Uma Dor Tão Doce, de David Nicholls | Resenha
Eu sei que vai soar estranho, mas, para começar a resenha de Uma Dor Tão Doce, de David Nicholls, publicado no Brasil pela editora Intrínseca, preciso falar de uma outra resenha que eu escrevi. Na verdade, foi a primeira resenha que eu escrevi aqui para o Vai Lendo. O livro se chama Julieta, da autora Anne Fortier. É um dos meus livros favoritos porque, além da história muito envolvente que Fortier desenvolveu, o livro é uma releitura da famosa peça “Romeu e Julieta”, de William Shakespeare.
Naquela resenha disse que o meu autor favorito é Shakespeare e, por consequência, um dos meus livros favoritos é “Romeu e Julieta”, apesar de ser uma peça e não um livro. Por isso, toda obra que é baseada, inspirada ou é uma releitura desta peça de Shakespeare desperta automaticamente a minha curiosidade e, ser for uma boa obra, ganha também um espaço no meu coração.
Agora vocês vão entender o porquê desta introdução! Quando li a sinopse de Uma Dor Tão Doce, não imaginei que a narrativa teria a minha peça preferida de Shakespeare como pano de fundo. A sinopse presente na contracapa do livro é um pequeno extrato da obra e não dá nenhuma pista sobre este fato. Só depois de iniciar a leitura e conferir o título da obra em inglês (Sweet Sorrow) pude confirmar isso. Foi uma surpresa mais do que agradável que só fez com que eu gostasse da história ainda mais!
A obra conta sobre o verão de Charlie Lewis em uma cidadezinha na Inglaterra logo após a sua formatura no ensino médio. O próprio personagem afirma que ele não era um dos melhores alunos da turma nem tinha muitos amigos. Ele também diz que não foi bem no vestibular e seu futuro não lhe parece muito brilhante. Charlie representa, de uma certa forma, todos nós. A formatura é um momento cheio de emoções conflitantes. Estamos animados para seguir com nossas vidas e nos tornarmos adultos, mas, ao mesmo tempo, estamos apavorados com o que ainda está por vir.
Aos poucos, vamos conhecendo o passado de Charlie, que explica como ele chegou aonde chegou e como se apaixonar por uma garota faz com que ele participe de uma produção de “Romeu e Julieta” pela companhia de teatro local. A história também alterna entre o Charlie em sua vida adulta e o Charlie adolescente daquele verão.
A narrativa explora o potencial que existe em todos nós. Muitas vezes, achamos que não servimos para nada quando, na verdade, o nosso talento está só um pouco escondido, adormecido ou inexplorado. Todos os personagens da história estão tentando entender o que é essa vida e que caminho devemos trilhar. Claro, alguns têm uma visão do futuro melhor do que os outros, mas a lição que devemos tirar deste enredo é que nem tudo está perdido.
Este é o segundo livro de Nicholls que leio e o que eu gosto tanto na escrita dele é como suas histórias são simples. Gosto muito de como ele consegue capturar tantas facetas e complexidades das relações humanas, enquanto o enredo continua descomplicado. De como ele retrata a vida como ela é. Muitas vezes, não temos o nosso “e viveram felizes para sempre!”, mas a vida, ainda assim, merece ser vivida, e nos nossos momentos tristes temos a esperança de que dias melhores virão!
Uma Dor Tão Doce fala sobre um romance de verão adolescente que poderia ser repleto de clichês, mas não é. A história reflete de uma forma muito sensível aquele momento de transição que todos nós vivemos, em que deixamos de ser adolescentes e passamos a ser jovens adultos. Aquele primeiro amor que nunca esquecemos de verdade e que, como o título nos diz, quando a memória ressurge é uma dor tão doce.
Foi uma leitura muito gostosa que eu fazia todas as manhãs e que vou guardar com muito carinho na minha estante.
Título: Uma Dor Tão Doce | Autor: David Nicholls | Tradutora:
| Editora: Intrínseca| Páginas: 384