Resenhas

O Príncipe Cruel, de Holly Black | Resenha

Intrigas, jogo político, traições e uma coroa em disputa. Não, não estou de falando de Game of Thrones, mas, sim, da sua versão féerica. Porque, para mim, O Príncipe Cruel, primeiro volume da trilogia O Povo do Ar, de Holly Black, publicado aqui pela Galera Record, não deve quase em nada para a obra de George R.R. Martin – guardadas as devidas proporções, claro. E sinceramente? Eu amei.

Com apenas sete anos, Jude testemunhou o brutal assassinato de seus pais e ainda foi levada, junto com as suas irmãs, para o Reino das Fadas. Mas, ao contrário do que possa parecer, sua vida não foi um conto. Muito pelo contrário. Dez anos depois, Jude ainda luta e se esforça para se encaixar num mundo aonde humanos são pouco bem-vindos e desprezados pelos féericos. O que não é nada fácil, ainda mais quando ela resolve desafiar justamente Cardan, o príncipe caçula – e um dos mais cruéis – do Reino das Fadas. Jude quer o seu lugar na Corte, mas tudo tem consequências. E ela acaba se envolvendo numa trama repleta de conspirações do palácio. E, quando uma traição ameaça todo o reino, Jude irá se arriscar ainda mais com uma perigosa aliança, cercada por mentiras e por inimigos.

Olha, eu não sabia direito o que esperar deste livro. Sabia que tinha fadas, humanos e alguma intriga. Mas fui totalmente surpreendida com uma alta fantasia cheia de reviravoltas e personagens ambíguos e absolutamente bem construídos. Holly Black entrega tudo. Sangue, mortes, conspirações e desromantiza aquela visão quase imaculada que temos sobre as fadas. Aliás, eu gosto muito da exploração das características e personalidades dos féericos. Cada espécie com suas peculiaridades. Elfhame e suas tradições. Tudo muito bem elaborado e detalhado pela autora, que nos conduz a um mundo repleto de magia e muitas tramas.

Um dos pontos que eu mais gostei em O Príncipe Cruel foi justamente a construção de seus personagens. Suas motivações. Jude, por exemplo, é simplesmente fascinante. Marcada por uma tragédia, um trauma que provavelmente nunca irá superar, sua personalidade acabou sendo moldada pelo responsável por transformar a sua essência e a sua vida. Achei muito interessante a autora desenvolver Jude em cima dessa dicotomia. Dividida entre o amor e o ódio. Tentando se firmar num mundo que não a aceita e no qual, talvez, nunca irá se encaixar. Porém, é o único “lar” que ela conhece, pois também não se identifica com o mundo mortal, do qual foi levada ainda muito cedo. A culpa, o rancor e o medo acabam levando Jude a um caminho sem volta. E quem poderia julgá-la por suas escolhas e atitudes depois de tudo o que vivenciou e presenciou?

Ninguém. Pois, em O Príncipe Cruel, todos vivem em prol de seus próprios interesses. Ninguém é 100% bom ou mau. Longe disso. O jogo de poder é implacável e não poupa personagens. Todos estão envolvidos, de certa forma. Todos têm a sua parte no quebra-cabeça e, em algum momento, alguém é responsável por mexer uma peça no tabuleiro. Eu achei sensacional, porque você vive aquela expectativa do próximo movimento. De quem será? E o que isso acarretará para a história e para os demais personagens? A escrita de Holly Black segue o fluxo e não deixa a gente respirar. Quando você acha que as coisas estão começando a se acalmar, a autora mostra que pelo poder e pela coroa dos féericos vale tudo. E somos novamente tragados pela narrativa. É literalmente eita atrás de eita.

Mas e sobre Cardan? Como assim não falar sobre ele? Olha, posso dizer que, assim como Jude, Cardan também tem uma construção de arco muito interessante, mas ele ainda não me conquistou, não. E, sendo bem sincera, achei até um pouco irritante. Tem tanta coisa acontecendo em O Príncipe Cruel, são tantos segredos e revelações, toda a problemática de Jude, que, pra mim, neste livro, Cardan ficou em segundo plano (perdoem-me). Vamos ver como será nos próximos. Porque já estou ávida por O Rei Perverso. Não faço a menor ideia do que esperar. E é disso que eu gosto. Holly Black, sua mais nova leitora está pronta.

Título: O Príncipe Cruel Autora: Holly Black | Tradução: Regiane Winarski | Editora: Galera Record | Páginas: 322

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *