LER 2018: os sonhos de A.C. Meyer e FML Pepper
Em bate papo com os leitores na LER – Salão Carioca do Livro, as autoras A.C. Meyer e FML Pepper falam sobre as diferenças entre romance contemporâneo e fantasia, a importância das redes sociais e literatura nacional
Muito romance, muita fantasia, muitos sonhos e sorrisos. O papo com as autoras A.C. Meyer e FML Pepper, na segunda edição da LER – Salão Carioca do Livro, que aconteceu entre os dias 17 e 20 de maio, na Biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio, foi marcado por revelações e suspiros. Afinal, estamos falando das escritoras responsáveis por livros como a série After Dark (Universo dos Livros) e a trilogia Não Pare! (editora Valentina). E elas aproveitaram a ocasião para conversar com os leitores sobre suas obras e carreiras.
Para Pepper, sua trilogia Não Pare! ajudou a mudar a percepção do mercado em relação à literatura fantástica para as mulheres.
“Uma coisa que eu achei muito legal com a trilogia Não Pare! é que eu dei às mulheres uma voz que eu não ouvia tanto”, declarou Pepper. “Fantasia, em literatura nacional, ou se falava sobre fada ou então era só fantasia high level, coisa de macho mesmo. A gente fica até meio perdida, porque a gente quer ação, mas também queremos romance. Mulher gosta disso. E isso não tinha. Ou era punk, só espada, matou e pronto ou histórias sobre fadinhas. Eu ficava revoltada. Será que eu não podia ter um meio termo disso aí? Em que a morte fosse um guerreiro, mas que também pudesse ter romance e desdobramentos?”.
As duas também apontaram as diferenças entre os seus gêneros, uma vez que nos romances contemporâneos é mais fácil o leitor se identificar com a trama e seus personagens, enquanto na fantasia há uma liberdade de criação que não implica necessariamente em representações da realidade.
“Eu imagino um personagem para aquela situação e vou colocando”, explicou Pepper. “O único personagem no qual eu realmente pensei muito foi o Richard (da trilogia Não Pare!). “Eu não sei se os leitores se veem. Particularmente, eu não penso muito nisso. Não penso no meu personagem sendo a pessoa do dia a dia. Penso no personagem justamente no sentido do que não somos no dia a dia para podermos sonhar. Eu quero que os meus personagens tenham o que eu não tenho e possam voar”.
Já A.C. Meyer está acostumada a fazer seus leitores sonharem acordados e se imaginarem nas histórias.
“Minha escrita é muito coloquial”, indicou Meyer. “Para envolver o leitor na história. Então, eles se sentem melhores amigos dos personagens. Os leitores se identificam conosco e com os personagens. Eles vêm pela história. Eu já me inspirei em leitores e, às vezes, eles comentam que já passaram por algumas situações que eu coloco nos meus livros. No caso da Pepper é diferente porque é fantasia. O meu é romance contemporâneo, então, é mais próximo da realidade do que a fantasia. Eu tenho uma amiga que lê as minhas histórias antes e ela fica me perguntando ‘por que você fez isso?’. Aí, eu respondo ‘porque, se eu não fizesse, não teria livro’. É dessa forma que a gente vê que está sendo lida”.
Hoje, por conta das redes sociais, os autores nacionais conseguiram estabelecer relações mais próximas com os leitores, e muitos desses escritores também estão conseguindo finalmente realizar o seu sonho de serem conhecidos justamente por estarem online. Meyer e Pepper, por sua vez, exaltaram a influência das redes sociais no mercado editorial brasileiro.
“Eu tento estar nas mídias o tempo todo, mas vai sempre ter alguma coisa que pode acontecer”, afirmou Pepper. “Eu sou um ser humano. Em alguns momentos dá. Uma boa ideia é fundamental, mas, se não arregaçar a manga e trabalhar, não vai funcionar. Você tem que fazer o seu melhor, lidar com a galera e tem também um pouquinho da sorte. Cabe a gente fazer o melhor trabalho possível, se expor, mas tem uma parte também que não depende da gente”.
“Eu sou muito ligada em todas as redes, muito presente e muito ativa”, completou Meyer. “Sempre posto alguma coisa sobre livro todo dia. As minhas redes são redes de trabalho. Eu acompanho muito todas as resenhas de todos os meus livros. Eu gosto de ver as resenhas que tenham algo para acrescentar. Todo livro merece ser livro porque o que pode ser bom para mim pode não ser bom para você. Elas ajudam a gente a crescer, a saber o que o leitor quer. O trabalho do autor é 50% escrever e os outros 50%, divulgação, rede social e as outras tarefas que temos que fazer. A rede social é essencial. Hoje em dia, não dá para abrir mão de ouvir o que o leitor está falando. Muitas vezes, eles dão sugestão de coisas para escrever também. É tudo muito dinâmico. Você tem que estar disponível. O celular está ligado e conectado o tempo todo. Há 10 anos, quando a rede social não era algo tão forte, eu, como leitora, dificilmente procurava um autor favorito na internet. A gente procurava o autor numa sessão de autografo, o que também era muito raro. Eu não me lembro, na minha juventude, de ter esse contato, de poder falar, abraçar, beijar. Era uma coisa tão distante da gente. Hoje, as coisas mudaram, até mesmo a questão da literatura nacional. Ela tomou força porque o autor está aqui. Você pode encontrar, falar. Quando o leitor percebeu que tinha essa facilidade de ter esse contato mais próximo, as coisas mudaram. Eles viram que não eram só os autores estrangeiros que eram legais”.
Por falar em espaço para os autores nacionais, Pepper ainda comentou sobre o preconceito literário, o bloqueio que os leitores brasileiros têm com os escritores do próprio país, apesar de, ela ressaltou, este cenário está começando a mudar.
“A minha história com a literatura é muito recente na minha vida, tem o tempo de vida do meu filho”, concluiu. “Eu não tinha aquele hábito de ler. Só lia livros de odontologia (Pepper também é dentista). Esse era o meu universo, até engravidar. E eu tive uma sorte grande, por conta da quantidade grande de livros que eu li na gravidez, de ter um conhecimento desse universo. A gente só via autor estrangeiro, mas já estava começando a mudar. Já tinha a Thalita (Rebouças), a Paula (Pimenta), e já dava para começar a ver o movimento. A nossa luta, e eu acho que vem mudando de uns anos para cá, é o bloqueio, o preconceito do leitor ao nacional. Tudo o que vem de fora é excelente e o nosso, talvez, não. A avaliação é um pouco seletiva. Já existe um preconceito nato, tudo o que vem de fora tende a ser melhor. De uns tempos para cá, parece que finalmente a galera está abrindo os olhos e percebendo que tem muita coisa boa aqui dentro. Eu escreverei livros bons e ruins. Acontece com todo mundo. Nem tudo o que vem de fora é superior”.