Coraline, de Neil Gaiman | Resenha
‘Coraline’: assustador e maravilhoso
Vou começar logo confessando que já li Coraline, de Neil Gaiman, algumas vezes antes desta. Mas, quando vi essa nova edição pela Intrínseca, eu não resisti e li de novo.
Foi quando percebi, assustadíssima, que não tínhamos uma resenha ainda. Que absurdo!
Então, cá estou eu para te falar sobre esse livro que mistura o maravilhoso e o aterrorizante de uma forma que só o Neil Gaiman parece ser capaz.
Não acho que podemos chamar Coraline de clássico — a primeira edição saiu em 2002 —, mas me parece muito difícil que alguém que tem o costume de ler, principalmente fantasias, nunca tenha ouvido falar nessa história, mesmo que ainda não tenha lido — e tem até o filme, que também é excelente. Mas essa é uma das histórias mais famosas de Neil Gaiman e, na minha opinião, com um toque muito pessoal, já que ele revelou que começou a escrever Coraline para a filha mais velha dele — na época que ele começou, ela era uma criança.
A história de ‘Coraline’
A trama gira em torno, obviamente, de uma menina chamada Coraline, que acaba de se mudar com seus pais para uma casa antiga. E o maior desafio dela parece ser sobreviver à mesmice dos dias com a sua família — seus pais não dão a menor atenção para ela.
Em meio às suas explorações pela casa, pelo terreno e na casa dos vizinhos muito excêntricos, Coraline descobre que, no canto de uma das salas de sua nova casa, há uma porta que dá para uma parede de tijolos. Pelo menos, de vez em quando. Porque, certa noite, Coraline acorda com um barulho estranho e com uma presença pela casa. Ela segue essa presença, que a leva até a suposta porta, que não dá mais para a parede de tijolos.
Ela leva para outro mundo. Um mundo espelhado, exatamente como o dela, só que bem mais legal.
Ou era o que ela pensava, porque lá também está a Segunda Mãe; uma mulher magra que tem o mesmo rosto que a mãe de Coraline, mas, no lugar dos olhos, ela tem botões.
E, cara, não dá para confiar em quem tem botões no lugar dos olhos. Fala sério, né?
Enfim, acho que já me prolonguei demais nesse resumo. Se quer saber quem é a Segunda Mãe, pode ler o livro — sério, lê mesmo, é legal.
Você pode até perguntar: Carol, a nova edição tem um gato preto em destaque na capa. Não vai falar dele, não?
Não. Vá ler o livro. O que eu posso dizer sobre ele é que ele é sagaz e que nunca mais olhei para um gato da mesma forma — sério, eles têm cara de quem sabe das coisas e, provavelmente, sabem mesmo.
Ler ‘Coraline’ com dez anos, e agora
Para todos os efeitos, eu diria que Coraline é, sim, um livro infantil — entre uns 10 a 14 anos —, já que a protagonista é uma criança, a história é narrada sob o ponto de vista dela e os próprios conflitos são um pouco mais infantis — embora eu, pessoalmente, ainda ache sinistro. Entretanto, é o tipo de leitura que é capaz de agradar tanto crianças quanto jovens e adultos — a própria velhaca aqui que vos fala é um exemplo, já que li esse livro três vezes.
Diante dessa declaração de amor, acho justo que eu diga por que gosto tanto dessa obra. Primeiro, é porque foi o primeiríssimo livro que li do Neil Gaiman, foi o primeiro passo para a minha paixão incondicional pelas histórias dele. Segundo, foi o primeiro “terror” que eu li — eu sei que o livro não é classificado como terror propriamente, mas eu tinha dez anos e a história mexe justamente com a coisa mais importante para a maioria das crianças, que é a família, então, me dá um desconto. Terceiro, é justamente a forma como Gaiman coloca a família e como ela muda depois dessa história; isso me fez ver muita importância em quem eu tinha ao meu redor — embora eu tenha olhado com certa desconfiança para a minha mãe, procurando por botões pretos no armário dela. Também tem o fato de que Gaiman consegue criar mundos extremamente interessantes. E, por fim, o livro ensina o que é a coragem e ele mostra como a Coraline é corajosa, como ela é capaz de ver o que importa realmente, mesmo sendo uma criança.
Acho que esse livro mudou bastante a Carol de dez anos. E eu o adoro por isso.
Nossa, essa resenha ficou bem mais pessoal do que eu planejei.
Nova edição da Intrínseca
Quanto ao trabalho da editora, essa edição — se eu não me engano, é a terceira versão em português — está simplesmente linda. A capa está maravilhosa, com cores muito bem escolhidas. O interior do livro não deixa por menos, todo trabalhado em roxo e preto, com artes exclusivas e lindamente ilustrado pelo artista Chris Riddell; as páginas estão com bordas roxas — eu adoro páginas com bordas coloridas e ainda vem com a fitinha maravilha!
Certo, surtei.
Enfim, o material está lindíssimo e já coloquei em destaque na minha estante, com flores ao redor.
Coraline foi um grande marco na minha trajetória como leitora. Essa foi uma das primeiras histórias que eu li, pela qual me apaixonei e que me fez querer continuar lendo e procurando por outras histórias maravilhosas — coisa que faço até hoje e que sempre me dá muita felicidade. E eu espero que, se você ler, sinta a mesma felicidade que eu.
Título: Coraline | Autor: Neil Gaiman | Ilustrador: Chris Riddell |Tradutora: Bruna Beber | Editora: Intrínseca | Páginas: 224