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Sim, Não, Quem Sabe, de Becky Albertalli e Aisha Saeed | Resenha

A primeira coisa que preciso alertar o leitor desta resenha é: Sim, Não, Quem Sabe fala sobre política. Sabe por que preciso alertá-lo? Porque infelizmente, no Brasil, a palavra política é carregada de significados ruins. Mas, Sim, Não, Quem Sabe mostra o lado da política que constantemente esquecemos: o lado de cuidar da comunidade, de se importar com a justiça. Mas acho que estou colocando a carroça na frente dos bois. O livro de Beck Albertalli e Aisha Saeed, publicado pela editora Intrínseca, é uma surpresa maravilhosa e vou te explicar o porquê. 

Jamie Goldberg é um jovem de 17 anos que é incentivado – quase obrigado – pela sua mãe e avó a trabalhar como voluntário durante o verão para a candidatura de Jordan Rossum, candidato a senador estadual. Ele até que não achou ruim, faz tarefas mecânicas numa boa. O único problema seria colocá-lo em um palco e pedir um discurso – exatamente o que sua mãe quer que faça para o bat mitzvah de sua irmã mais nova, Sophie. 

Em uma dessas tarefas, Jamie atropela uma pilha de tangerinas no Target ao se perguntar de onde conhece aquela garota que acabou de entrar. Maya Rehman só tinha ido até ali para ajudar sua amiga de infância, Sarah, a encontrar a lixeira perfeita para o seu quarto na faculdade. Mal sabia ela que encontraria seu parceiro de campanha. Após um evento local, Jamie e Maya percebem que foram amigos quando eram muito pequenos e são incentivados a trabalhar juntos, batendo de porta em porta para convencer o seu bairro extremamente republicano a votar em Rossum, o candidato democrata. É assim que Sim, Não, Quem Sabe começa e se transforma em uma história de amor, crítica e esperança.

Outro aviso que preciso dar é que tenho andado um pouco saturada de livros com personagens adolescentes. Acho que li muitos deles, um atrás do outro, e isso acabou me enchendo um pouco. Mesmo assim, resolvi pegar Sim, Não, Quem Sabe por ser da Becky. Depois de Com Amor, Simon, fico curiosa por todos os lançamentos dela (se você não se lembra, tem resenha de E Se Fosse com a Gente aqui no Vai Lendo também). E tudo o que eu posso dizer é: que bom que eu peguei esse livro.

Jamie e Maya constroem uma bela história de parceria, amizade e, bom, amor. Uma das coisas mais enriquecedoras, tanto do livro quanto da caminhada deles, é a origem dos dois. Maya é muçulmana e Jamie,  judeu. A campanha começa no meio do Ramadã, um feriado muçulmano muito importante, e Jamie aprende diferenças culturais que mudam sua forma de ver o mundo. Da mesma maneira que acontece com Maya com o bat mitzvah de Sophie. Duas culturas tão diferentes e tão bem inseridas no livro que se tornaram um dos pontos mais altos desta obra.

É óbvio, contudo, que a parte política é, por si só, um personagem. Jamie e Maya desenvolvem um sentimento de pertencimento e justiça muito grande durante a campanha de Rossum, para além de simplesmente se identificarem com o candidato. Eles desenvolvem senso crítico e derrubam a ideia de que adolescentes só ligam para os seus celulares ou eles mesmos. Ainda assim, o  livro dá uma palinha de como as redes sociais são importantes nas decisões políticas atualmente. Uma foto ou um vídeo pode virar a mesa a qualquer momento.

Além disso, traz também um debate muito importante sobre liberdade religiosa e para quem ela é defendida entre os políticos. Quando um projeto de lei que atinge diretamente a comunidade feminina muçulmana avança nas votações estaduais, Maya e Jamie fazem tudo o que podem para reverter a situação. E isso envolve aumentar a consciência política do bairro e adjacências. Para quem não sabe, a votação nos Estados Unidos não é obrigatória como aqui. As pessoas precisam querer votar e muitas necessitam ser convencidas da importância do voto a cada campanha, a cada eleição, para saírem de casa e fazê-lo. 

Nesta resenha, eu escolhi focar nos temas. Eu poderia ficar falando sobre como o livro é bem escrito ou como são desenvolvidos os personagens, mas acho que isso não é o principal aqui. Os temas abordados por Albertalli e Saeed são essenciais e a melhor propaganda do livro. Mas, para dar mais um gostinho para vocês, deixo uma citação e te confirmo: Sim, Não, Quem Sabe é o melhor livro da Becky. 

“- Uma pessoa não pode consertar tudo sozinha – diz meu pai. – Todas as nossas ações são pequenas gotas que se transformam em uma onda de mudança. É assim que a maioria das mudanças acontece. Pessoas comuns fazendo tudo o que podem.” – pág. 165

Título: Sim, Não, Quem Sabe Autoras: Becky Albertalli e Aisha Saeed | Tradução: Viviane Diniz | Editora: Intrínseca | Páginas: 368

Apaixonada por música, cinema, séries e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte, mas por enquanto escreve sobre o que leu, viu e gostou no Anatomia Pop.

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