
Uma verdadeira comoção. De avós, pais e filhos. Crianças, jovens e adultos. Ninguém ficou imune ao efeito causado por Mauricio de Sousa na Bienal do Livro Rio 2017. E, no bate papo que o criador da Turma da Mônica participou com as autoras Babi Dewet, Pam Gonçalves, Melina Souza e Carol Christo para lançar o livro Uma Viagem Inesperada, publicado pela editora Nemo (do Grupo Autêntica), não faltaram surpresas e emoção. De todos os lados.
Praticamente responsável pela alfabetização de várias gerações com as revistinhas da turminha mais amada do Brasil, Mauricio tem total consciência da sua importância não apenas na formação de novos leitores, mas também na vida de seus fãs.
“Desde o início, nós temos essa preocupação de chegar até o nosso leitor com o máximo de cuidado e carinho”, declarou Mauricio. “Pensamos em jeitinhos adequados para passar não só pela alfabetização, que conseguimos para milhões de brasileiros, mas também para missões comportamentais. Mostramos nas histórias maneiras para o pessoal viver harmonicamente, viver os problemas. Não levar para o dia seguinte uma raiva, uma coisa que vai fazer mal para a saúde, para a cabeça. Trazemos isso há mais de 50 anos para o nosso público. Estou consciente disso e, quando viajo pelo país e falo com todos, principalmente gente da minha idade, eu sinto que temos esse resultado. Esse apelo social filosófico. E essa é a minha medalha. Minha condecoração. Saber que milhões de brasileiros viveram e vivem isso, se alfabetizaram e aprenderam algo pela cartilha informal que é a revistinha da Turma da Mônica. Fico feliz por isso. É uma medalha que levo no peito”.
Se Mauricio de Sousa já causa esse efeito no público, imagina nas quatro escritoras que tiveram a difícil missão de criar contos para personagens tão adoradas há anos. A história da Mônica ficou a cargo de Babi Dewet, Carol Christo assumiu a Magali, Pam Gonçalves levou Denise para Santa Catarina e Melina Souza fez Marina experimentar a fotografia. Para todas, a maior dificuldade, claro, foi encontrar as vozes das personagens em seus próprios estilos, porém, sem que elas perdessem a sua essência.
“Foi um pouco desesperador (risos)”, assumiu Carol. “É muita pressão porque a Magali é a minha personagem favorita desde pequena. Foi a única boneca da turma que eu tive. Quando sentei para escrever, pensei no que iria fazer. Li todos os gibis antigos e da Turma da Mônica Jovem. A parte mais difícil foi encontrar a voz da Magali porque não é minha, é do Mauricio. Tinha que encarnar ela de alguma forma. Quando encontrei a voz dela, eu consegui”.
Babi, por sua vez, que precisava apresentar uma nova história para ninguém menos do que a principal personagem da turminha, afirmou que tentou tirar a Mônica de sua zona de conforto e mostrar que ela era uma adolescente normal, como todas. Por isso mesmo, a levou para o outro lado do mundo. Na Coreia.
“Como a Carol falou, é uma pressão de você tentar encontra a voz da personagem, porque, afinal de contas, é a Mônica!”, declarou. “A gente não está brincando com qualquer coisa. É uma personagem tão importante. Era uma coisa bem complexa, porém, eu sou fã da turma desde criança. Sou muito fã da Mônica. Eu me sentia muito Mônica quando era criança e adolescente, sempre me senti meio dona da rua, tinha muitos amigos. Me sentia muito próxima da Mônica. Parei para pensar no que a Mônica faria nessa situação, muito longe do Limoeiro e dos amigos, num lugar onde ela não é ‘a’ Mônica, só uma adolescente descobrindo coisas novas, pessoas novas, músicas novas e descobrindo, inclusive, quem ela é longe de tudo isso. Acho isso muito legal, descobrir que ali no meio ela é uma adolescente como todas as outras. Ela é igual a vocês, tem as mesmas inseguranças, alegrias. Foi um pouquinho disso que eu quis passar. Como fã da Mônica não foi fácil achar a voz, mas, quando achei, foi muito divertido”.
Já Pam quis trazer um aprendizado não apenas para a conectada e falante Denise, mas também para todos e para si mesma, como ressaltou.
“Primeiro, eu pensei no que a Denise precisa aprender”, disse. “Qual o aprendizado que ela vai ter com a viagem. E mandei ela para Santa Catarina. Eu sou de lá. O que aconteceria com ela se ela não pudesse falar com ninguém, se não tivesse sinal? Ela foi para lá justamente porque deixou o celular ligado durante uma prova. E foi a primeira coisa que aconteceu, ela ficou sem sinal. Mostrei como é a vida de interior. Ela se importa com as pessoas, adora entrar em projetos. Ela vai ajudar uma pessoa lá e vai aprender com isso. Levei ela para Santa Catarina e ela teve um grande aprendizado. É algo que eu também tenho que aprender, de vez em quando, porque eu também fico o tempo todo na internet. Tenho que pensar em quem está do meu lado. Temos que pensar nisso tudo”.
E Melina quis ensinar à Marina uma nova arte: a fotografia.
