Máquinas Mortais, de Philip Reeve | Resenha
‘Máquinas Mortais’, corra das cidades, porque elas podem vir atrás de você
Só fiquei sabendo recentemente que seria lançado o filme Máquinas Mortais, coincidentemente baseado no livro que eu estava lendo.
Era só eu ou mais alguém não sabia que ia virar filme? Porque agora eu me sinto na obrigação de ir assistir.
O livro Máquinas Mortais, de Philip Reeve, foi lançado pela primeira vez em 2001, se não me engano. Mas só foi trazido para o Brasil agora, pela queridíssima HarperCollins Brasil.
E, pensando bem, acho que esse é o tipo de história que tem muito potencial para se tornar um filme quase melhor do que o livro. E o diretor é Peter Jackson — que dirigiu toda a franquia d’O Senhor dos Anéis e O Hobbit. Então, estou com expectativas altas.
A história se passa em um universo distópico — acho que poderia ser visto como uma espécie bem doida de futuro —, onde as cidades literalmente andam sobre esteiras gigantes, caçando e comendo umas às outras para continuarem funcionando. É o que chamam de Tracionismo.
Tenho que admitir que isso eu nunca imaginei. Foi uma forma de Reeve dizer o mesmo que muitos e muitos outros autores — de que o avanço tecnológico pode ser bom, mas também muito perigoso — de uma forma bem original e inesperada.
Mas o mundo tracionista está entrando em colapso também, porque as cidades estão sendo devoradas e, portanto, tornando-se cada vez mais escassas. Em uma dessas cidades, Londres, vive o nosso protagonista Tom, um aprendiz de historiador quem tem mais problemas do que qualquer outra coisa.
Contudo, como a vida é uma caixinha de horrores, tudo sempre pode ficar pior. E fica mesmo, quando uma garota misteriosa e com uma terrível cicatriz no rosto tenta assassinar o grande historiador Valentine, um dos homens mais famosos de toda Londres.
Essa garota é ninguém menos do que Hester, que, ao que tudo indica, tem um passado sombrio envolvendo o tão valoroso Valentine.
Não vou dar muitos detalhes. Tudo o que vou dizer é que Tom acaba jogado de Londres, no perigoso mundo exterior, longe da proteção da cidade móvel.
Com ninguém menos do que a própria Hester.
E aí é barbaridade atrás de barbaridade.
É sério, Reeve criou um mundo impetuoso e cheio de gente interesseira e malvada. Nas primeiras 120 páginas, Tom e Hester comem o pão que o diabo amassou e, depois de um tempo, até o leitor começa a não confiar em mais ninguém. Ou seja, é problema atrás de problema. Pode ter certeza de que tédio é uma coisa que você não vai sofrer enquanto estiver lendo esse livro. Mas admito que senti um pouco de falta de momentos puramente felizes.
Em contrapartida a Hester e Tom, temos Katherine, filha de Valentine, e, portanto, uma moça que vive na alta sociedade e não sabia o que era sofrimento, até o dia em que Hester tenta matar seu pai.
A partir desse momento, ela começa a fazer perguntas. Por que aquela garota tentou matar seu pai? Como seu novo amigo Tom caiu de Londres? E a pergunta mais inquietante: quem era aquela garota?
Com isso, Katherine começa a desvendar segredos sombrios sobre a cidade, sobre o mundo e sobre o seu próprio pai.
Os personagens são um pouco conflitantes, principalmente Valentine e Hester, na minha opinião. De todos eles, Tom foi o que achei mais bem construído e o único de quem eu realmente gostei. Gostei também do contraste que ele criou ao interagir com Hester, que consegue ser semelhante, mas, ao mento tempo, bem diferente dele. Ambos são órfãos e sofreram na pele a crueldade daquele mundo, a ganância do homem e o preconceito por pertencer a uma classe considerada inferior. Eles têm um início parecido, mas se tornam pessoas completamente diferentes. Enquanto Tom estuda e trabalha para se tornar um historiador, é um garoto gentil, bem educado e, até mesmo, bondoso, Hester cresceu fora das cidades móveis, na maior parte do tempo sozinha ou com um dos Homens Ressuscitados — um tipo de ciborgue louco e sanguinário —, alimentando seu desejo de vingança contra a pessoa que destruiu sua família e marcou seu rosto.
É interessante ver como um consegue influenciar e mudar pouco a pouco o outro. Até o final da história, ambos são pessoas completamente diferentes.
Sinceramente, acho que a base da trama poderia ter sido muito melhor aproveitada, mas não posso dizer que não curti a leitura.
Entretanto, como eu disse no início, acho que pode dar uma ótima adaptação cinematográfica. Consigo imaginar cenas muito bonitas e impressionantes com grandes trilhas sonoras e o toque mágico de Jackson — se ele pegar no roteiro, então, pode ficar ótimo — arrasando em uma tela de cinema.
Quanto ao trabalho da editora, está muito bom. A capa está muito coerente com a história — embora dê para ver logo de cara que se trata da união de várias imagens. E o interior do livro também está muito bem feito.
Meu parecer final é que Máquinas Mortais é um bom livro, mas poderia ser ainda melhor. De qualquer forma, admito que o universo que Reeve oferece me parece bastante original e inexplorado. E ainda há outros livros da série.
Vou aguardar por eles.