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Você, de Caroline Kepnes | Resenha

Sabe quando dizem “cuidado com o que você posta nas redes sociais?”. Pois é. Depois de ler Você, de Caroline Kepnes, publicado pela editora Rocco, esse aviso nunca mais vai sair da sua cabeça.

Na trama, Joe Goldberg conhece Beck, uma linda aspirante a escritora, quando ela entra na livraria do East Village onde ele trabalha. Encantado, Joe logo procura o nome que está no cartão de crédito no Google. E, para sua sorte, o nome Guinevere Beck não é tão comum, e ela é daquelas que adoram postar nas redes sociais, dando a ele todas as informações de que precisa. É aí que Beck, sem saber, torna-se a mulher perfeita para Joe, que começa a planejar obsessivamente vários planos para conquistá-la. Depois de passar de stalker para namorado, Joe trabalha para remover – de todas as formas – qualquer obstáculo que possa surgir e ameaçar a sua relação. O problema é que Beck traz uma bagagem imensa e esse relacionamento mutuamente obsessivo pode ter consequências muito mais séries e perigosas.

A escrita de Caroline é visceral. Arrebatadora e direta. Narrado em primeira pessoa, Você nos traga para a mente psicopata e obsessiva de Joe de forma bastante incômoda, uma vez que a sua personalidade é apresentada em partes, ao longo do desenvolvimento da história. Desde o primeiro momento, sabemos que Joe é uma pessoa, digamos assim, um tanto quanto impulsiva, mas, até então, não temos a menor ideia do quão longe pode chegar. É interessante descobrir a sua essência sombria, pragmática e extremamente fria através de suas próprias lembranças e pensamentos. Isso, para mim, tornou o livro ainda mais angustiante, porque acompanhamos toda a sua maneira de pensar, planejar e executar. TENSO!

Por falar em Joe, Caroline nos surpreende com um protagonista absolutamente perigoso, manipulador e igualmente envolvente. É absurdo saber que tantas pessoas ainda conseguem encontrar justificativas para os seus atos e romantizar as suas questões, mas acredito que isso seja – até certo ponto, que fique bem claro – mérito da autora e da sua capacidade de mostrar que pessoas como Joe, aparentemente inofensivas e apaixonadas, podem ser as mais cruéis e mentirosas. Fica aí a dica e, acima de tudo, o alerta!

Mesmo com a narração de Joe, Beck também divide as nossas opiniões e nos faz refletir. Ela é a representação da “geração das redes sociais”, que, por trás de postagens otimistas, profundas e glamourosas, esconde frustrações e inseguranças. Beck serve também para nos mostrar que a vida é melhor para ser vivida plenamente e verdadeiramente, em vez de perdermos tanto tempo produzindo fotos, pensando em legendas ou correndo atrás de seguidores, curtidas e compartilhamentos.

Inclusive, a série You, sucesso recente exibido pela Netflix baseado no livro, mostra bem essa ambiguidade de ambos os personagens. E você pode saber mais sobre a produção televisiva na ótima crítica do nosso parceiro Anatomia Pop.

Você é mais do que uma análise social. Em minha humilde opinião, o livro tem, sim, uma função. No sentido de alertar sobre a superficialidade e o excesso de exposição. E ainda sobre relacionamentos abusivos e o machismo mascarado. É impossível, ao terminar a leitura, não sentir medo e repensar (principalmente as nossas redes sociais – deu vontade de apagar tudo correndo!). Sobre a forma como levamos a nossa vida e achamos que devemos mostrá-la. Sobre vaidade e arrogância. Sobre a nossa rotina na internet. Sobre como confiamos cegamente nas pessoas e nos deixamos envolver a ponto de nos anular e nos subjugar. Sobre realmente sermos a melhor versão de nós mesmos. De carne e osso, não virtual.

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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