O Vilarejo, Raphael Montes | Resenha
‘O Vilarejo’: uma leitura que prende a cada conto
Sete pecados capitais. Sete demônios que invocam o mal nas pessoas. Cada conto uma história de arrepiar que mostra acontecimentos que assombraram e dizimaram um pequeno vilarejo isolado. Será que a fome e o frio são capazes de provocar o mal ou ele sempre esteve presente naqueles moradores? Em O Vilarejo, publicado pela Editora Suma, Raphael Montes nos apresenta sete histórias conectadas pela maldade, degradação humana e o terror.
Fugindo um pouco do policial, gênero que o consagrou, Raphael consegue cativar o público com uma boa coletânea de textos. O talento do autor é indiscutível! Com um bom ritmo, ele nos envolve com cada personagem e trama apresentada. Mesmo independentes, os contos de O Vilarejo mostram certa coesão. Tudo é muito bem costurado.
Ao contrário de outros livros de contos, O Vilarejo consegue se livrar de um dos males que mais atingem o formato: a falta de ritmo de leitura pela quebra dos textos. Por terem uma conexão, tanto pela contextualização quanto pelos personagens, acaba que o leitor fica entretido na trama sinistra dos habitantes daquele vilarejo. Assim, fica difícil interromper a leitura e, por ser uma obra curta, é fulgás. No entanto, a obra não se livra de outro mal que assola esta literatura, que é manter a qualidade de todos os textos apresentados.
No geral, o padrão de qualidade é alto. Logo de cara, o conto Banquete para Anatole arrebata os leitores. Sério, é muito interessante, perturbador e chocante! Porém, em O Negro Caolho, acredito que o desenvolvimento, ou melhor, a mudança de comportamento de uma das personagens é mal explicada e isso acaba atingindo a trama central que permeia O Vilarejo e resvala em outros contos.
Um outro ponto que não me agradou muito foi a tentativa, no prefácio e no posfácio, de dar um toque de realidade à obra. Não achei muito convincente o autor ter se colocado como tradutor de obras vendidas para um sebo. Ficcionalizou demais o encontro do material para dar um ar de “sinistro” nos textos e acabou tirando o terror da história em si.
Em relação à ordem de leitura, que é vendida como algo que pode ser lido de forma aleatória, acredito que isso seja um pouco questionável. Se lermos o último conto logo de cara, acho que a trama central perde o seu encanto. Assim, sugiro manter a ordem mesmo. Ou, pelo menos, seguir as posições dos primeiro e último textos.
Para complementar a ótima narrativa de Raphael Montes, O Vilarejo apresenta ilustrações que reforçam as emoções e os personagens, que, por limitações de formato, tendem a ser mais omitidos nos contos. As imagens estão fantásticas! Um belo conjunto que passa todo o terror e a dramaticidade dos acontecimentos narrados. Para deixar registrado, as ilustrações são de Marcelo Damm. Além disso, o trabalho gráfico do livro como um todo está incrível e todos os detalhes de acabamento, impecáveis.
O Vilarejo é uma ótima oportunidade de ver Raphael Montes, já consagrado na literatura policial nacional, desbravando o universo sinistro do terror. É um livro muito ágil e bem escrito, repleto de surpresas que vão deixar o leitor tenso.