O Cemitério, de Stephen King | Resenha
‘O Cemitério’: uma das histórias mais assustadoras que você vai ler
*ATENÇÃO! ESTA RESENHA PODE CONTER SPOILERS, CASO NÃO CONHEÇA A HISTÓRIA DO LIVRO OU AINDA NÃO TENHA ASSISTIDO À PRIMEIRA VERSÃO DO FILME O CEMITÉRIO MALDITO.
Quando vi, ainda no final da infância, o filme O Cemitério Maldito, imediatamente o coloquei no topo da minha lista de terror. Cage, aquela criança fofa que volta demoníaca após a morte, me cativou. Um contraste de inocência e doçura que se transforma em algo assustador. O mal vindo de onde menos imaginamos. Assisti à produção outras tantas vezes e, um pouco mais velho, outro detalhe me fascinou ainda mais: o desespero do pai em trazer o filho amado de volta à vida, mesmo que para isso tenha que lidar, digamos assim, com algo diferente. Apesar de amar o filme, sabia que precisava de mais. Ler a obra que o originou – O Cemitério, publicado aqui no Brasil pela Editora Suma -, por mais tardio que tenha sido, foi inevitável. E morbidamente calhou de ser quando eu estava enfrentando uma perda. Foi difícil, mas me proporcionou lidar com o luto de uma outra forma.
O Cemitério narra a história de Louis Creed, um jovem médico de Chicago que se muda para uma pequena cidade do Maine com a esposa Rachel e os filhos, Ellie e Gage, quando começa a trabalhar na universidade. A vida tranquila e a nova casa enchem a família de felicidade e de certeza de que fizeram a melhor escolha. Entretanto, num dos primeiros passeios pela nova residência, a família, guiada pelo vizinho Jud Crandall, conhece um “simitério” – escrito com esta grafia mesmo – de animais no bosque próximo, onde gerações de crianças enterraram seus animais de estimação, mortos principalmente na rodovia que corta o local. Mais adiante, no entanto, há outro cemitério que atrai pessoas com promessas sedutoras e onde forças estranhas são capazes de tornar real o que sempre pareceu impossível: trazer mortos de volta à vida.
Sinistro, não? Considero esta uma das minhas premissas favoritas para histórias de terror, se não for a melhor. A morte é a única certeza da vida. O fim. E, a partir daí, não tem mais volta (até onde sabemos). A morte por si só é repleta de mistérios. O que acontece quando nós morremos? Mesmo tido como algo irreversível, será que não dá para achar um meio de burlar esta verdade? Pensar nisso, ao mesmo tempo que fascina, provoca o medo. É uma quebra do ciclo da vida. É algo que vai contra a vontade divina, se pensarmos num viés religioso.
Se você tivesse a possibilidade de trazer um ente querido de volta à vida, o faria?
É difícil julgar qual seria a nossa reação. O luto nos deixa frágil. Loucura? Talvez. Este é o questionamento central de O Cemitério, através dos dilemas do médico Louis. Na narrativa, acompanhamos todo o desespero, a culpa e as dificuldades de lidar com a perda, o que leva o personagem a ter atitudes drásticas. O livro também aborda o luto por outras perspectivas que são bem interessantes, como a descoberta/curiosidade sobre o real sentido da morte (pela filha Ellie) e o total bloqueio sobre assunto (da mãe Rachel). O aprofundamento das questões do luto e do medo é um dos principais destaques do livro.
O Cemitério é uma das melhores publicações do mestre Stephen King. Por mais que aprecie muito o trabalho do autor, tenho que admitir que os excessos são seu calcanhar de Aquiles. Em grande parte das suas obras, há muitos trechos desnecessários, que não levam a lugar nenhum e poderiam ser retirados. Apesar de narrar uma história como ninguém, uma edição comprometida prejudica o andamento da leitura de alguns de seus títulos. Felizmente, isso não acontece com O Cemitério. É tudo na medida. Uma das tramas de melhor ritmo.
Para ser uma boa história de terror não basta ter também – e apenas – uma boa premissa, personagens instigantes, reflexões interessantes (sobre o luto, por exemplo) e um bom andamento de leitura. Uma boa história de terror precisa ser assustadora! Não adianta ser tecnicamente perfeita, se ela não provocar o medo. Mas fiquem tranquilos – ou não. O Cemitério tem toda a morbidez necessária e cenas aterrorizantes. É muita dor, desespero, aflição, que você sente na escrita e carrega após a leitura. Impossível não ficar fascinado(a)!
O Cemitério é uma das melhores e mais assustadoras histórias de terror. Um conjunto formidável. Mesmo já conhecendo a trama, fiquei empolgado na leitura e fui surpreendido. É pesado, sem dúvidas! Porém, por trás de todo o medo descrito, há questionamentos e um outro olhar sobre a morte.
******
No dia 9 de maio/2019, estreia nos cinemas brasileiros o remake do filme O Cemitério Maldito, inspirado na obra O Cemitério, de Stephen King. Confesso que, assim que eu soube da adaptação, fiquei em êxtase, principalmente depois da boa nova versão de It – A Coisa.
ATENÇÃO! SPOILERS!
Após o primeiro trailer, mantive minha animação, mas, depois da revelação de que nesta obra Gage não morrerá, fiquei um pouco frustrado. Acho que a história pode perder parte de sua essência, mas, enfim, vou tentar dar um crédito (na verdade, não consigo boicotar) e depois falo as minhas impressões aqui no Vai Lendo! 😉
2 Comentários
Mayckel
Possuo este livro há algum tempo mas fico adiando a sua leitura. Estou a ponto de iniciar ainda este mês e por conta disso nem pude conferir a resenha. Tenho curiosidade no filme de 2019 mas não vou fazê-lo sem antes ter o contato com o livro de modo a não correr o risco de atrapalhar a experiência.
Vai Lendo
Oi Mayckel. A adaptação de 2019 é diferente do livro, apesar de manter a essência. A versão de 1989 é mais fiel. Gosto muito da obra como um todo. “O cemitério” é um dos meus livros favoritos do Stephen King e do gênero. Espero que aproveite a leitura! Sem dúvidas, leia o livro antes de ver o filme. Faz toda a diferença. Abs Daniel