A Pequena Livraria dos Sonhos, de Jenny Colgan | Resenha
No ano passado, no segundo semestre, eu comecei a ter o maior bloqueio literário da minha vida. Foi o ano mais desafiador e transformador, cheio de medos e de insegurança, mas também me deu a maior alegria de todas: o meu filho. E, justamente por conta da gravidez, a minha cabeça foi tomada pela ansiedade. Eu simplesmente não conseguia me concentrar, sequer abrir a cabeça para outras coisas, e isso incluiu a leitura. Não focava nem aproveitava aquele momento que sempre foi uma terapia para mim. Só conseguia pensar no meu filho e em tudo relacionado à gravidez. E por que eu estou falando tudo isso numa resenha? Porque chegou uma hora que eu aceitei esse bloqueio e deixei que a vontade de ler voltasse naturalmente. E ela, de fato, voltou. Mas eu sabia que precisava voltar lendo algo mais leve, que mexesse com o meu coração. E A Pequena Livraria dos Sonhos, de Jenny Colgan, publicado pela editora Arqueiro, na nova coleção “Romances de Hoje”, não poderia ter sido uma escolha melhor. Aliás, não foi nem uma escolha. Foi praticamente um chamado.
Na história, conhecemos a tímida Nina, uma bibliotecária que vive em funções dos livros. Até que a biblioteca pública na qual ela trabalha fecha as portas, e ela fica completamente sem rumo. É aí que ela se depara com um anúncio de classificados de uma van que, veja só, ela poderia transformar numa livraria volante e realizar o seu maior sonho: levar os livros e transformar a vida das pessoas em qualquer lugar. O único porém? Ela teria que buscar essa van na Escócia. Reunindo toda a sua coragem, pela primeira vez na vida, Nina é tomada pelo impulso e resolve largar tudo para recomeçar num vilarejo nas belas Terras Altas. Mal sabia ela que, em pouco tempo, aquele lugar viraria o seu verdadeiro lar.
Na quarta capa de A Pequena Livraria dos Sonhos, Jenny abre mão de qualquer sinopse do livro para mandar um recado: sua obra é uma homenagem aos leitores. E, de fato, eu não poderia me sentir mais representada. Vejam bem, a história é totalmente despretensiosa, contudo, ao mesmo tempo, é um bálsamo. Porque a autora está ali para exaltar o poder de transformação dos livros e compartilhar, com todo o amor e carinho, a sua leitura. E, se alguém quiser considerar o texto de Jenny “água com açúcar”, pois bem, eu só tenho a dizer: então me vê logo dois copos cheios, por favor!
Dá vontade de colocar Nina num potinho! Protagonista fofa, inteligente e carismática. Impossível não se identificar com seus medos e receios. Quem nunca teve vontade de jogar tudo para o alto ou quis se arriscar? A personagem evolui de uma maneira singela e divertida, juntamente com os demais personagens, que trazem equilíbrio e nos conquistam de cara. A trama é recheada de referências literárias, claro, o que torna tudo ainda mais cativante. E com diálogos que, de uma maneira muito sensível, enaltecem a literatura.
Jenny tem uma escrita tranquila e sutil e nos faz querer pegar o primeiro avião para a Escócia e, de fato, comprar uma van e abrir uma livraria volante nas Terras Altas (e participar de toda a cultura local). Mais do que isso, a autora, em A Pequena Livraria dos Sonhos, nos mostra o porquê de os livros serem tão importantes em nossas vidas. Com a obra, senti que ela, em nome de todos os leitores, agradece aos livros, aos autores, às histórias. E eu, leitora voraz e apaixonada que sempre tive nos livros um refúgio, superei o meu maior bloqueio literário com uma trama que só reafirmou esse meu amor. Uma leitura doce que aquece o coração e alivia a mente. Exatamente como deve ser.