Resenhas

Eu Perdi o Rumo, de Gayle Forman | Resenha

‘Eu Perdi o Rumo’: aquele livro que toca a alma despretensiosamente

Já ouviu falar que a gente tem muito mais facilidade de conversar sobre coisas pessoais com um estranho do que com pessoas próximas a gente? Parece que os muros, barreiras e medos se desfazem e a necessidade de desocupar as costas, cansadas de carregar tanto peso dos problemas e segredos, fala mais alto e lá está você, contando os detalhes da sua vida íntima para aquele conhecido que fez o fundamental contigo e você não vê há dez anos. Ou quem sabe a secretária de um consultório médico no qual você está indo pela primeira vez. Em Eu Perdi o Rumo, publicado pela Editora Arqueiro, Gayle Forman nos apresenta a três jovens que precisavam – e muito – dissolver os nós de tensão das costas e da mente e acharam um no outro mãos hábeis para desatá-los.

Freya é um fenômeno musical da internet que está prestes a gravar o seu primeiro álbum. Na semana em que deveria estar no estúdio, no entanto, sua voz some. Toda vez que tenta cantar, a música soa mais como um estrangulamento do que uma bela melodia. Sua mãe/agente está desesperada, seu produtor/responsável pela gravadora está perdendo a paciência e Freya está sem rumo.

Harun é um bom filho. Responsável, amável, inteligente. Sua família de origem paquistanesa não podia estar mais orgulhosa. Ele, contudo, não podia estar sofrendo mais. De coração partido, Harun tem que lidar com a perda do amor de James e pela constante luta em manter a sua homossexualidade em segredo.

Nathaniel era um menino prodígio, bom nos esportes e muito popular. Em casa, era querido e cuidado pela avó e via em seu pai o seu melhor amigo. O problema é que seu pai vivia em constante desequilíbrio, seu humor variava bruscamente e nunca estava com os pés no chão. Cada vez mais sozinho, Nathaniel vai parar em Nova York para reencontrá-lo e acaba sendo nocauteado por Freya, que desaba de uma ponte no Central Park em cima dele.

Auxiliados por Harun – que vê na cantora sua chance de reatar com o namorado, seu super fã -, os três passam um dia juntos, revelando o quanto precisavam de sua companhia e instigando uma coragem que nem sabiam que tinham, mas precisavam ter. Com uma escrita suave e precisa, Forman nos guia pelas 24 horas em que os três dividem medos, confiança, risadas e lágrimas de maneira espetacular. Embora não seja um livro eletrizante, do tipo que você precisa desesperadamente saber qual o próximo passo dos personagens, as páginas de Eu Perdi o Rumo passam com uma facilidade incrível.

Sem atrapalhar a leitura em nenhum momento, os problemas dos três protagonistas são elaborados de forma um pouco confusa, como se o texto estivesse tão perdido ou tão em dúvida quanto eles. Freya, Nathaniel e Harun misturam o dia do presente narrativo com as lembranças e motivos que os levaram a estar ali, daquele jeito, imersos em um novelo emocional de fios embaraçados. Mas não se preocupe! A maioria das coisas faz sentido no final. Não tudo, porque a vida não entrega todos os seus porquês nas nossas mãos, mas a maior parte.

Freya olha para Harun e depois para Nathaniel. Ao contrário da mãe ou de Hayden, não acredita em nada relacionado ao destino. No entanto, naquele momento, não é difícil acreditar que os três estavam destinados a se conhecer.

Os três são tão diferentes que só mesmo o acaso para colocá-los juntos nessa jornada de coragem. Ao mesmo tempo, são tão complementares que seria um pecado que o destino não agisse como agiu. O dia que viveram juntos, com certeza, ficará marcado para toda a vida. Não só na deles, como na nossa também. Eu Perdi o Rumo é aquele tipo de livro que fala com a nossa alma despretensiosamente e, no meio das caminhadas, conversas e memórias de Freya, Harun e Nathaniel, refletimos sobre os nossos próprios rumos, enquanto os jovens tentam achar os deles. Afinal, quem nunca perdeu o rumo?

 

Apaixonada por música, cinema, séries e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte, mas por enquanto escreve sobre o que leu, viu e gostou no Anatomia Pop.

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