Live Faro Editorial: Vinícius Grossos
Perdeu a live com o autor Vinícius Grossos? A gente traz um resumo com os principais tópicos.
Representatividade, sensibilidade, talento. E muito amor pelo que faz. Teve tudo isso e mais um pouco na live da editora Faro Editorial com o autor Vinícius Grossos, na última quinta-feira (30). Durante o bate papo, o escritor falou sobre o seu novo livro, processo de escrita e de criação, influências e representatividade na literatura.
Perdeu a live com Vinícius Grossos? A gente fez um resumo com os principais tópicos:
Livro novo
Vinícius confirmou que seu novo trabalho já está escrito, porém não pôde garantir uma data de lançamento por conta da pandemia.
“As coisas agora voltaram a se normalizar”, afirmou. “O livro novo já está escrito, mas ainda não chegou nas mãos do Pedro (Almeida, editor e criador da Faro Editorial) porque estava tudo paralisado. Deve chegar por agora. O planejamento era para o lançamento ser em outubro, mas agora, com tudo o que está acontecendo, não sei”.
Ele também aproveitou para responder sobre a possibilidade de escrever continuações, algo que, segundo ele, não está nos seus planos.
“Eu não faço livros em série porque, quando escrevo, já determino início, meio e fim”, explicou. “Não fico pensando em deixar ponta solta. Um personagem ou outro pode até voltar e aparecer em outras histórias, mas só isso”.
Inspiração e influência
Desde cedo, Vinícius contou, as palavras o rodeavam. Tanto que, mesmo que o seu primeiro sonho não tenha sido realizado, ele encontrou uma nova maneira de trabalhar com aquilo que mais amava.
“Eu sempre fui uma criança que gostava mais de receber gibis da Turma da Mônica, do Homem Aranha, do que brinquedos”, lembrou. “Eu fui alfabetizado com quatro para cinco anos. Minha mãe é professora e me alfabetizou em casa. Eu brincava criando historinhas. Meu sonho era trabalhar com histórias em quadrinhos, mas eu desenhava muito mal. Aí, eu comecei a criar, a escrever, vi que dava para fazer assim também. Fui me aperfeiçoando, entendendo de mercado. Sempre gostei de contar história”.
E, para quem é apaixonado por histórias, qual seria a preferida? Vinícius nem precisou pensar para responder.
“Meu livro preferido é Eu Sou o Mensageiro, de Markus Zusak (autor de A Menina que Roubava Livros)”, indicou. “Quando eu li esse livro, anos atrás, foi um dos primeiros que eu li quando eu comecei a me sentir leitor. Ele conseguiu escrever sobre a rotina dos personagens. Era uma leitura incrível que cativava e prendia. E eu pensei ‘nossa, quero fazer isso’. Quero escrever sobre pessoas normais e que seja cativante e as pessoas se identifiquem”.
Processo de criação
Sobre o seu processo de escrita, Vinícius disse preparar sempre um roteiro. Contudo, ele também ressaltou que a inspiração e a vontade de escrever precisam vir de maneira orgânica e que, no momento em que está totalmente em função de um livro, não consegue se envolver com outros.
“Tem gente que não planeja nada e gente que planeja tudo”, apontou. “Para eu escrever preciso sentir prazer. Quando fica muito mecânico eu me perco e perco a inspiração. Eu uso os dois métodos. Eu planejo a história com pontos importantes e, no meio disso, vou inventando. Tenho um roteiro do início até o final muito simples e, no meio, vou criando e imaginando. E, quando eu estou escrevendo, não consigo ler nada. Porque acaba me influenciando muito o meu processo de escrita. Quando eu acabo, volto à leitura dos livros que estou lendo”.
E esse processo é tão pessoal que chega quase a virar uma terapia. Isso porque Vinícius não se esconde em suas próprias palavras. Pelo contrário, muito do que os leitores encontram em suas histórias o autor tira da sua própria experiência.
“Isso (se identificar com a história e ser quase uma terapia) aconteceu de uma forma muito latente em Garoto Quase Atropelado e Feitos de Sol (ambos lançados pela Faro). Aliás, se eu tivesse feito terapia antes, esse livro não teria sido escrito. Eu amo escrever. Aí, eu tenho uma ideia e começo a escrever. Do meio para o final, eu começo a traçar paralelos de como essa história veio até mim. E eu começo a resolver os problemas internos escrevendo. É até uma forma de terapia mesmo. Quando as pessoas leem os meus livros, ao mesmo tempo que é muito sobre mim, é sobre eles também. Rola muita identificação. Não sei se é possível escrever uma história que não seja 100% você em linha de pensamento e de sentimento. A nossa forma de enxergar o mundo fica ali um pouquinho nos personagens”.
Literatura LGBT
Justamente por conta disso, de se colocar nas histórias, é que Vinícius acredita criar um elo com os seus leitores, especialmente no que diz respeito à literatura LGBT. Algo que, para ele, faltou em sua adolescência.
“Quando escrevi O Garoto Quase Atropelado, percebi que muita gente tinha gostado do Acácio, que é um personagem LGBT, e isso me deu um estalo. Eu cresci lendo e, muitas vezes, quando eu lia e tinha algo de romance, eu tinha que ficar me imaginando no lugar de outro personagem para ter a possibilidade de ter um romance LGBT. Até então, o que tínhamos de referência, nesse sentido? O Terceiro Travesseiro, que fala muito sobre a questão erótica do ser LGBT, e quando eu li, eu não me identifiquei. Fiquei até chocado com algumas partes (risos). Não tem um livro que fale sobre o primeiro amor? Que trate com naturalidade na juventude? Aí, nos EUA, estava começando um movimento forte de livros do gênero e foi quando rolou de escrever o 1 + 1: A Matemática do Amor, que são dois amigos descobrindo o primeiro amor na suma inocência. Eu quis trazer isso para mostrar que o amor é igual para todo mundo. Ainda mais o primeiro amor. Acho que a gente vai envelhecendo e vai esquecendo dessas sensações. Queria mostrar que todo mundo podia sentir isso também. Fico pensando quando eu tinha essa idade o quão valioso teria sido ter lido algo assim, sem ter que ficar imaginando que a personagem feminina era um menino”.
Inclusive, Vinícius faz questão de representar também a questão do preconceito e da violência, dos quais nem ele ficou imune. Mas são essas experiências que ele espera trazer para ajudar outras pessoas que também estejam passando ou já passaram por algo semelhante. E, ainda que seus livros sejam voltados para o público jovem adulto, eles conseguem atingir outras faixas etárias.
“Essa violência é muito da vivência de quem é LGBT”, afirmou. “Isso acontece muito neste momento de extremismo, das pessoas usando a religião para colocar para fora preconceitos. Isso acontece demais. Eu vim de um lar religioso. Hoje em dia, tudo é paz, mas, quando eles descobriram que eu era gay, eles não sabiam lidar com isso. É a realidade de muita gente. Isso eu emprestei muito para o Vicente (personagem). Essa minha vivência. Todas as coisas ruins que aconteceram comigo, quando eu consigo digerir, acho que pode servir de lição e ajudar outras pessoas a passarem por isso. Recebo mensagens diariamente. Eu escrevo para o jovem adulto, mas tem muitos adultos que leem meus livros e me procuram para dar um parecer e eu fico pensando que é justamente porque na adolescência deles teve esse vácuo. A gente sente falta”.
Identificação
Por conta de tudo isso, Vinícius ponderou que Feitos de Sol foi o seu livro de maior evolução e também o mais difícil de ser escrito, por conta de toda a bagagem que a narrativa carrega do próprio autor.
“Para mim atualmente o Feitos de Sol foi o livro que eu acho que consegui me expressar melhor”, pontuou. “Tudo o que eu queria escrever. E foi o mais difícil também. Eu tive um relacionamento de seis anos que terminou. E foi muito marcante para mim. Quando acabou, entrei numa fossa terrível. A forma de eu conseguir me reerguer e colocar para fora os sentimentos foi escrevendo. Me inspirei muito nessa história que eu vivi pra escrever essa. Então, foi difícil porque, ao mesmo tempo que foi fofo, eu estava visitando uma memória que eu não queria revisitar. Você consegue notar uma jornada, para quem leu meus livros, na minha escrita, uma melhora”.
Representatividade
Por isso mesmo, Vinícius conclamou as editoras a investirem em novas vozes. Em diversas vozes. A abraçar a representatividade e não apenas através da literatura LGBT.
“É papel das editoras investir em literatura LGBT”, ressaltou. “Na minha opinião, acho que a gente fala de cultura, de empatia, mas acho também que temos que dar mais vozes para as pessoas escreverem sobre isso. Ter mais representatividade. E não só sobre a literatura LGBT. Autores negros, personagens latinos. Outras histórias e outras pluralidades. Vivemos num país muito plural. Vamos dar vozes para as pessoas contarem as suas histórias. Assim como eu sentia falta de me ver em romances, outras pessoas também sentem faltas. Pessoas gordas, negras, indígenas. Não abrir só para a literatura LGBT, mas para todos os tipos de boas histórias. Todas as histórias merecem ser contadas. Temos que ficar atentos a isso. Ler mais livros diversos. Só tem a nos engrandecer como pessoas”.
Dicas
Como alguém que começou a carreira como autor independente, em 2014, Vinícius orientou que o mais importante para quem deseja começar a escrever é criar uma história com a qual ele se identifique.
“Se eu fosse dar uma dica para quem está começando é: criem histórias que sejam mais próximas da sua realidade, da sua vivência”, concluiu. “Com o núcleo que você mora tem uma visão única que só você vai ter. A sua regionalidade vai acrescentar muito mais e tem mais chance de ser tornar única e diversa num mar de coisas iguais. Lembrando sempre que a escrita é um processo contínuo de aprendizado”.
Quarentena
Em tempos de isolamento social, Vinícius estreou em outro formato: nos contos. Já está disponível na Amazon Quando Tudo Isso Acabar, conto do autor inspirado no momento em que estamos passando. Você pode comprá-lo aqui.
Sinopse:
Pietro está preso num daqueles momentos terríveis de tédio, solidão e pessimismo chamado Quarentena.
Desde que foi decretado o período de isolamento, ele e Lana, a gata de sua amiga, tentam conviver em harmonia em um pequeno apartamento.
Será que no meio de tanta solidão há espaço para o amor?