Resenhas

Stalker: Quando a Inveja se Torna uma Obsessão, de Tarryn Fisher | Resenha

Quem nunca deu uma stalkeada? Aquela espiadinha na vida alheia. Uma coisa, entretanto, é saciar uma curiosidade, algo inerente ao ser humano, dando um confere na rede social do(a) ex, amigo(a), parente ou famoso(a). Outra, completamente insana, é querer a vida de alguém. Inspirado em uma experiência pessoal da própria autora, Tarryn Fisher, Stalker: Quando a Inveja se Torna uma Obsessão, publicado pela Faro Editorial, traz uma trama eletrizante sobre as loucuras que uma mulher faz para ser a outra.

Fig Coxbury busca uma nova vida em West Barrett Street, mas, ao contrário das aparências, o intuito não é recomeçar na nova vizinhança. Ela compra a casa ao lado da família Avery para se aproximar de Darius (o marido) e sua filha, Mercy, e, aos poucos, assumir o papel de Jolene, a matriarca. Para conquistar o seu objetivo, Fig copia, manipula e persegue Jolene. Usa táticas e cenas para tirar a rival do seu caminho.

Stalker é narrado a partir de três perspectivas: da psicopata (Fig), do sociopata (Darius) e da escritora (Jolene). Particularmente, adoro essa estrutura que muda o ponto de vista e gradualmente dá outra visão para os acontecimentos. Essas viradas, além de conferirem agilidade à leitura, no caso da obra de Tarryn Fisher, são os alicerces para a narrativa, despindo os personagens principais de suas máscaras e tecendo os conflitos e dramas pessoais. Um livro arrebatador, que te prende do começo ao fim.

A complexidade dos personagens é o grande destaque de Stalker; os seus questionamentos e o modo como eles veem (e, algumas vezes, julgam) o outro. Eles são imperfeitos e, por isso, instigantes.

A psicopata é aquele típico personagem que amamos odiar. Que adoramos ler, mas que, “Deus me livre”, ter em nossas vidas. Fig é tão insana que intriga o leitor. Não tem pudores. Fala o que pensa. Delira. Totalmente dissimulada! Chega a ser engraçada. A experiência narrativa de entrar nesta mente é tão fascinante, que, na minha opinião, ela poderia narrar o livro inteiro. Sério, bateu carência quando mudou para outro narrador. 

Se, por um lado, a psicopata cativa pela loucura, a escritora, vulgo a vítima da história, tem uma força surpreendente. Jolene foge daquele estereótipo de coitada, frágil – que beira a chatisse. Ela tem personalidade. Reconhece os problemas, sofre (afinal, é humana), mas, apesar de tudo, enfrenta os obstáculos que a vida lhe impõe. Não me surpreende que o público feminino aprecie tanto o trabalho de Fisher. É inspirador (sem ser demasiadamente moralizante)!

Além de boas personagens, incluindo Darius – que narra a segunda parte da história -, Fisher tem uma sagacidade incisiva no texto. É envolvente, quente e ágil. Os diálogos são afiadíssimos e as cenas conseguem transparecer toda a obsessão de Fig. Impossível não ficar incomodado com toda a perseguição, apesar de me divertir bastante com as loucuras da psicopata (não me julguem).

A trama de George (ex-marido de Fig), a meu ver, é um ponto fora da curva no livro. Detesto ver um bom personagem em potencial ser desperdiçado. Senti que ele tinha algo a mais para revelar. Queria saber quem realmente era, qual a perspectiva sobre Fig. No começo, George parece um mero acessório para a narrativa da psicopata (até aí, tudo bem), mas, no fim, surge bem superficial para dar uma mexida na vida da Jolene. Ele não precisava ganhar voz, ser narrador. No entanto, desenvolver melhor a relação com a ex-mulher preencheria um pequeno vazio que senti ao terminar a obra. 

Independente deste pormenor, foi uma experiência fantástica e uma grata surpresa de leitura. A virada final de Stalker ainda me surpreendeu pela postura. Não tem nenhum acontecimento inesperado, porém, a forma como Jolene lidou com o problema é digna de aplausos (de pé). 

Stalker é uma obra avassaladora. Uma leitura envolvente, louca e obsessiva.

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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