Degustando Palavras: uma viagem saborosa à mente brilhante de Fernando Pessoa
Misturando arte, literatura e gastronomia o ‘Degustando Palavras’ trouxe para o segundo encontro as memórias e curiosidades afetivas e gastronômicas do poeta
Uma celebração portuguesa com certeza. Assim foi o segundo encontro da nova edição do Degustando Palavras, série de eventos que reúne arte, literatura e gastronomia e acontece até o dia 28 de março no Instituto Estação das Letras, no Rio de Janeiro. E não poderia ser diferente tendo o célebre Fernando Pessoa como tema desta quarta-feira (28), levando os presentes a uma experiência visceral e sensorial pelas ruas, cafés, poesias, cartas e personagens do início do século XX. O Vai Lendo é um dos parceiros oficiais do evento e traz toda a cobertura para vocês, como na estreia, com o incrível debate sobre Frida Kahlo.
Que dirá a historiadora Ana Roldão, responsável por conduzir os encontros – com a curadoria da editora Michelle Strzoda. Nascida em Portugal, Ana literalmente se sentiu em casa ao falar da terrinha. E a intimidade e o tom pessoal foram tantos que causaram comoção nos participantes. Muitos, inclusive, aplaudiram e se emocionaram bastante, ao longo da conversa, que teve ainda leitura e declamação de textos e poesias.
“Fernando é um dos escritores mais emblemáticos de língua portuguesa”, declarou Michelle. “A Ana também falou um pouco dos seus heterônimos (ele tinha mais de 70!!) e das preferências e memórias gastronômicas de cada um, suas personalidades. Foi um papo que abrangeu a vida e a essência do Pessoa, muito além das poesias e dos hábitos, mas também das cartas que ele trocava com a namorada e da época em que ele se mudou com a família para a África do Sul, onde ficou por 10 anos. Ele perdeu o pai aos cinco anos, e o padrasto era um homem da diplomacia e foi para a África levando o Pessoa e o resto da família, quando ele tinha oito anos. Mas, o que ninguém também sabe, é que ele criou o seu primeiro heterônimo aos seis anos! Ele era muito precoce. O fato de ele perder o pai lhe deu outra perspectiva de mundo. Eu acho que a literatura para ele foi uma espécie de alavanca. De ele precisar ser alguém para se sustentar, se virar”.
Com tantas novidades e curiosidades, quem esteve presente no evento não apenas descobriu que Pessoa era poliglota e se alfabetizou em inglês, como também algumas das suas preferências. Como o curry, por exemplo, seu tempero favorito. Mas, apesar de toda a sua genialidade e da riqueza de palavras, Pessoa preferiu dar atenção apenas aos textos, em detrimento da própria saúde. Ana contou também que o poeta morreu aos 47 anos, devido a uma crise hepática, em decorrência da bebida e da má alimentação, regada a muito ovo mexido, fritura e café.
Felizmente, para nós, mesmo com uma morte, digamos, prematura, Pessoa ainda tem muito o que nos mostrar e encantar. Tanto que, até hoje, a sua obra ainda não foi totalmente publicada. E, no que depender de Ana, Michelle e do Degustando Palavras, faremos ainda muitas viagens à Lisboa e às páginas. Ah, e qual foi a degustação surpresa? Adivinhem! Pastel de nata, é claro. O arroz doce com canela, doce preferido do poeta, já havia sido oferecido em edições anteriores do evento.
E o próximo encontro promete trazendo toda a força feminina com as curiosidades e memórias de Simone de Beauvoir! Não percam!