Os Diários Secretos de Charlotte Brontë, de Syrie James | Resenha
Quando a sua escritora favorita faz parte do grupo de autores que pertencem à história e não ao plano dos vivos, você pode querer buscar tudo o que já escreveram sobre ela para tentar saber um pouco mais como funcionava a sua mente. É com esse sentimento que eu imagino que Syrie James iniciou a romantização da biografia de Charlotte Brontë, Os Diários Secretos de Charlotte Brontë, publicado pelo Grupo Editorial Record.
Neles, nós encontramos Charlotte e seus irmãos lidando com o fato de que seu pai precisará contratar um ajudante na paróquia que administra por causa da avançada dificuldade visual proveniente de uma catarata. Assim, nós conhecemos Arthur Nicholls. Um pároco irlandês prestativo, mas um tanto grosseiro, que ganha a admiração de todos na comunidade, menos de Charlotte. Os Diários, contudo, não é uma mera história de cão e gato de romances de época. Ele, como a sua personagem principal, mostra as vivências de uma mulher que vive para mais do que a espera de um romance. Nós acompanhamos Charlotte Brontë pelas suas memórias mais especiais, através de suas sessões de escrita com as irmãs e de flashbacks no passado de momentos essenciais.
Syrie James já havia se aventurado a imaginar como foi a vida de uma célebre autora antes de Charlotte Brontë. Em As Memórias Perdidas de Jane Austen, ela parece ter se aventurado no romance por trás da escritora com bastante humor e sagacidade, como promete a sinopse – desse livro que ainda preciso ler. Da mesma forma, em Os Diários Secretos de Charlotte Brontë, Syrie penetra na mente da autora de Yorkshire de um jeito que é impossível não acreditar que esta não tenha sido a voz dela lá no século XIX. É um presente para os fãs de Charlotte, escrito de forma suave, mas sem tirar a força que a sua personalidade possui ou os momentos difíceis que integram a sua vida.
“Eu recebia cada novo dia repleta de animação e ansiedade, ávida por pegar o lápis e começar a trabalhar para descobrir o que meus personagens diriam e fariam em seguida. Estava feliz; sentia-me revigorada; era como se tivesse dormido por meia década e houvesse acabado de despertar. Como se tivesse vivido à beira da inanição durante anos e finalmente agora me sentasse diante de um banquete.”
No livro, nós conhecemos a mulher por trás dos clássicos com uma leitura fluída e apaixonante. Os Diários Secretos de Charlotte Brontë, no entanto, é um senhor calhamacinho. Minha recomendação é que, se tiverem a oportunidade, leiam no kindle. Fez muito bem ao meu processo de leitura desse livro. Esse é somente um aviso àqueles que temem os livros mais encorpados porque, tirando isso, é um livro para se devorar. Temos drama familiar, crítica social, romance e humor tudo na mesma família.
Além de conhecermos mais Charlotte – ou uma versão do que imaginamos que ela tenha sido -, podemos também ver como Anne e Emily podem ter sido. Três mulheres de personalidades tão diferentes que dividiam o mesmo entusiasmo pela literatura. Claro, suas diferenças iriam convergir em vários aspectos de suas vidas, inclusive a escrita. Esse é um dos pontos altos do livro – e exatamente como imaginei depois de tudo que li sobre elas.
Apesar de Os Diários Secretos de Charlotte Brontë ser um livro mais indicado para quem conhece as irmãs escritoras, eu realmente o indico para quem quer um drama familiar de respeito. E, aos fãs das irmãs Brontë, se preparem para um prato cheio para a sua imaginação.
Título: Os Diários Secretos de Charlotte Brontë | Autora: Syrie James | Tradutora: Flávia Neves | Editora: Record | Páginas: 528