Resenhas

Sem Lugar No Mundo, de Françoise Frenkel | Resenha

‘Sem Lugar No Mundo’: um relato para nos ensinar e emocionar

Os horrores da Guerra. A luta, a resistência, o sofrimento, a sobrevivência. Difícil encontrar palavras para descrever as atrocidades e o período de terror que viveram as pessoas obrigadas a deixar suas pátrias, suas famílias. Tudo pela intolerância, pela tirania, pela ignorância. Só mesmo quem viveu para contar. Porque a história não pode ser esquecida. Essas pessoas não podem ser esquecidas. E felizmente a editora Bazar do Tempo nos traz mais um relato importante, duro e emocionante desses tempos sombrios com Sem Lugar No Mundo – Relato de uma Livreira Judia em Fuga na Segunda Guerra Mundial, de Françoise Frenkel.

Livreira judia e de origem polonesa, Françoise narra, em primeira pessoa, a sua jornada, desde a abertura de sua livraria em Berlim, no início dos anos 1920, até sua fuga desenfreada para a França, para fugir das perseguições do governo nazista alemão, na década de 1930. Porém, ela logo percebe que Paris não seria segura, tendo sido apenas uma das inúmeras escalas que Françoise encarou para escapar da deportação e posteriormente a morte.

Sinceramente, sempre achei muito difícil avaliar relatos pessoais, biografias e afins. Quem sou eu para avaliar esse tipo de conteúdo, uma vez que ele é verídico? Como eu posso avaliar o que cada uma dessas pessoas passou? Nesses casos, costumo me ater à forma como a história é contada. E François Frenkel me pegou de jeito. Que livro é Sem Lugar no Mundo. Que narrativa forte, angustiante. Somos completamente tomados pelo desespero e pela coragem e determinação arrebatadoras da livreira. E, para nós, leitores compulsivos e apaixonados, este relato é quase visceral. A começar pela paixão e pela lealdade de Françoise aos livros, à literatura, à sua livraria. Que mulher impressionante e admirável!

No momento em que ela resolve, a despeito da época, das dificuldades e do preconceito, se impor para realizar o sonho de abrir a primeira livraria francesa em Berlim, já fui completamente fisgada. É impossível não se envolver em seu relato. Françoise era destemida. Depois, com a Segunda Guerra iminente e o início das perseguições aos judeus, ela nos leva a uma sombria e aterrorizante viagem no tempo, a qual narra com detalhes tão minuciosos que chega a sufocar. É muita dor, muito sofrimento, desespero. Muitas tentativas, muitas frustrações e decepções. Não consigo nem vislumbrar nem sequer imaginar esse período. É algo que me corrói por dentro. Me impressiona. Meu pavor só não é maior do que a admiração, o respeito e o orgulho – se é que tenho o direito de sentir isso – por essas pessoas que resistiram, que sobreviveram e também, principalmente, pelas que lutaram, mesmo sucumbindo.

O relato de Françoise é verdadeiro, objetivo, porém, sensível e absolutamente necessário. Que mulher, que história! Não consigo expor mais detalhes da obra, pois só lendo mesmo para começar a ter uma dimensão de tudo. E eu não gostaria de tirar essa experiência dos próximos leitores. Até porque, seria uma lástima não aproveitar todo o rico material fornecido pela Bazar do Tempo, desde cópias dos documentos até declarações oficiais, no fim do livro. Tudo completamente fascinante! O que eu posso afirmar é que Sem Lugar No Mundo é mais uma daquelas obras importantes para manter a história viva. Para manter pessoas como Françoise vivas, pois, assim como os livros, elas são eternas e ainda têm muito o que nos ensinar.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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