“Desde criança, cresci com a turma e sempre quis ser amiga da Marina”, afirmou. “Quando ela aparecia nas revistas, eu relia a história. Ficava encantada em como ela mandava bem com desenho. Mas eu não mando. Eu sempre me identifiquei com a fotografia. Então, coloquei a Marina para fazer um curso de fotografia. Fiquei imaginando as dificuldades que eu teria se tivesse que fazer um curso de desenho e resolvi tentar fazer isso com a Marina em relação à fotografia para ela aprender a minha arte. Foi emocionante saber que a Marina de verdade estava lendo a história que eu criei”.
Por falar em Marina, a verdadeira e uma das filhas de Mauricio – também desenhista e, hoje, uma das responsáveis por aprovar todos os roteiros das histórias da turma -, será que ela aprovou a nova empreitada das personagens?
“Quando o pessoal da empresa chegou com essa ideia, confesso que fiquei um pouco preocupada”, contou ela, que também marcou presença no encontro com os leitores. “Como assim as meninas vão ter voz? Até onde eu sabia, só eu sabia o que a Marina pensava (risos), mas a Mel fez de um jeito que parecia que ela me conhecia. Sou eu mesma. Fiquei super feliz quando ela disse que era a preferida dela também. Desde o primeiro momento que li os textos de todas, fiquei apaixonada. Eu falei para o Sidney (Gusman, responsável pela área de planejamento editorial da Mauricio de Sousa Produções) que ia fazer muito sucesso e estou muito feliz de estar aqui prestigiando todas elas”.
Ter o aval de Mauricio e Marina Sousa não é para qualquer um. E mesmo com as dificuldades e desafios de todo o processo, elas não poderiam ter se saído melhor. Palavras do próprio “pai” das personagens, que, inclusive, gostou tanto da experiência que planeja repeti-la muitas vezes. Mauricio de Sousa declarou ainda que espera vender tantos livros quanto gibis.
“Daqui a 10 anos, quero vender mais livros do que gibi”, indicou Mauricio. “E essas jovens escritoras aqui vão ajudar. O estúdio está lançando 15 livros agora. Só que eu quero fazer mais livros. Esse país precisa de mais livros, mais escritores, mais leitores, mais tudo. A partir de agora, o viés do nosso trabalho, a filosofia do nosso trabalho deve ser essa, no livro. Vamos continuar fazendo quadrinhos, cada vez mais e melhor, mas quero empatar os livros com gibis. Quero fazer mais livros. Acho que o país pode e deve ter mais livros, e esse livro que estamos lançando pela Nemo é a nossa primeira experiência na área de texto sem história em quadrinho e está lindo. Não deixem de ler. Nos admiramos com os textos dessas moças. Agora é o despertar de uma nova era: o texto corrido da Turma da Mônica. E acho que estamos começando muito bem com esse livro”.
Com tantos projetos e realizações e seu lugar garantido na mente e nos corações de milhares de leitores, das mais variadas gerações, falta alguma coisa para Mauricio de Sousa realizar? Dono de uma disposição invejável, para a alegria e felicidade de todos, ele garantiu que nem pensa em parar.
“Sonhos, desejo de fazer alguma coisa, não passam nunca na vida de uma pessoa normal”, concluiu. “E todos nós somos normais. Todos temos sonhos. Aquele que você tem até acordado, como uma missão ou desejo. Todo mundo tem algumas ambições, esse tipo de sonho de realizar alguma coisa. Não devemos esquecer e precisamos ir atrás, transformar num foco e objetivo de vida. Eu fiz isso. Desde criança, queria fazer história. Eu estudei quem fazia quadrinhos no mundo, a técnica, o marketing e, daí, eu fui degrau a degrau, logicamente tropeçando em alguns. Nunca na vida, em nenhum momento, eu duvidei da possibilidade de os meus sonhos não se realizaram. Não é tão normal a gente nunca ter dúvida, mas acho que tenho alguma coisa fora do quadrado (risos). Eu sempre achei que tudo ia dar certo, mesmo nos momentos em que algo dava errado. Felizmente, a maioria dos sonhos que eu tinha foi realizada e, quando esses sonhos não deram certo, troquei por outros. E é assim até hoje, há 50 anos. Com a mesma mensagem, o mesmo objetivo. E tenho muita lenha para queimar ainda”.
Surpresa cinematográfica
Além da emoção perceptível, o bate papo com Mauricio de Sousa, Babi Dewet, Pam Gonçalves, Melina Souza e Carol Christo também foi marcado por uma divertida surpresa. Depois de confirmar não apenas o filme com atores reais da Turma da Mônica, Mauricio também anunciou o filme live-action da Turma da Mônica Jovem. E essa foi a deixa para uma aparição muito especial no Auditório Madureira, na Bienal do Livro Rio 2017: Denise.
Interpretada pela atriz Carol Amaral, Denise é a segunda personagem do filme da Turma da Mônica Jovem a ser apresentada ao público (a primeira foi a exotérica Ramona, na CCXP, em 2016). O longa é uma produção da Bossa Nova Filmes, em coprodução com a Mauricio de Sousa Produções, e tem lançamento previsto para o início de 2019.
Fiel à personagem dos quadrinhos, Denise é super antenada e conectada e vai falar em suas redes sociais sobre assuntos como moda, lifestyle e beleza, além de interagir com os seguidores e com a própria Ramona. Totalmente divertida e extrovertida, a apresentação de Denise foi uma atração à parte durante o painel. E, a julgar pela bela recepção do público, ela vai poder contar com muitos seguidores!
Assista à apresentação de Denise durante o painel na Bienal do Livro Rio 2017: