Resenhas

Ano Um, de Nora Roberts | Resenha

Um vírus mortal. Mais da metade da população mundial dizimada. Uma nova realidade. Qualquer semelhança com a realidade é mera ficção? Desta vez, Nora Roberts se aventura numa distopia de tirar o fôlego em Ano Um, primeiro volume das Crônicas da Escolhida, publicado pela editora Arqueiro.

Na história, um vírus mortal é liberado e se alastra rapidamente ao redor do mundo dizimando boa parte da população mundial. Não há mais rede elétrica, o caos reina sem leis e sistemas de governo. Ao mesmo tempo em que a ciência e a tecnologia são colocadas em cheque, há o avanço da magia. Em todas as partes, pessoas descobrem novos poderes, outras percebem a evolução de habilidades já adquiridas. Mas, como há a luz, sempre há também a escuridão. E esses poderes podem cegar e transformar aqueles mais influenciáveis e suscetíveis. Fugindo dos que os caçam, Lana e Max resolvem sair de Nova York e buscar um lugar seguro. O mesmo fazem Chuck, Arlys, Fredinha, Jonah, Rachel e Kate. Cabe aos sobreviventes decidir que caminho irão seguir, pois essa escolha poderá determinar o futuro de todos. E uma profecia ancestral também poderá transformar as suas vidas para sempre.

Ano Um é diferente de tudo o que eu já li da Nora. E eu adorei isso. Depois de tantos anos e livros, ela realmente me surpreendeu. A obra foge completamente do que eu chamo de “padrão Nora Roberts” – não acho algo ruim, que fique bem claro, são apenas algumas características comuns que eu consigo identificar em seus outros trabalhos -, e eu achei isso bem positivo para quem, como eu, a acompanha há anos e também para os seus novos leitores. A escrita sagaz da autora, por vezes, me fez parar a leitura, já que a temática se aproximava – guardada as devidas proporções, obviamente – da situação que estamos vivendo atualmente. Os detalhes, as descrições do caos, do sofrimento, da luta, dos medos e da escuridão eram um soco no estômago. A construção da narrativa foi ágil, o que contribuiu para que a leitura me prendesse e me desse a sensação de que eu deveria respirar um pouco, em alguns momentos. Eu realmente não esperava e não estava preparada para alguns acontecimentos do livro.

Outro destaque foi o desenvolvimento simultâneo de mais de uma trama. São muitos personagens, cada um com a sua própria característica, seus dilemas e sua história. E, de certa forma, Nora conseguiu trabalhar bem todos eles. É claro que algumas tramas acabam perdendo espaço, à medida que outras evoluem ao longo do livro, mas eu fiquei satisfeita com o andamento e as construções dessas personagens e suas narrativas. Inclusive, desta vez, até um certo ponto, o protagonismo se dividiu entre eles. Eu gosto do conceito de luz e escuridão que permeia as obras da Nora. Dessa dicotomia e de como ela trabalha as nuances e vulnerabilidades do ser humano. De como o conceito de bem e mal pode se aplicar a todos. Aliás, a escuridão nesse livro e seus respectivos vilões, pra mim, foram alguns dos melhores que a autora já criou.

Eu poderia falar de Lana, Max, Chuck, Arlys, Fredinha, Jonah, Rachel e Kate, mas acho difícil citá-los sem me aprofundar demais. E qualquer coisa que eu disser pode vir a ser um spoiler, dadas as circunstâncias e estilo da obra. O que eu posso dizer é que surpreendentemente eu gostei de todos. Desse grupo, sem exceção. Adorei a maneira como cada um tem o seu papel a cumprir, suas especificidades e como, de alguma forma, todos acabam interligados. A dinâmica entre eles é emocionante.

A magia, como sempre, segue como pano de fundo da trama. Mas eu tive a impressão de que, com esse livro (não vou falar da trilogia no geral, porque ainda não li os outros dois títulos), Nora quis realmente trazer um lado mais humano. Mostrar como as nossas atitudes individuais influenciam no coletivo, especialmente em momentos de grandes mudanças.

Ela trabalhou muito o conceito de sociedade em meio ao caos, a incertezas e quebras de paradigma. Abordou questões como o preconceito e a intolerância com o que seria considerado “diferente”, “incomum”, “fora dos padrões normais”, conservadorismo e tirania. Nos fez refletir sobre a fragilidade dos sistemas e da própria democracia mediante palavras capazes de atingir as mais volúveis e frágeis mentes. E, embora seja tudo muito assustador se traçarmos um paralelo com a realidade, Ano Um também mostra o outro lado. Da solidariedade, da união, da força, da amizade, da sobrevivência e do amor. Por maior que seja o desafio, por pior que seja a situação, sempre existirão aqueles dispostos a lutar, a compartilhar, a ensinar, a sobreviver. Ano Um gera o medo, mas também compartilha a esperança.

Título: Ano Um | Autora: Nora Roberts | Tradutora:  Simone Reisner Editora: Arqueiro | Páginas: 400

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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