Degustando Palavras: a deliciosa imersão no universo de Frida Kahlo
Artista mexicana foi o tema do primeiro encontro de uma série que promove uma saborosa mistura de arte e literatura
*Por Carolina Santoian e Juliana d’Arêde
Ao longo dos próximos encontros, que acontecem todas as quartas até o dia 28 de março, Ana irá revelar curiosidades deliciosas sobre alguns dos maiores nomes da literatura mundial e suas experiências além da literatura. Lados e aspectos que desconhecemos de nomes como Fernando Pessoa, Frida Kahlo, Leonardo Da Vinci, Simone de Beauvoir e Agatha Christie. E o Vai Lendo, um dos parceiros oficiais do evento, trará toda a cobertura para vocês se deliciarem!
Para Ana, o principal desafio é justamente o processo de pesquisa dos novos personagens e passar todas as informações de uma maneira leve para as pessoas.
“Para mim, como pesquisadora de comidas do século XVIII, XIX, falar sobre isso é mais fácil”, contou a historiadora ao Vai Lendo. “Mas, neste caso do Degustando Palavras, é a curadoria da Michelle Strzoda, ela sempre chega com novos desafios, como Simone de Beauvoir, Agatha Christie… Então, é um desafio agora. São personagens novos que eu tenho que estudar para trazê-los para o público. Mas eu sou uma professora nata e eu gosto de falar sobre isso. E tem uma frase do Mia Couto que fala que cozinhar é um ato de amor, então, quando você fala de comida, fala de cozinha, fala de arte, fala de personagens, é a fórmula para ter sucesso. Todo mundo come, todo mundo gosta de falar de comida e de arte, de literatura. Uns gostam mais de arte, outros gostam mais de literatura, mas sempre de uma maneira leve você consegue levar conhecimentos para as pessoas. De uma maneira leve eu falei de coisas muito agressivas. Eu brinco que é o meu jeito. Como eu sou portuguesa, eu tenho um ar mais formal, mas, quando eu começo a falar eu sou muito brincalhona, é a minha maneira de eu me comunicar e conseguir chamar a atenção. Eu não sou pretensiosa, mas, quando eu dou uma palestra, eu tenho a obrigação de pelo menos deixar alguma coisa, de instigar as pessoas a quererem conhecer mais esse personagem porque, em duas horas, eu não vou conseguir fazer isso. Mas eu preciso, como comunicadora, como professora e como palestrante instigar as pessoas a se interessarem pelo assunto. E falando pelo ponto da comida é muito mais fácil”.
E, de fato, sem saber muito o que esperar, fui surpreendida por uma mergulho na vida da Frida, tema do primeiro encontro. Em apenas duas horas, Ana Roldão conseguiu revelar facetas da artista que eram desconhecidas, até então, para mim. Mais do que apenas falar da biografia da pintora, Ana conseguiu montar uma narrativa cheia de vida com base nos quadros de Frida. As obras, guiadas pela palestrante, iam revelando a artista e as suas histórias.
A gastronomia era um ponto essencial nessa narrativa. Me chamou a atenção uma fala da Ana durante a palestra: “muitas vezes, as pessoas pensam que a cozinha é um lugar de posição inferior, que não é frequentada por pensadores, artistas”. E ela desconstrói isso, colocando a cozinha como um lugar de memória e afeto. No caso da Frida, ela passava horas preparando banquetes (!!!). O banquete especial era feito no Dia dos Mortos, pois a pintora tinha um trato com a morte: ela faria sempre uma oferenda, um banquete no Dia dos Mortos e, assim, pediria para continuar viva. O mais assustador foi saber que, quando ela decidiu deixar de preparar o banquete e quebrar o trato, morreu um pouco depois.
“Às vezes, eu tenho medo de ser um tanto informal”, confidenciou Ana. “Porque, quando eu chego para dar uma palestra em Portugal, é outra coisa completamente diferente. E eu sempre acho que a minha palestra acadêmica é muito chata. Eu falei de assuntos para pensar e para chamar a atenção das pessoas, coisas, às vezes, até mais chatas. Eu falei de cronologia, de terras, de formação e, quando a gente vai dar aula, pensa “ai, na faculdade, nossa, aquela professora era chata!”. Então, eu tento sempre ser o contrário, não aquela professora que cansava muito na faculdade”.
Por tudo o que foi vivenciado nesta quarta-feira, é mais do que correto afirmar que essa experiência foi tudo, menos chata. Ana realmente conseguiu abordar diversos temas: a morte na cultura mexicana e em várias culturas, os diversos problemas de saúde que Frida passou e a ligação direta desses problemas com suas obras. Foi empoderador perceber como artista utilizou-se de tudo aquilo que poderia ser um “defeito” nela (como o seu problema na perna) e transformou em arte, em uma marca autêntica de sua obra (“Pés, para que os quero, se tenho asas para voar?”).
E quanto ao público? Bem, melhor que eles falem por eles mesmos.
“É uma coisa totalmente nova (para mim)”, declarou Regina, uma das participantes. “Inclusive, o título ‘Degustando Palavras’ já tinha despertado o meu interesse. Instiga, né? Muito interessante essa mistura com a história, o artista, ele retrata o momento dele, o tempo dele na obra dele, e esse detalhe culinário que eu jamais imaginaria da Frida Kahlo. Eu estou muito satisfeita, a professora é sensacional”.
Quer uma degustação do próximo? Confira abaixo: