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Contra Todas as Probabilidades do Amor, de Rebekah Crane | Resenha

‘Contra Todas as Probabilidades do Amor’: um livro transformador, uma verdadeira terapia

Conhecer a si mesmo. Trabalho em equipe. Lealdade. Coragem. Perseverança. Esperança.

Seis necessidades básicas do ser humano. Ou, pelo menos, é o que boa parte das pessoas busca. Mas, para uns, esse é um caminho árduo, muito difícil mesmo. A nossa mente é um dos nossos maiores desafios na vida. E, em alguns momentos, o nosso pior inimigo e o mais assustador dos pesadelos. Justamente por não conseguirmos controlá-la e acharmos que aquilo que a nossa mente projeta irá nos definir ou, mais ainda, definir o nosso futuro. Contra Todas as Probabilidades do Amor, livro lindo da Rebekah Crane, publicado pela Faro Editorial, consegue trazer uma nova perspectiva a todos que, em algum momento de suas vidas, se viram perdidos, sem rumo e acharam que estavam completamente sozinhos na imensa e sombria solidão de suas mentes perturbadas e descontroladas.

Na trama, conhecemos o acampamento Pádua, um retiro de verão para adolescentes problemáticos, mas problemáticos mesmo. Nada perto daquela jornada recheada de hormônios e drama. Não. Problemas daqueles que derrubam qualquer um, em qualquer idade. E é para lá que a jovem Zander é enviada, contra a sua vontade, pelos pais. A partir daí, ela conhece vários outros adolescentes na mesma situação, incluindo Grover, Alex e Cassie. Com o trio, ela estabelece uma forte relação, que irá mudar a sua vida. Mais do que isso, ela percebe que, além das diferenças, todos têm algo em comum: estão quebrados por dentro. Ao longo do verão e das terapias em grupo, eles revelam os seus segredos, seus traumas e tentam se redescobrir e recomeçar as suas vidas novamente.

Sinceramente, eu não sei nem como começar a falar sobre esse livro. Muito menos fazê-lo sem ficar com os olhos cheios d’água. O que Rebekah nos proporciona, junto com Zander, Grover, Alex, Cassie, Hannah, Dori e todos os outros, é literalmente uma terapia em grupo. Autora, leitores, personagens. É uma catarse emocional e reflexiva. Contra Todas as Probabilidades do Amor é de uma sensibilidade que poucos escritores conseguem passar. Acima de tudo, Rebekah tem o cuidado de fazer tudo isso com uma leveza tão singela, quase poética, e, ao mesmo tempo, trazendo uma profundidade de tocar e arrebatar os nossos corações.

E é tudo tão pessoal, tão verdadeiro, tão duro e tão humano que eu realmente não me sinto à vontade para “definir” esses personagens. Acho que seria muito injusto da minha parte, e não faria jus a eles, se eu simplesmente chegasse aqui e buscasse algumas palavras, alguns adjetivos para descrever Zander, Grover, Alex e Cassie, tomando como base apenas os problemas e as bagagens de cada um. Até porque, sinto que, se falasse dos quatro, precisaria também falar dos outros, que, para mim, mesmo sendo coadjuvantes, também possuem um papel fundamental e têm suas próprias histórias para nos inspirar. Sim, gente, eu sei que eles são “apenas” personagens. Mas, vejam bem, para mim – como para MUITOS leitores, disso eu tenho certeza -, eles não são APENAS personagens. Nesse livro, eles são exemplos de força, coragem, superação, lealdade, perseverança e esperança. Eles são a maneira que Rebekah encontrou de dizer: não, você não está sozinho(a). Você não precisa passar por isso sozinho(a). Há outras pessoas percorrendo esse caminho como você e junto com você.

Mais do que isso, Rebekah também faz questão de apontar que todos eles são adolescentes como qualquer um. Tem seus defeitos, suas qualidades, medos e inseguranças. Às vezes, confesso, tive vontade de esganar certos personagens. Mas esse livro me gerou, acima de qualquer coisa, tanta empatia, tanta solidariedade, que eu só queria me transportar para as páginas, para aquele acampamento, e abraçar cada um deles.

Os problemas de Zander, Grover, Alex, Cassie e dos demais jovens que se encontram no acampamento Pádua são cruéis, muito difíceis e reveladores. São problemas que causam marcas, cicatrizes profundas – e não apenas na pele, no corpo, mas também internamente -, capazes de transformar a essência do ser humano. Impossível não se identificar com, pelo menos, um deles. O coração fica pequenininho, a garganta apertada com o choro que tentamos segurar (e falhamos miseravelmente – eu, no caso). Porque quem já passou por algo parecido sabe o quão difícil é essa luta e o quão importante é termos apoio, alguém do lado para nos segurar e dizer: vai ficar tudo bem, eu acredito em você. É tão bonito, mas tão bonito acompanharmos esses personagens em suas próprias jornadas de renascimento que vocês não têm ideia (por isso mesmo, leiam!). E aquelas cartas? Gente, eu achei todas aquelas cartas e mensagens tão reveladoras. Elas conseguiam traduzir em poucas palavras o momento exato pelo qual cada um deles passava. Rebekah, acho que já deu para perceber, né, mas você ganhou mais uma fã.

Contra Todas as Probabilidades do Amor, como muitos livros Young Adults que felizmente temos o prazer de ler, hoje em dia, é necessário. Muito necessário. É uma leitura transformadora, inspiradora. É uma obra para ler, pensar, refletir e agir. Um livro para ser trabalhado, difundido, compartilhado. Ele mostra que o amor é maior e mais certo do que qualquer probabilidade.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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