Vozes do Joelma: uma boa oportunidade para conhecer os talentos do horror nacional
O trágico incêndio do edifício Joelma, em São Paulo, na década de 1970, foi um desastre que marcou a sociedade brasileira. Mesmo sem ter nascido na época, lembro-me das imagens televisionadas para retratar o acontecimento. Eram chocantes! Me recordo também da grande labareda engolindo o prédio, pessoas desesperadas, outras pulando das janelas rumo à morte, feridos inconscientes sendo resgatados pelos bombeiros… Chego a ficar arrepiado!
Falar sobre o Joelma envolve toda uma morbidez. Mesmo quando assistimos a um documentário sobre a tragédia, a “sensação ruim” já está lá. Se apropriar desta áurea negativa para fazer ficção de terror é algo bem interessante. Particularmente, gosto muito (e fico aterrorizado). E é juntando este elemento sombrio com bastante criatividade que embarcamos na leitura de Vozes do Joelma: os Gritos que não foram ouvidos, publicado pela Faro editorial.
O livro, escrito por Marcos DeBrito, Rodrigo de Oliveira, Marcus Barcelos e Victor Bonini, com apresentação de Tiago Toy, traz versões sinistras sobre diversas tragédias (lendas) que permearam o local onde estava situado o edifício Joelma. Pois é, o incêndio não foi a única desgraça ocorrida no lugar. Aparentemente, a região é amaldiçoada desde a época dos índios, que o chamavam de Anhangabaú: águas do mal. Portanto, não preciso dizer que há várias histórias sinistras.
Como não sou de São Paulo, não conhecia a má fama do local e fiquei surpreso com toda essa vocação para a tragédia do Anhangabaú. A ideia da concepção do livro é muito boa, assim como o trabalho gráfico da editora. A capa é muito bem desenvolvida e faz com que a obra se destaque nas prateleiras. Um verdadeiro convite à leitura.
As histórias de Vozes do Joelma: os Gritos que não foram ouvidos, no geral, são boas e seguem em uma crescente. Acredito que o livro poderia explorar mais o real para construir a sua ficção, mas cumpre bem a proposta. Cada autor se utiliza de uma faceta do terror para desenvolver a sua narrativa – o que pode agradar ou não, dependendo do gosto específico do leitor.
Conheço o trabalho de parte dos autores (só não havia lido Rodrigo de Oliveira e Tiago Toy) e, na minha opinião, a maior surpresa foi o texto de Victor Bonini. Já havia gostado bastante do seu livro Quando ela desaparecere, por isso, imaginava um padrão de escrita e história, porém, o autor trouxe algo diferente, tão bom quanto.
Vozes do Joelma: os Gritos que não foram ouvidos traz diferentes histórias que rondam o universo do famoso edifício, apesar de não focar exclusivamente na tragédia. Além de explorar diferentes nuances do terror, o livro é uma ótima oportunidade de conhecer o trabalho desta promissora geração de autores nacionais.
Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.