Battle Royale, de Koushun Takami | Resenha
‘Battle Royale’: uma trama cruel, sangrenta e alucinante
Você já ouviu falar em Battle Royale?
Não, não estou falando daquela disputa onde um participante luta contra todos e, no fim, apenas um vence. Na verdade, tem um pouco disso também, mas o que eu quero realmente trazer para vocês é o polêmico livro de Koushun Takami, Battle Royale, publicado aqui no Brasil pelo selo Globo Alt, que acabou sendo preterido pelo Japan Grand Prix Horror Novel, concurso literário voltado para a ficção de terror. Chocante, né? Já dá para imaginar o que vem pela frente…
Pois é, um verdadeiro banho de sangue com corpos dilacerados e requintes de crueldade.
A cada página, é possível sentir a dor dos personagens. Medo. Agonia. Desespero. Ufa! A história retrata um programa (competição) organizado pelo fictício Estado totalitário da República da Grande Ásia Oriental, onde jovens de uma mesma turma escolar são colocados em uma ilha para lutar, até que apenas um sobreviva. Cruel, não? E pior: para sobreviver é preciso matar seus colegas de classe!
Mas espera aí! Já vi isso antes! Essa história de jovens se matando…
Sim, as comparações com a trilogia Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, são inevitáveis. Inclusive, a semelhança entre as obras foi o que atiçou a minha curiosidade para Battle Royale. Até porque, sabia dessa abordagem, digamos assim, “mais pesada” da trama japonesa. Não vou entrar no dilema de qual é a melhor ou a questão de plágio – tendo em vista que a obra de Takami foi publicada antes, em 1999. Honestamente, gosto das duas. São leituras frenéticas – daquelas difíceis de largar – que cumprem bem a sua proposta.
Falando de Battle Royale, objeto desta resenha, é muito interessante ver o aprofundamento de certos temas: o foco na maldade humana, a dificuldade de lidar com uma situação de barbárie, de ter que ver amigos mortos (assassinados por pessoas que, até então, você considerava colegas de classe), de ser obrigado a matar para sobreviver. Em quem confiar? É possível jogar em equipe? Outro ponto crucial da trama são as cenas de ação e de luta: muito bem detalhadas, prato cheio para quem curte livros que escorrem sangue. Também tem o fator surpresa, do tipo “já matou esse personagem? Achei que ele fosse chegar mais longe!”.
Se o programa governamental é perverso para os alunos recrutados, o autor mostra seu sadismo torturando os leitores com uma contagem regressiva, no final de cada capítulo, anunciando quantos participantes ainda restam na disputa. Confesso que, no começo da leitura, fiquei na dúvida se isso era bom o ruim. Afinal, sempre que ia dar uma olhadinha para saber quanto faltava para terminar um capítulo, esbarrava na informação. DROGA! Mas, se por um lado a contagem pode ser considerada um spoiler, depois você nota que é um artifício para te prender na leitura. Sempre que tinha uma baixa, sabia que ia ter batalha e não conseguia me segurar; lia alucinadamente.
Como podem perceber, a carnificina é grande! Até porque cada edição do programa tem 44 participantes, número dos estudantes de classe. Falando nisso, admito que no começo fiquei um pouco atrapalhado com a quantidade de personagens e nomes japoneses (alguns eu nem sabia se eram masculinos ou femininos). Mas, assim que a competição começou, ficou mais fácil identificar quem era quem e a sua função na trama.
Apesar de estar completamente envolvido na leitura de Battle Royale, fiquei um pouco receoso de o autor não ter um argumento plausível para justificar a realização do programa. Até porque, não faz sentido, a priori, tamanha brutalidade, a não ser para mostrar o poder de um governo ditador sobre a sociedade. Mas já adianto que não é só isso. Inclusive, marquei a passagem que indica essa explicação. E confesso que refleti bastante sobre esta razão, que corrobora para amarrar a narrativa num desfecho, por incrível que pareça, motivador.
Sei que o público de Battle Royale é muito restrito pela violência exacerbada. Não é todo mundo que vai ter estômago para ler (e, nestes casos, nem recomendo). Porém, no meio de toda a carnificina, ele mexe muito com alguns ideais, nos faz refletir sobre diferentes aspectos da sociedade e acaba conquistando um lugar especial em nossas prateleiras (e corações – por quê não?).
Nota: ‘Battle Royale’ foi lançado em 1999, cercado por muita polêmica – vendendo mais de 1 milhão de exemplares. Ganhou adaptações para o cinema e para os mangás, bem como serviu de inspiração para jogos de videogame.
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