Alma Mecânica – A História de uma Máquina, de Caroline Defanti | Resenha
‘Alma Mecânica’: trapaças, risos, reflexões sobre a vida… e a morte
Um Rio de Janeiro steampunk. Máquinas e pessoas convivendo em um mundo movido a engrenagens, repleto de figurinos exóticos e bondes a vapor. Neste cenário, Joca Delfin, um talentoso mecânico, cria Ava, uma máquina capaz de sentir, e revoluciona. A criação de um autômato com sentimentos desperta a curiosidade e a ira de vários grupos. Por décadas, a família Delfin é perseguida, o que é uma tortura para Ava – que, além do compromisso de proteger os seus membros, se vê numa crise existencial. Alma Mecânica – A História de uma Máquina, último lançamento da minha amiga e colaboradora do Vai Lendo, Caroline Defanti, é um livro repleto de ação, divertido e nos faz refletir sobre a vida. E eu te convido agora a mergulhar neste universo.
Steampunk
WFT? Quando a Carol me enviou a primeira versão de Alma Mecânica, eu não fazia a menor ideia do que era steampunk. Não vou me alongar aqui, até porque a própria autora fez uma postagem sobre steampunk aqui no Vai Lendo, explicando este mundo em que a evolução tecnológica teve uma pegada mais industrial…
Enfim, nunca tinha lido nada parecido e tive que atravessar esta barreira. Sair da minha zona de conforto. E não é que foi uma experiência pitoresca e interessante?
OK, foi esquisito ver o Rio de Janeiro e Niterói, lugares que eu transito, com uma nova roupagem. Cabelos coloridos, cartolas, sombrinhas, bem como bondes a vapor. Mas é curioso pensar em como seriam estas cidades se essa evolução tecnológica fosse outra.
No decorrer da leitura, a estranheza deu lugar à curiosidade. Uma das coisas que mais curto ao ler histórias é ver a capacidade dos escritores de deixar a sua imaginação levar. No fim, já estava super ambientado e completamente imerso neste universo. E, convenhamos, tem até um certo charme.
Tiro, porrada e trapaças
Gosta de ação? Alma Mecânica é um prato cheio. A perseguição aos Delfin deixa um rastro de sangue. Ava sabe brigar e, aliada à sua longa vivência, consegue driblar facilmente as pessoas e prevalecer as suas vontades. Ela é f***! Não mexam com ela (nem com nenhum Delfin)!
Cercada por vigaristas e gente sem escrúpulos, a trama a todo o momento tenta passar a perna no leitor. Não sabemos de que lado Ava está. Ela é muito ardilosa. Mesmo o livro sendo narrado em primeira pessoa, Ava não revela a sua real intenção e surpreende o público a todo instante. Ela é uma personagem ambígua e, confesso, essas são as mais interessantes.
Ava
A protagonista é uma heroína destemida. Sem muitas firulas. Ava é divertida, debochada e, digamos, com uma moral questionável. Adoro isso!
Para quem conhece a Carol, o humor de Ava é muito parecido. Em muitos momentos, eu a via na personagem.
Reflexões sobre a vida… e a morte
Alma Mecânica mescla toda a ação com as reflexões da protagonista. Ava é um ser eterno que procura o seu lugar no mundo, ao mesmo tempo que busca uma alma mortal.
Esta faceta mais introspectiva foi o que mais me cativou no livro. Não que eu não tenha me divertido com o resto. Pelo contrário, dei boas gargalhadas com Ava no meio da Baía de Guanabara. Entretanto, foi na parte reflexiva que pude observar a maior evolução no trabalho da Carol.
Isso sem falar na organização das ideias. A história mais enxuta colaborou para isso. Por mais que Alma Mecânica seja um livro mais objetivo, não é superficial.
O livro mais “Carol” até o momento
Como a autora indicou na introdução, este foi o livro mais pessoal dela, no qual conseguiu colocar no papel seus questionamentos e receios. Ficou bastante claro e bom de acompanhar. Sem ser cansativo.
Fiquei muito feliz com o resultado. Acompanhei parte do processo da execução de Alma Mecânica e vi toda a sua batalha, esforço e dedicação. Não só no texto, mas na formatação do e-book, na ilustração dos personagens – uma habilidade que ela está se empenhando e evoluindo muito nos últimos anos -, entre outras tarefas.
É muito difícil fazer uma análise crítica, ser imparcial, no trabalho de uma amiga. Até tenho uns detalhes para sinalizar que, na minha concepção, contribuiriam para um melhor desenvolvimento. Nada demais! Prefiro tratar em off, em uma conversa informal.
Toda sorte do mundo, Carol. Acredite, você está no caminho certo! Sucesso para o Alma Mecânica!